Temas de Capa

Vera Esteves

Vera Esteves

 

“Não é fácil, é muito trabalho, é muita responsabilidade. Têm que se dedicar às pessoas se realmente querem envolver-se, têm que abdicar de muita coisa para poder dar mais de si na comunidade, o que se torna tudo um pouco cansativo. E depois é assim, os jovens de hoje têm novas ideias. E às vezes as pessoas de mais idade não estão a ver aquilo ou já pensam que já estão a levar as coisas para outro sítio e os jovens acabam por desanimar. Quando isso acontece acho que é triste.”Vera Esteves, 46 anos

 

Clube a que estás associada
Associação Cultural do Minho de Toronto. Nenhum cargo, só vontade de ser voluntária.

Fim de semana típico nos teus 20/30 anos
Tinha 13 anos quando aqui cheguei. Mas quando tinha 20 anos, ia às festas portuguesas quando podia, mas não estava muito ligada à Associação Cultural do Minho. Só me liguei à Associação Cultural do Minho quando os meus filhos começaram, desde pequeninos, a conhecer o rancho. E assim foi quando mais me envolvi na associação.

Valor global dos Clubes/Organizações portugueses? Positivo/Negativo? Porquê?
Positivo. Negativo não porque é muito positivo, claro. Representar a nossa terra, não é? E acho que é de dar valor. É muito trabalho e muitas horas. Quem está envolvido nas associações… é de louvar o trabalho deles. É muito trabalho, é muita hora, muito sacrifício, muito suor, mas compensa. Compensa para ver certos resultados.

Quantos Clubes/Associações portugueses conheces? Que eu conheço?
Assim de repente, uns 10 a 12. Talvez por uma lista uns 20 a 30.
Interessam-te? O que levou a envolveres-te? Foram os meus filhos. Sempre gostei muito de Ranchos, sempre gostei muito de folclore, sempre gostei muito das nossas tradições. Não tive muita oportunidade quando era jovem para participar. Meti os meus filhos para me envolver um pouco e para eles também saberem as tradições, as nossas tradições. Eles já nasceram aqui, não nasceram lá e a gente quer transmitir para eles o que realmente são as nossas raízes.

Que atividades/programas sabes que existem?
Temos ranchos, bombos, rusgas, temos várias festas durante o ano. Temos a parada do Dia de Portugal. Temos as festas do nosso Santoinho que não podia deixar de falar. Temos as festas que reúnem as famílias como a Páscoa e piqueniques. Também há as escolas portuguesas, a Banda Filarmónica e programas para idosos. Acho que há muitas atividades que são oferecidas na comunidade. Se calhar a gente nem está a par da situação. Se calhar podia haver mais.

O que é que gostarias de ver?
Gostava que talvez algumas associações se unissem mais um pouco e talvez juntos pudéssemos ir mais longe um bocadinho. Ter algumas coisas mais para os jovens, apesar de já termos, não é? Um foco em atividades para eles, por exemplo, tocar concertina, tocar cavaquinho, sei lá, essas coisas assim, essas iniciativas. E é claro que temos que adaptar um bocado para os jovens daqui, que não foram criados com as nossas raízes em Portugal. Acho que ainda é um trabalho mais difícil, porque temos de atrair uma cultura diferente, que evoluiu.

Que barreiras/obstáculos impedem os novos membros de participar na comunidade?
Eu admiro muito quem se envolve na comunidade e quem divulga a nossa comunidade. Os jovens, como por exemplo, temos aqui na Associação Cultural do Minho uma organização de jovens. Não é fácil, é muito trabalho, é muita responsabilidade. Têm que se dedicar às pessoas se realmente querem envolver-se, têm que abdicar de muita coisa para poder dar mais de si na comunidade, o que se torna tudo um pouco cansativo. E depois é assim, os jovens de hoje têm novas ideias. E às vezes as pessoas de mais idade não estão a ver aquilo ou já pensam que já estão a levar as coisas para outro sítio e os jovens acabam por desanimar. Quando isso acontece acho que é triste.

