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De pequenino é que se torce o pepino

Sporting FC Girls

 

Eis o ditado popular que pode definir de forma muito clara para todos, a importância da formação dos nossos pequeninos. Os valores de igualdade, paridade e respeito pelos outros devem ser assimilados de uma forma natural, desde cedo, na formação dos futuros homens e mulheres. É por isso crucial que as escolas, de uma maneira geral e as escolas de desporto em particular, tenham especial cuidado com as mensagens verbais ou simbólicas que transmitem aos mais pequenos sobre assuntos ainda sensíveis como estes. 

Por exemplo, a ideia que, durante anos e anos, passava de pais para filhos de que o futebol (e não só…) não era jogo de meninas, está aos poucos a esbater-se, mas ainda há um longo caminho a percorrer.

As Academias/Escolas de Futebol têm uma importante palavra a dizer sobre esta matéria e podem contribuir de forma decisiva para a tão necessária mudança de mentalidade. Fomos falar com os responsáveis de duas instituições que têm desenvolvido um importante trabalho na formação de jovens futebolistas da comunidade portuguesa residente na GTA, para tentarmos traçar o ponto da situação do futebol feminino nesta área em que vivemos.


Samuel Gyeke-Amoako
Samuel Gyeke-Amoako, Technical Director and Head Coach, Sporting FC Toronto – SCP Soccer Academy

Milénio Stadium: Há muitas meninas interessadas em aprender e jogar futebol na GTA? As meninas têm o mesmo tipo de apoio por parte das famílias?

Acredito que há muitas raparigas interessadas em aprender e jogar futebol na GTA. O sucesso da equipa feminina canadiana nos últimos Jogos Olímpicos também ajudou a aumentar o interesse por este desporto. A maioria dos clubes e academias da GTA tem equipas femininas desde as idades mais jovens. Posso dizer que no nosso programa feminino e noutros programas que conheço, elas recebem apoio, especialmente das famílias. O desporto já não é apenas jogado por rapazes. É um jogo para todos.

MS: Como são recebidas pelos colegas (meninos)?

Penso que já ultrapassámos a era em que os rapazes/homens não tinham em conta o jogo das raparigas/mulheres.  Falta ainda alguma educação para que todos os intevnientes compreendam que as raparigas podem competir por direito próprio.

MS: Quando decorre um evento como o Campeonato do Mundo de Futebol masculino, é comum as ruas e as cidades encherem-se de bandeiras de adeptos de todos os países participantes. Está a decorrer o Campeonato do Mundo de Futebol Feminino e não vemos absolutamente nada disso. O que significa este facto, na sua opinião?

Significa que ainda temos muito trabalho a fazer para promover o Campeonato do Mundo feminino e o futebol em geral. Embora haja apoio, não se faz tanto “barulho” como no Campeonato do Mundo masculino. Não se fala muito dele. Nem sequer há cobertura na televisão e na rádio sobre o Campeonato do Mundo em curso.

MS: O que podem fazer as Academias/Escolas de futebol para ajudarem a mudar este estado de coisas?

Alguns clubes locais organizaram uma festa para assistir ao segundo jogo do Canadá, que juntou pessoas para ver a equipa nacional jogar. Isto é algo que as academias e as escolas podem fazer para promover e chamar a atenção para o Campeonato do Mundo e para o futebol feminino em geral. Sei que a hora dos jogos é muito cedo, o que dificulta o visionamento dos mesmos.

MS: O que pensa do nível de qualidade técnica, até agora observado, do desempenho das diversas seleções no Mundial de Futebol feminino?

Como muitos puderam constatar pela qualidade das jogadoras até agora no Campeonato do Mundo, o futebol feminino continua a crescer e só vai melhorar a partir de agora. O desempenho da maioria das equipas mostra o crescimento técnico e tático das jogadoras e das equipas.


Jose Carlos DaSilva
José Carlos Da Silva, Co-fundador e presidente, Gil Vicente FC Toronto

Milénio Stadium: Há muitas meninas interessadas em aprender e jogar futebol na GTA? As meninas têm o mesmo tipo de apoio por parte das famílias?

