Saúde & Bem-estar

Acolhendo “ele”, o homem ferido pelo patriarcado

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Créditos: DR

A inserção feminina no mundo há muito é ditada pelo confronto entre “eles” e “elas”. Não deveria ser assim, mas ao longo dos anos, construiu-se uma que tem como base a superioridade masculina em detrimento das mulheres. Considerando esses dois lados, hoje eu gostaria de entrar no terreno oposto, apenas como uma observadora. Não sei se minhas impressões estão corretas ou se alguém compartilha das minhas ideias, mas aqui vai um ponto a entrar na roda da discussão em torno do patriarcado. Primeiramente, quero ilustrar com os fatos que me fizeram refletir sobre o assunto.

Semana passada, um cantor e compositor da MPB contemporânea, lançou uma música nova que, basicamente, fala da masculinidade tóxica.

Eu achei interessante o conteúdo da música, aliás, fazendo um parêntese, mais do que o prazer de ouvir uma bela melodia, eu gosto mesmo é de canções que me instigam a desvendá-las. Pois bem, a música trata de como o patriarcado construiu uma sociedade com homens que mais parecem máquinas. Algumas regras devem ser seguidas: nada de mostrar sensibilidade, emoções, senão será considerado feminino demais (como se isso fosse algo ruim); pornografia tem que ser consumida como requisito para se tornar viril e disponível a qualquer hora; não basta ser macho, tem que ser o macho-alfa, o líder do bando, o melhor dos melhores. Essas e outras regras condicionam o homem a ser um prisioneiro engessado nessas amarras psicológicas e a fazer parte atuante nesse sistema repressivo. No entanto, por serem antinaturais, essas imposições causam um acúmulo de energias negativas e contraditórias que transformam o homem numa bomba relógio ambulante. E, cedo ou tarde, esse homem acaba extravasando essa negatividade acumulada em comportamentos abusivos/violentos. Hoje em dia se fala muito em relacionamentos abusivos e eles advém maioritariamente de homens que exercem abuso e violência doméstica em suas companheiras, resultando em um número alarmante de feminicídios, principalmente no Brasil. Para mim, essa tragédia é reflexo da formação machista a que os homens são submetidos e que propagam de geração em geração.  Nesse ponto, um outro parêntese – mulheres também são propagadoras do machismo. Mas, esse é um tema para outro dia.

Voltando à música do Tiago, uma amiga fez um comentário, dizendo que o cantor “ é mais um macho sendo ferido pelo próprio patriarcado que eles criaram”. É um argumento plausível e forte. E eu refleti sobre isso. Senti uma mágoa compreensível vindo dela, que deve ter passado, assim como eu e tantas outras mulheres, por abusos profundos do parceiro. E eu também tenho essa mágoa. Mágoa essa que, se for repetida e frequente, nos torna, realmente, adversários em campos opostos.

Mas, será que não devemos selar a paz com alguns deles que estão finalmente despertando e entendendo o quanto esse sistema é falido? Será que não devemos olhar com bons olhos o fato de que alguém famoso ou não, deu uma chacoalhada no machismo e nos motivou a discutir, criticar, repensar, mexer na ferida?

A arte tem esse papel, não é mesmo? O papel de nos fazer refletir e muitas vezes de nos causar desconforto! E mesmo o Tiago, sendo um homem ferido pelo próprio patriarcado que “eles” criaram, a gente precisa abraçar esse “ele” que propõe uma mudança!

E, com isso, encerro minha observação do campo oposto ao meu, sentindo a necessidade urgente de que cessem as delimitações, oposições e que todos, homens e mulheres, procurem vencer juntos o desafio que é viver.

Adriana Marques/MS

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