Sentes que é difícil a integração na comunidade? Porquê?
Eu acho que não. Se a pessoa tiver mesmo vontade, eu acho que não.

Eu sei que noutro dia estiveste a contar uma história. Quando cá chegaste não sabias inglês e, nessa altura, achas que era mais fácil alguém integrar-se na comunidade do que é hoje?
Eu acho que hoje em dia já é diferente. Hoje em dia as pessoas vêm de Portugal, já têm um pouco mais domínio do inglês, eles já estudaram. Quando eu vim, há 33 anos, não tínhamos essa oportunidade. Eu não estou a dizer que era difícil, mas não tínhamos tanta oportunidade como há hoje, ou tanta liberdade como tens hoje. Era diferente. Existiam as coisas, e ainda bem que continuam a existir. Mas hoje em dia eu acho que é muito mais fácil tu chegares, integrares-te e pronto. Hoje em dia, com a internet a divulgação é muito melhor.

É possível assistir a uma mudança na comunidade? Será que se vai extinguir? Transformar-se? Que perspetivas tens?
Depende. Eu acho que depende muito. Se os jovens continuarem com este foco, de continuar a manter as nossas tradições, eu acho que podemos ter um futuro. Mas se os jovens não tiverem um bocadinho de apoio, um bocadinho de iniciativa, apoio das pessoas de mais idade, pode haver problemas. Temos de dar apoio aos jovens, não apontar o dedo para defeitos, mas comunicar e colaborar em conjunto. As pessoas têm que se lembrar que já é uma geração que nasceu aqui. Não viveram até aos 20/30 anos em Portugal com aquelas tradições. Eu tenho muito orgulho naqueles jovens que realmente lutam todos os dias para segurar as nossas raízes e o nome de Portugal.

O que é que tu achas que podia ser feito para sentir as pessoas mais ligadas à comunidade e a Portugal?
Vou dar um exemplo: se fores a um bar, lá em Portugal, aquelas cantigas tradicionais já não interessam aos jovens. Querem um DJ a tocar num festival de música. Já nós aqui, quando vais para uma festa, e metes um DJ sem as nossas músicas, pedimos as nossas músicas tradicionais. Noutro dia fomos ao espetáculo do Augusto Canário, ele começou a tocar aquelas músicas conhecidas, e a juventude vibrou e são cantigas que já têm uns aninhos. Mas o pessoal começou a vibrar e é isso que que dá alegria. Por isso eu acho que talvez em Portugal não apreciem tanto, como nós apreciamos aqui.

Mas o que é que podemos trazer para cá (de Portugal), que é o nosso património também?
Não sei. Temos o nosso Santoinho que acho que é uma coisa que é de louvar, porque é uma festa gigante aqui na comunidade. Lá também há o Santoinho, mas para eles é um negócio. Para nós não. Nós vamos para um salão sem nada, com umas cadeiras, umas mesas e dali a algumas horas, está ali, um arraial minhoto a 100% e dá muito orgulho. São coisas, talvez, que se podiam somar à nossa conversa aqui hoje. Há muito de bom, que a nossa comunidade tem preservado. Mas também há fatores que são uma identidade, talvez luso-canadiana, que ainda há que definir. A nossa comunidade ainda está naquela fase de mistura. É português, não é português ou é o português luso-canadiano. Talvez, cada vez mais, vamos ser luso-canadianos, não vamos ser aquele português mesmo típico.

Redes Sociais - Comentários

Artigos relacionados

Back to top button

 

O Facebook/Instagram bloqueou os orgão de comunicação social no Canadá.

Quer receber a edição semanal e as newsletters editoriais no seu e-mail?

 

Mais próximo. Mais dinâmico. Mais atual.
www.mileniostadium.com
O mesmo de sempre, mas melhor!

 

SUBSCREVER