Continua o braço de ferro entre professores e Governo
Pela primeira vez em mais de 20 anos, os principais sindicatos da educação em Ontário estão envolvidos numa luta ao mesmo tempo. O Premier do Ontário, Doug Ford, acusou recentemente os sindicatos de manterem os pais “reféns” e disse que o seu Governo vai manter firme a sua proposta de aumentos salariais para a função pública em 1%.
O sindicato dos professores do ensino básico, o Elementary Teachers’ Federation of Ontario (ETFO), o maior sindicato da província na área da educação, que tem cerca de 83,000 membros, anunciou que vai manter greves rotativas e fechar escolas. A greve vai começar por afetar Toronto, a Região de York e Otava. O sindicato está a atuar de acordo com as regras, o que inclui a não supervisão de atividades extracurriculares fora do dia normal da escola e a não participação em excursões.
Entretanto, o sindicato dos professores do ensino secundário, o Ontario Secondary School Teachers’ Federation (OSSTF), que representa cerca de 60,000 membros, também decidiu continuar com as greves rotativas, n mesmo dia em que o sindicato dos professores católicos de inglês escolheram para fazer a greve.
O Ministro da Educação do Ontário, Stephen Lecce, diz que a posição do ETFO é “inaceitável” e que vai “fazer com que as famílias de toda a província corram para as creches”. Lecce anunciou que os pais vão poder candidatar-se a uma compensação diária que não deverá ultrapassar os $60. O valor é referente a cada um dos filhos cuja escola encerrou devido à greve dos professores.
Os líderes sindicais, contudo, afirmam que ficaram com pouca escolha porque o governo do Partido Conservador está a fazer cortes profundos na educação que vão afetar negativamente os alunos e as famílias.
Existem vários assuntos em cima da mesa e o Milénio Stadium fez uma síntese.
Dimensão das turmas
A anterior ministra da Educação do Ontário, Lisa Thompson, anunciou em março que a média das turmas ia aumentar de 22 alunos para 28 ao longo dos próximos quatro anos, isto para o ensino secundário. As direções escolares foram obrigadas a cortar cursos e os números do Governo mostraram que o aumento de alunos por turma iria resultar na eliminação gradual de milhares de vagas para os professores.
Lecce, que chegou à pasta em junho, suavizou a posição do Governo e anunciou que as turmas iam aumentar, em média, para 25 alunos. O que mesmo assim significa um aumento de 0,5% face ao ano passado (22,5%). O novo ministro também informou que o Governo podia considerar voltar atrás na decisão, desde que os sindicatos sugerissem propostas para poupar dinheiro.
O OSSTF alertou que a proposta do Governo para reduzir estas turmas incluía também cortar nas turmas de ensino especial. O ETFO pediu ao Governo para reduzir as turmas nos jardins de infância e em alguns anos escolares. O sindicato informou os seus membros que não é incomum ver mais de 30 alunos numa sala de aulas do 4º, 5.º, 6.º, 7.º e 8.º ano.
Salários
Os professores da província podem ganhar em média um salário anual de $86,000, segundo dados do ministro da Educação do Ontário. Só em Alberta é que o salário médio anual de um professor é que é superior, onde ronda os $89,000.
As tabelas salariais dos professores permitem que os salários aumentem ao fim de dez anos de acordo com a educação e a experiência e vários professores ganham mais de $100,000, segundo a lista da província que divulga os salários públicos.
Lecce disse que o aumento salarial que os sindicatos propõem, de 2% em vez de 1% para os salários da função pública, de forma a refletir o aumento da inflação, continua a ser neste momento o principal obstáculo às negociações entre Governo e professores.
Os líderes sindicais estão a contestar a legislação em tribunal e Harvey Bischof, presidente do OSSTF, disse que as declarações do Governo só “inflamam a situação”. Lis Stuart, presidente da Ontario English Catholic Teachers’ Association, garantiu também que “o aumento salarial não é o único assunto que está a ser negociado e que o Premier Doug Ford e o ministro da Educação deviam ter vergonha pela forma como estão a tentar enganar os ontarianos”.
Cursos de aprendizagem online
O Governo recuou recentemente na sua proposta para cursos online e a partir de agora vai exigir que os alunos do ensino secundário façam dois cursos para se formar, em vez do plano inicial de quatro.
Mesmo com dois cursos, a província do Ontário seria uma grande exceção quando comparada com outros países do mundo ou até com os EUA, onde vários estados, incluindo Michigan e a Flórida, exigem que os alunos obtenham um crédito online.
Os detalhes sobre os créditos online são ainda pouco precisos, mas o ministro explicou que os cursos vão ser lecionados por professores certificados e que os alunos que concluírem o ensino entre 2023-24 vão ser o primeiro grupo que terá de concluí-los obrigatoriamente.
Fonte do Governo revelou que estes cursos vão ter em média 35 alunos e que isso acabaria por criar menos vagas para professores. O ministério refere ainda que o interesse dos alunos por este tipo de cursos tem aumentado, mas nunca apresentou nenhuma evidência pedagógica sobre a sua eficácia.
Por outro lado, o president do OSSTF considera que a obrigatoriedade de créditos online é uma má política porque para além de alguns alunos não terem acesso à internet, cerca dos 5% que tira cursos online, de forma voluntária, apresentam taxas de sucesso mais baixas em relação ao ensino tradicional.
Dia inteiro de jardim de infância
O programa de jardim de infância do Ontário é único no Canadá porque incorpora dois anos de dia inteiro, uma aprendizagem baseada em brincadeiras, com um professor e um educador infantil na frente da sala de aula.
Um estudo descobriu que os alunos de dia inteiro estão à frente dos seus colegas de meio dia em leitura, escrita e conhecimento de números até ao final do segundo ano. Eles também obtêm ganhos emocionais e comportamentais, que incluem a capacidade de seguir instruções e cooperar com os colegas.
Lecce disse que seu Governo está comprometido em “fortalecer” o modelo de jardim de infância de dia inteiro e embora tenha transmitido publicamente esse interesse, o ETFO tem uma versão diferente dos factos. Para este sindicato, as negociações falharam porque o Governo não garantiu que este programa vai permanecer intacto.
O presidente Sam Hammond disse antes que o Governo se disponibilizou para manter o programa tal como está se o sindicato concordasse com o aumento salarial de 1%. “Não brinque com o programa de jardim de infância”, disse Hammond ao ministro da Educação.
O ETFO reuniu-se quarta-feira (29 de janeiro) com o governo pela primeira vez em mais de um mês. Se as partes não chegarem a acordo, o maior sindicato da Educação do Ontário vai continuar com as greves rotativas uma vez por semana, sendo que a próxima está marcada para 6 de fevereiro.
O presidente do sindicato Sam Hammond diz que espera que os intermediários do governo tenham indicações para recuar nos cortes, aumentar o apoio aos alunos com necessidades especiais, preservar o atual modelo de jardim de infância e manter práticas justas e transparentes de contratação.
Já o ministro da Educação espera que o sindicato venha para as negociações com propostas realistas que deem prioridade ao sucesso académico dos alunos em vez de aumentar o salário dos professores.
Joana Leal/MS
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