Temas de Capa

Trabalho… que dá trabalho

Work Relationship Index

 

A relação das pessoas com o trabalho tem sofrido, ao longo dos anos, diversas alterações. Se o mesmo era antes essencialmente visto como uma forma de garantir a subsistência e sobrevivência, hoje em dia o cenário parece ser bastante diferente. A satisfação e realização pessoal, aliadas a uma remuneração justa têm feito o seu caminho até ao topo das preferências dos indivíduos aquando da busca de trabalho… ou de mundança do mesmo.

Hoje em dia, para além dos avanços tecnológicos e a digitalização dos processos resultarem num mercado de trabalho mais flexível e em constante mudança, também a busca por maior valorização de habilidades resulta numa maior instabilidade no emprego. O trabalho autónomo, o empreendedorismo e o freelancing têm ganho grande importância ao longo dos últimos anos em todo o mundo, sobretudo entre a população mais jovem.
O mais recente relatório do HP Work Relationship Index analisou mais de 50 fatores relacionados com as relações dos colaboradores com o trabalho em 12 países, entre eles Estados Unidos da América, França, Índia, Alemanha, Japão, Brasil e Canadá. Entre as várias conclusões, realça-se que apenas 27% dos trabalhadores afirmam ter uma relação saudável com o trabalho, algo que influencia direta e negativamante a sua saúde mental, emocional e física.

Teresa Rebelo é docente e investigadora na área de Psicologia Organizacional, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação e CeBER – Centre for Business and Economics Research, Universidade de Coimbra, e ajudou-nos a perceber melhor a forma como esta nem sempre fácil relação entre pessoas e trabalho tem evoluído – até porque, como a própria afirma, é “complexa e depende de múltiplos fatores”, “mudando consoante as circunstâncias e as fases da vida de uma pessoa”.

Milénio Stadium: Que importância é dada pelas pessoas, nos dias que correm, ao trabalho? No seu entender, quais são as principais diferenças de, por exemplo, há 20 anos para cá na forma como se olha para o mesmo?
Teresa Rebelo: Há uma diferença entre as gerações mais velhas e as mais novas em relação à sua relação com o trabalho e com a empresa/organização em que trabalham. As gerações mais novas tendem a procurar um maior equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal e a sua relação com a organização é mais instrumental, ou seja, a sua permanência depende do quanto se sentem bem e reconhecidas. Claro que isto são tendências, pois a relação com o trabalho e com as organizações/empresas também depende das necessidades de cada um, das circunstâncias, dos seus objetivos de vida, entre outros aspetos.

MS: As mudanças no mercado de trabalho, especificamente os avanços tecnológicos como a automação de diversos processos e serviços, também exercem impacto nesta relação?
TR: Na minha opinião, sim. Os avanços tecnológicos permitem retirar do trabalho tarefas monótonas e repetitivas, dando espaço a que se possa enriquecer as tarefas e responsabilidades dadas às pessoas. Por outro lado, o avanço das tecnologias de informação permite a modalidade de trabalho remoto ou híbrido (trabalhar totalmente ou parcialmente a partir de casa ou de outro local, respetivamente), o que, para muitos, significa a possibilidade de melhor conciliar o trabalho com a vida pessoal.

MS: Sabemos e somos confrontados com a importância de procurarmos um trabalho que nos preencha não só em termos pessoais como também financeiros. Mas tendo em conta a conjuntura atual, poderá este ser, na sua maioria, visto como uma necessidade e não como algo que nos dá prazer?
TR: Sim, o trabalho pode ser visto, e apenas sentido, como uma necessidade. Mas, se tivermos um trabalho gratificante, que nos realiza, de que gostemos, torna-se também algo prazeroso. É isso que buscamos e que as organizações/empresas, através das práticas de gestão de recursos humanos, procuram conciliar.

MS: Uma outra vertente que pode – ou não… – contribuir para um melhor ambiente de trabalho e, consequentemente, para pessoas mais felizes naquilo em que trabalham são as relações laborais. De que forma é que estas, sendo boas ou más, podem afetar o bem-estar físico e mental de um trabalhador?
TR: As relações interpessoais no trabalho afetam o bem-estar no trabalho. As relações com a chefia, com os colegas, quando são conflituosas ou tóxicas, afetam negativamente a satisfação e o bem-estar. Já um ambiente de interajuda, ético, e de respeito no trabalho é benéfico para as pessoas e para o desempenho da empresa.

MS: De acordo com o Índice HP de Relacionamento com o Trabalho, apenas 27% das pessoas inquiridas conseguem manter uma relação saudável com o seu trabalho. O que acha que o pode explicar?
TR: A relação das pessoas com o trabalho é complexa, depende de múltiplos fatores. Por outro lado, não é igual ao longo da vida, vai mudando consoante as circunstâncias e as fases da vida de uma pessoa. Contudo, de uma forma geral, penso que podemos apontar alguns dos aspetos referidos como fatores que contribuem para uma relação saudável com o trabalho: recompensas que sejam justas e que cubram as necessidades financeiras e de bem-estar na vida pessoal, um trabalho digno, com propósito e que nos realize, um ambiente colaborativo, de interajuda, ético e de respeito, onde todos se sintam pessoas com voz.

Inês Barbosa/MS

Redes Sociais - Comentários

Artigos relacionados

Back to top button

 

O Facebook/Instagram bloqueou os orgão de comunicação social no Canadá.

Quer receber a edição semanal e as newsletters editoriais no seu e-mail?

 

Mais próximo. Mais dinâmico. Mais atual.
www.mileniostadium.com
O mesmo de sempre, mas melhor!

 

SUBSCREVER