Há muitas miúdas que querem praticar desporto, principalmente futebol, mas a nossa sociedade ainda não está preparada para essa realidade. Alguns pais com quem eu tenho falado dizem que o futebol é para os homens não é para as mulheres. Infelizmente é a sociedade em que a gente vive. Há talentos do sexo feminino por isso é preciso dar uma oportunidade a essas jovens que temos na comunidade portuguesa e não só. A nível de apoio ao sexo feminino ainda está tudo muito atrasado. Precisamos de criar meios e sermos organizados para que isso venha  a acontecer, mas tudo começa de casa, na mentalidade dos pais, para que as suas filhas sintam vontade para fazerem aquilo que sabem dentro das quatro linhas e mostrar o seu talento.

MS: Como são recebidas pelos colegas (meninos)?

As miúdas são recebidas normalmente pelos meninos, tudo bem aí. Os treinadores têm de estar preparados para as receber, e isso significa as meninas serem tratadas ao mesmo nível, sem nunca pôr em causa se é miúdo ou se a menina. No futebol e em todo lado não pode haver discriminação. Há talento e temos que o aproveitar e tirar o máximo do talento das crianças. Só assim elas se sentirão úteis e tratadas ao mesmo nível dos miúdos.

MS: Quando decorre um evento como o Campeonato do Mundo de Futebol masculino, é comum as ruas e as cidades encherem-se de bandeiras de adeptos de todos os países participantes. Está a decorrer o Campeonato do Mundo de Futebol Feminino e não vemos absolutamente nada disso. O que significa este facto, na sua opinião?

A nível de comunicação, relativamente aos grandes eventos – Campeonato do Mundo de hóquei, basquetebol, beisebol – a comunicação social, os políticos, as pessoas que manobram e têm o poder são as mais culpadas e muitas vezes nós sociedade. Nós que andamos na rua, que andamos no trabalho e não acompanhamos mais de perto tudo isto que é o futebol feminino. Passamos muitas vezes ao lado. A comunicação social e os políticos estão mais interessados em si próprios, com questões financeiras e com a divulgação de si próprios para o dia de amanhã, porque estão amarrados ao poder e nunca querem deixar esse poder, que não passa de uma gamela para muitos. Por isso, é triste que nas nossas ruas não vejamos a euforia de um Campeonato do Mundo como se vê a nível masculino.

MS: O que podem fazer as Academias/Escolas de futebol para ajudarem a mudar este estado de coisas?

As academias têm uma palavra muito importante a nível desportivo e a nível de educação. A academia de futebol é uma segunda escola para muitos que, infelizmente, não aprendem em casa a ter respeito, a respeitar o próximo para serem respeitados. Na escola de futebol aprendem a criar amizades, aquelas amizades profundas, sérias e honestas. Nas academias aprendem a ser pessoas boas, que sabem quem são, de onde vêm e o que pretendem. É pena que muitos não estejam preparados, como treinadores de futebol. É preciso ter o mínimo dos mínimos e conhecimento para que o miúdo ou menina se desenvolva. Não é chegar ali, como muitas vezes eu vejo, pôr uma bola a correr e pôr os atletas a correr atrás da bola. Não! Mas há muitos treinadores na nossa comunidade que nem para apanhar bolas… é por isso que muitos pais ficam desiludidos por verem o seu filho, ao fim de dois ou três anos, não desenvolverem e depois tiram-nos do futebol. Devia haver uma fiscalização a esse nível.

MS: O que pensa do nível de qualidade técnica, até agora observado, do desempenho das diversas seleções no Mundial de Futebol feminino?

A nível de qualidade técnica há muito trabalho para fazer, mas só com a dedicação e o apoio a nível de federações, de clubes é que isso pode ser possível. Toronto e arredores ainda não estão preparados para isso, não temos apoio suficiente a nível de ligas, a nível de associações, a nível de governo, para avançar com projetos dignos. Pode ser que o Campeonato do Mundo traga outra abertura, outra maneira de ver e de estar no desporto e ajude a projetar miúdos e miúdas. São os meus sinceros desejos, mas há pessoas que estão envolvidas nas associações e clubes que pensam mais a nível financeiro e pessoal (para tirarem benefícios próprios). Deviam pensar mais trazer felicidade para a crianças, tirá-las da rua, tirá-las dos vícios, dos perigos que hoje, nesta sociedade, batem de porta em porta. Devia haver uma fiscalização mais rigorosa a nível de associações e a nível de clubes. Em meu nome e nome da academia Gil Vicente muito obrigado por esta oportunidade.

Madalena Balça/MS

 

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