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Viver para trabalhar… Ou trabalhar para viver?

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É uma questão cuja resposta parece não gerar consenso. Se para uns o mais importante é ter um trabalho que lhes garanta o sustento da família ou até que possibilite uma vida mais folgada em termos financeiros, para outros o foco está na realização profissional.

Mas, afinal, de que é que se reveste este conceito nos dias que correm? Do que é que realmente precisamos para sermos felizes naquilo que fazemos? Mais uma vez, a resposta não é facil e muito menos consensual, tendo em conta que os objetivos profissionais de cada trabalhador podem variar… e muito.

Para além da questão pessoal e financeira, parece haver um outro fator que pode exercer enorme influência nas escolhas de cada um, no que à escolha da carreira profissional diz respeito: a sociedade.

As expectativas e pressões sociais ligadas à escolha de carreiras tidas como mais prestigiantes, como a medicina, a engenharia ou o direito, por exemplo,ou até o enviesamento provocado pela (errada) ideia de que determinadas funções apenas podem ser desempenhadas por homens ou mulheres podem de facto limitar – e muito – as opções de escolha de profissão.Já para não falar, é claro, das claras diferenças no acesso à educação por parte de diferentes camadas da população.

Dito isto, o que será que prevalece nos dias de hoje – a realização profissional… ou o conforto financeiro? Bem sabemos que sonhos todos temos… mas teremos a coragem e capacidade de, por eles, abrir mão de outros importantes fatores? À conversa com o jornal Milénio Stadium, o psicoterapeuta Tiago Souza relembra que, mesmo num momento de crise – seja ela finaceira ou de valores pessoais -,“o trabalho por si só não deve ser fonte de realização”.

Milénio Stadium: De que importância se reveste, nos dias de hoje, a realização profissional?
Tiago Souza: Nos dias de hoje, com todos os avanços tecnológicos e sociais, mas também com muito mais demandas por performance e produtividade, vemos uma tremenda mudança nos padrões que definem a realização profissional. Existem muito mais opções de carreiras, mas a sociedade vive uma crise na sua relação com o trabalho. Não há mais a dedicação, por parte de funcionários ou empregadores, de se “vestir a camisa” de uma empresa ou dedicação por muito anos em um só cargo. O velho dilema de “viver para trabalhar” ou “trabalhar para viver” está de volta, fazendo que muitas pessoas estejam reavaliando o que as satisfaz profissionalmente. É um momento de crise.

MS: Embora não seja uma situação exclusiva dos tempos em que vivemos, muitas pessoas até acabam por trabalhar na área que desejam, mas esse trabalho não lhes dá os rendimentos que necessitam para proporcionar à família as condições que desejavam. Poderão estas pessoas ser realmente felizes nesta área da sua vida?
TS: Isso depende muito do foco e do sentido que cada pessoa dá ao que lhe faz mais feliz. Hoje em dia é muito difícil ser ao mesmo tempo feliz profissionalmente e almejar um patamar de sucesso que pode não ser realista. Afinal, será que as condições que se deseja alcançar estão acima das nossas possibilidades, e será que estamos colocando ideais de sucesso e satisfação em conquistas materiais que não são feitas para nos nutrir interiormente? Esta também é uma crise, mas uma crise de valores. Em que depositamos a nossa felicidade? E se não pudermos alcançar ambos, satisfação pessoal e profissional, o que será de nós? O trabalho de nossos sonhos pode nunca chegar, mas isso é razão para nos deixar infeliz e não realizado? Refletindo nestas questões, podemos deduzir que não se pode exclusivamente colocar todos os nossos desejos de realização no trabalho, e é esse o período em que vivemos. O trabalho por si só não deve ser fonte de realização.

MS: Por outro lado, não raras vezes a questão financeira sobrepõe-se ao gosto pela atividade realizada. Que impacto é que isto pode ter na produtividade desta pessoa na empresa para a qual trabalha?
TS: Esta é uma questão muito séria, porque mais uma vez a sociedade em que vivemos nos “vende” uma felicidade e uma realização muito atrelada ao sucesso financeiro, muitas vezes inatingível para a maioria de nós. Quando a necessidade financeira genuína, pelo nosso sustento e o sustento da família, se sobrepõe ao gosto pela atividade, não raro vemos uma perda de interesse e performance. No entanto, as pessoas que primam pelo sustento daqueles que amam encontram uma razão para manterem sua ocupação. Por outro lado, quando o que se quer é simplesmente o desejo pelo dinheiro, é comum que esses funcionários migram de cargo a cargo, ou posição a posição, porque o foco é o dinheiro. De qualquer modo, o impacto vai ser notado, mais cedo ou mais tarde. Na verdade, o que se vê hoje são muitas pessoas questionando se essa questão financeira é mesmo o mais importante.

MS: Que tipo de consequências podem advir de se viver num mau ambiente de trabalho ou até mesmo de se trabalhar em algo que não se gosta?
TS: As consequências são potencialmente devastadoras, principalmente para a saúde mental. Existem distúrbios como a síndrome de burnout e a “compassion fatigue”, que são em parte decorrentes da sensação de sobrecarga, da perda de sentido pelo que faz e pela mecanização da ocupação. Quanto mais nos distanciamos do que nos satisfaz, mais nos sentimos sem rumo, norte ou sentido. Em certos casos, a própria depressão e problemas de dependência química são sintomas da convivência em ambientes profissionais tóxicos.

MS: Com a conjuntura atual, o poder das redes sociais e dos próprios meios de comunicação, poderá a sociedade ser influenciada a seguir determinados caminhos profissionais?
TS: Isso já acontece há muito. Desde o advento da mídia, existe o marketing de massa. Vende-se felicidade embutida em certas profissões, cargos, posições de destaques e sucesso. Inclusive a explosão de procura por cargos na área tecnológica é fruto dessa influência, como se fosse o trabalho “do futuro”. O que é imperativo, para todas e todos nós que dependemos de ocupações para nos sustentar, é nos conhecermos e desenvolvermos nossas aptidões de maneira que possamos contribuir com a sociedade, nos realizarmos na medida do possível, e nos imunizarmos contra a venda de felicidade que não condiz com nossas verdadeiras aspirações pessoais e profissionais. A nossa realização profissional está intimamente ligada a quem somos, e ao sentido que damos para nossas ocupações. Nosso trabalho é um reflexo de nosso mundo interior.

Inês Barbosa/MS

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