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Voos mais rápidos “à boleia” dos ventos: saiba o que são as correntes de jato

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Nas últimas semanas, houve vários registos de voos que chegaram muito mais cedo ao seu destino. Um deles chegou ao aeroporto 45 minutos antes da hora prevista. A culpada é uma corrente de jato no hemisfério Norte, ventos muito fortes que empurram os aviões ao longo da sua rota.

As corrente de jato surgem quando o ar quente dos trópicos encontra o ar frio dos pólos. Segundo José Correia Guedes, ex-comandante da TAP, estas correntes de vento têm sempre o sentido oeste-este, devido ao movimento de rotação da Terra, e podem ter várias intensidades, desde 100 km/h até 400 km/h.

“É um fenómeno muito frequente”, explica o ex-comandante ao JN, acrescentando que é “benigno” para os voos que vão no sentido do vento. “Normalmente, a meteorologia consegue prever onde estão localizadas e os planos de voo são elaborados de acordo com o local onde se espera encontrar essas correntes de jato. De oeste para este, voamos a favor delas”, continua Correia Guedes.

No sentido inverso, os aviões evitam as correntes de jato. “Vamos tentar evitá-las porque nos irá atrasar imensamente o voo e aumentar os consumos de combustível”, diz o ex-comandante.

Nas últimas semanas, foram vários os voos que apanharam “boleia” do vento. Em 17 de fevereiro, o voo 64 da United Airlines descolou de Newark, aproveitou a “boleia” do vento e voou a 1338 quilómetros por hora em relação à superfície, aterrando em Lisboa 20 minutos mais cedo, segundo a “FlightAware”. Já o voo 120 da American Airlines, de Filadélfia para Doha, no Catar, atingiu uma velocidade máxima de 1351 quilómetros por hora, chegando 27 minutos mais cedo. Por sua vez, o voo 22 da Virgin Atlantic, que partiu do Aeroporto Internacional Washington Dulles, atingiu uma velocidade máxima de  1290 quilómetros por hora e aterrou em Londres 45 minutos mais cedo.

“Já me aconteceu muitas vezes, num voo Nova Iorque-Lisboa, fazer menos uma hora e meia de voo do que à ida. Fazer 7 horas para lá e 5.30 horas à vinda para para cá. Tem um efeito muito sensível no tempo e, no caso dos aviões, tempo é dinheiro porque é menos consumo de combustível”, exemplifica o ex-comandante.

Avião anda sempre à mesma velocidade

Correia Guedes sublinha que, embora a corrente de jato empurre o avião, a velocidade da aeronave mantém-se. Os aviões voam normalmente a cerca de 900 quilómetros por hora mas, ao entrarem numa corrente de jato, podem chegar a mais de 1200 quilómetros por hora em relação à superfície, embora a velocidade indicada no velocímetro do avião seja a mesma. “Não há stress adicional no avião, anda sempre à mesma velocidade. Imaginemos que vamos passear de barco e fazemos cinco quilómetros por hora a remar. De repente vem uma corrente e o barco vai com muito mais força pelo rio abaixo apesar de continuarmos a remar com a mesma intensidade”, refere.

A turbulência pode ser uma consequência destas correntes de vento. “Quando estamos na periferia da corrente, há uma fricção e isso gera turbulência”, embora não seja “nada de especial”, garante o ex-comandante. “Tentamos contorná-la, variando a altitude e procurando onde o ar está mais estável”.

Chegar mais cedo ao destino também pode causar algum “transtorno”. “As slots são um direito que um avião tem de operar num aeroporto a determinadas horas. É sempre respeitado por avanço ou por atraso. Mas também já aconteceu chegar tão cedo que não tenho onde estacionar o avião e ficar 15 a 20 minutos à espera depois de sair da pista à espera que haja vaga de estacionamento. Poupamos tempo no voo, mas depois esperamos na chegada do aeroporto. Mas não acontece com muita frequência”, remata.

Ventos mais rápidos com aumento da temperatura

Prevê-se que o efeito das alterações climáticas cause mais turbulência nas viagens de avião. Segundo um estudo da Universidade de Chicago e do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica da Fundação Nacional de Ciência dos EUA, publicado na revista científica “Nature Climate Change” em novembro passado, as alterações climáticas farão com que os ventos das correntes de jato se tornem significativamente mais rápidos em meados do século.

A investigação concluiu que os ventos mais rápidos das correntes de jato vão acelerar em cerca de 2% por cada grau Celsius de aumento da temperatura na Terra. Além disso, os ventos mais rápidos acelerarão 2,5 vezes mais depressa do que o vento médio.

Os cientistas também associaram a crescente frequência e intensidade dos incêndios florestais ao aquecimento global. Este tipo de eventos exigem que as companhias aéreas deixem mais espaço entre as partidas de aviões e tracem rotas alternativas.

 

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