Aida Batista

Um mandamento novo

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Amarás o teu próximo
como a ti mesmo.
(Mt. 19, 16-19)

 

No dia 5 de dezembro, por decisão da ONU, assinalou-se em todo o mundo o “Dia Internacional dos Voluntários.” É natural que muitos desconheçam a data, porque o voluntariado é praticado no silêncio da união de vontades que fazem da solidariedade e do amor ao próximo uma forma de vida. Não é habitual os jornais darem espaço a este tema (a não ser quando ocorrem grandes catástrofes), nem ser capa das revistas cor-de-rosa. O voluntariado não tem cor, mas, se alguma o definisse, não seria o rosa, porque ele lida com o lado mais cinzento das nossas vidas.

Em Portugal não existe uma prática do voluntariado a partir de idades muito jovens, embora se comece a sentir uma maior participação destes em causas solidárias, ou serem eles próprios, com a criatividade que os carateriza, a criarem de raiz projetos inovadores em prol de causas muito meritórias.

Da CPV (Confederação Portuguesa do Voluntariado) fazem parte 43 Associações, e à Câmara Municipal de Cascais coube o papel de anfitriã na organização da cerimónia de entrega dos Troféus de Voluntariado, que decorreu na emblemática Casa das Histórias Paula Rego, auditório Maria de Jesus Barroso.

A cerimónia iniciou-se dando palco, em primeiro lugar, aos inspiradores testemunhos de oito cidadãos/cidadãs, ativamente envolvidos em várias áreas de voluntariado que vão desde o ambiente, cultura, bem-estar, até ao apoio social. Um dos que mais me tocou foi o de uma mãe que, para uma das missões, levou consigo um filho de quatro anos. Uma das tarefas que tinham de fazer era, quando recebiam sacos de arroz de muitos quilos, distribuí-lo por pequenos saquinhos de plástico. O seu filho, com uma caneca na mão, colaborava naquela operação. Diz um ditado popular que “o trabalho do menino é pouco, mas quem o despreza é louco.” Ora aqui temos uma situação em que o provérbio se aplica – esta criança começou a fazer e a ver práticas de voluntariado desde que se conhece. Talvez o pudesse ter entendido como uma brincadeira, mas, na sua inocência, aquele gesto saciou muitas bocas famintas daquele alimento.

Carlos Carreiras, presidente da Câmara Municipal de Cascais, esteve presente, acompanhado de Miguel Fontes, secretário de Estado do Trabalho, e Eugénio Fonseca, presidente da Confederação Portuguesa do Voluntário. Nas suas intervenções, foram unânimes em valorizar e destacar o contributo do voluntariado para fazer de Portugal um país mais inclusivo e solidário. Estamos sempre à espera de que seja o Estado a resolver todos os nossos problemas. O Estado é uma entidade abstrata, enquanto o voluntário, através de uma prática de vizinhança, conhece e está atento às realidades com as quais estabelece vivências de proximidade, que preenche os vazios das agendas políticas de quem nos governa, por mais que a palavra solidariedade faça parte dos seus discursos.
A sessão terminou com a atribuição dos troféus a que se candidataram várias das 43 associações. A SMV (Ser Mais Valia), aquela a que pertenço e para a qual trabalho, apresentou dois projetos: “EscritAfricando” e “Mentoring”, tendo o segundo obtido o merecido galardão na Categoria Sénior. Considerando que a SMV é uma associação com poucos anos de vida, e que apenas cinco categorias foram distinguidas, foi com enorme regozijo e satisfação que aplaudimos a decisão do júri e vimos subir ao palco os nossos representantes que, na pessoa do seu presidente, Lincoln Justo da Silva, proferiu as palavras de agradecimento.

Sentada no auditório e a registar os emotivos momentos no meu telemóvel, não pude deixar de me levar até Toronto, onde o ambicioso projeto “Magellan Community Charities”, será, para os mais velhos da comunidade luso-canadiana, a futura casa, onde se sentirão acolhidos por quem os entende na língua materna – o português. O paralelismo foi imediato, porque também este Centro depende do sonho e da entrega de todos aqueles que voluntariamente o apoiam, para que, num futuro próximo, seja uma realidade.

Aida Batista/MS

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