Aida Batista

O saber não tem rugas

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No final, não são os anos da vida que contam,
e sim a vida ao longo desses anos.

Abraham Lincoln, 16º Presidente dos EUA

 

A RUTIS é a associação que agrupa a Rede de Universidades da Terceira Idade espalhadas por todo o país. Este tipo de universidades foi a maior conquista das últimas décadas, tendo como objetivo principal promover o envelhecimento ativo da população. Segundo nota de imprensa da RUTIS, existem em Portugal 370 universidades seniores, 65 000 alunos e 7 500 professores voluntários, o que faz com que Portugal seja o país do mundo com mais universidades seniores por cada habitante maior de 65 anos.

A 29 de novembro celebra-se o Dia Nacional das Universidades Seniores. Contudo, proponho-me abordar o tema hoje, porque no passado dia 20 de outubro, no Sardoal, se procedeu à cerimónia de abertura do ano letivo 2023/2024.

Comecei por ser voluntária na UTIA (Universidade da Terceira Idade de Abrantes), mas, assim que a USS (Universidade Sénior do Sardoal) foi criada, decidi que seria a esta, sediada no concelho onde resido, que deveria dedicar o meu tempo livre (que não é tão livre como gostaria!).

Nesta universidade, estão inscritos 100 alunos, dos 56 aos 88 anos de idade, e lecionam 19 professores voluntários, distribuídos por 18 disciplinas.

Estas instituições foram já alvo de teses de mestrado, cujos resultados têm demonstrado que a sua frequência proporciona melhor saúde física e mental, uma baixa dos índices de depressão e solidão, diminuição do consumo de medicamentos e um notável aumento da sensação de felicidade e bem-estar. Em 1996, o relatório Delors assinalou a mudança do termo “educação ao longo da vida” para “aprendizagem ao longo da vida”, sendo esta toda e qualquer atividade de aprendizagem, empreendida numa base contínua e visando melhorar os conhecimentos, aptidões e competências. Estas aprendizagens, que vão da atividade física, mental e musical, levam em linha de conta a idade de quem se inscreve, imprimindo sempre uma vertente lúdica, que torna as aulas em momentos prazerosos para quem nelas se matricula.

Durante a cerimónia do passado dia 20, no auditório do Centro Cultural Gil Vicente, foram projetados pequenos vídeos com testemunhos de alguns professores e alunos. Aos professores foi-lhes perguntado por que razão tinham abraçado este voluntariado e quais os desafios que se lhes colocavam. Os alunos, por sua vez, foram confrontados com questões, como: a razão de terem decidido frequentar a universidade e de que forma tal decisão mudara as suas vidas.

A maioria das respostas dos alunos (porque são estas que mais nos interessam) colocava a tónica no combate à solidão, na obrigatoriedade de saírem de casa – o que implicava que se arranjassem -, a satisfação do convívio entre todos, os passeios e visitas de estudo proporcionados e o quanto aprendiam (porque sempre se aprendem coisas novas, disseram muitos). Estas motivações coincidem em quase todos os depoimentos, mas a que mais me chamou a atenção foi a desta aluna: “Para mim, a universidade sénior significou largar o chinelo e o avental”. Nesta metáfora, está tudo dito!

Até há bem pouco tempo, as mulheres, na situação de reformadas (em especial se fossem viúvas), estavam condenadas a ficar em casa. Ora, quem está em casa e para se sentir confortável, calça pantufas se for inverno, ou chinelos, se for verão. Por outro lado, o espaço da casa onde as mulheres, habitualmente, passavam mais tempo era a cozinha. Como se fosse o seu templo! Mas, devido aos trabalhos domésticos a que se entregavam, usavam avental, para se protegerem de qualquer nódoa que lhes caísse na roupa.

Não restam dúvidas de que chinelo e avental significavam as grilhetas que prendiam a mulher ao espaço da casa, estatuto que as universidades seniores começaram a contrariar. E se “o saber não ocupa lugar”, também não tem rugas.

Aida Batista/MS

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