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Que há-de ser de nós?

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É uma evidência que todos nós percecionamos, mas que os números da Statistics Canada confirmam de forma clara – na população canadiana, os idosos com 85 anos ou mais estão a aumentar em número e em proporção. Esta faixa etária da população mais que duplicou desde 2001. No censo de 2021 foram contabilizadas mais de 861.000 pessoas o que representa mais 90.000 pessoas do que em 2016. A população centenária (com 100 ou mais anos) cresceu a um ritmo ainda mais acelerado. Esta população registou um aumento de 16% entre 2016 e 2021. Atualmente, pouco mais de 9 500 pessoas têm 100 anos de idade ou mais, ou seja, 0,03% da população.

Apesar de ter sido afetada pela pandemia de COVID-19, esta população mais idosa continua a aumentar mais rapidamente do que o Canadá no seu conjunto. Mas ainda vai crescer mais e de forma acelerada nos próximos anos quando os chamados Baby Boomers completarem 85 anos.

Todos nós reconhecemos a importância dos idosos em qualquer sociedade – a transmissão de conhecimento, o transporte da memória de quem somos e mais importante que tudo, o facto de serem verdadeiros modelos para os mais novos. Mas ser velho acarreta também uma inevitabilidade – a necessidade de apoio e cuidados especiais. Muitos enfrentam limitações de atividade e necessitam de serviços de saúde e de cuidados domiciliários e o rápido crescimento desta população nos próximos anos irá provavelmente aumentar as pressões existentes nos setores dos cuidados de saúde e dos cuidados domiciliários.

Um número crescente de pessoas já não vive em casas particulares e precisa de diferentes tipos de opções de alojamento, como residências para idosos no início e instalações que incluam a prestação de cuidados de longa duração à medida que envelhecem. As pessoas que permanecem mais tempo em casas particulares podem ter necessidades específicas relacionadas com cuidados domiciliários, transporte e segurança. A questão que se levanta é: está a província de Ontário preparada para esta realidade?

Procurámos respostas e para isso tivemos que contactar três ministérios – Ministry of Long-Term Care, Ministry of Health e ainda o Ministry of Seniors and Accessibility – o que dá uma ideia clara de que há uma dispersão grande no tratamento dos assuntos relacionados com os cuidados que os mais velhos exigem. Embora se compreenda que este seja um assunto complexo e transversal a várias áreas da governação. Bem, mas dos três ministérios contactados só recebemos respostas à nossas questões por parte de dois.

Assim, do ministério da Saúde do governo provincial chegou uma declaração que sublinha a importância da interligação dos serviços e a opção preferencial por intensificar a prestação de cuidados domiciliários e comunitários – “como parte do plano Your Health do nosso governo, estamos a construir um sistema de cuidados de saúde mais conectado e conveniente para melhorar os resultados de saúde de todos os ontarianos nos próximos anos.

A modernização dos serviços de cuidados domiciliários e comunitários é fundamental para o nosso plano, para garantir que os ontarianos recebem os cuidados certos, no sítio certo, em todas as fases da vida. Foi por isso que, no ano passado, anunciámos que o nosso governo iria investir mil milhões de dólares, ao longo de três anos, para expandir a prestação de serviços de cuidados ao domicílio e comunitários, e estamos a cumprir antecipadamente a nossa promessa de acelerar o financiamento adicional. Estamos também a investir mais 100 milhões de dólares em serviços de cuidados comunitários para apoiar os trabalhadores da linha da frente. Através da legislação introduzida no início deste mês, o nosso governo está a tomar medidas para desenvolver as Equipas de Saúde do Ontário, que estarão no centro da prestação de cuidados integrados, criando uma organização única, a Ontario Health atHome, para facilitar aos doentes e aos seus prestadores de cuidados a navegação e a receção de serviços domiciliários e comunitários. Estamos também a tomar medidas para aumentar a nossa mão de obra no sector dos cuidados de saúde, sendo este ano um ano recorde, com o registo de 15 000 novos enfermeiros e milhares de PSWs”.

Voltando às estatísticas, ainda antes de trazer para a vossa leitura a mensagem do ministério do Long-Term Care, os números dizem que o crescimento poderá atingir um pico entre 2031 e 2036, quando os Baby Boomers atingirem os 85 anos de idade. Esta geração nasceu após a Segunda Guerra Mundial, quando os níveis de fertilidade eram mais elevados, atingindo quase quatro filhos por mulher. Em segundo lugar, a esperança de vida tem vindo a aumentar nas últimas décadas. Aumentou quase sete anos entre 1980 e 2020 e prevê-se que continue a aumentar nas próximas décadas e em 2050, a população com 85 anos ou mais poderá atingir mais de 2,7 milhões de pessoas.

 

 

Ora, a realidade hoje já nos traça um quadro angustiante com as listas de espera para entrada em unidades de cuidados de longa-duração a atingirem os quatro anos, deixando evidente que não há lares suficientes para a procura. E com o tempo médio de construção deste tipo de infraestruturas a atingir os 2/3 anos impõem-se as perguntas – até lá como será o futuro mais imediato? De que forma vai o governo enfrentar este problema que já existe hoje e que previsivelmente irá ganhar uma dimensão ainda mais gigantesca?

Eis a resposta do ministério do Long-Term Care – “para fazer face às listas de espera, aos desafios de capacidade e ao envelhecimento dos lares, estamos a investir $6,4 mil milhões na construção de 30.000 novas camas para cuidados de longa duração no Ontário até 2028 e na atualização de mais de 28.000 camas antigas de acordo com normas de conceção modernas. Os tempos de espera para os cuidados de longa duração são afixados em cada lar para ajudar as famílias e os potenciais residentes a compreenderem a disponibilidade perto deles e a tomarem decisões informadas. As pessoas que aguardam colocação podem aceder a serviços de apoio pessoal e de enfermagem fornecidos pelos Serviços de Apoio Domiciliário e Comunitário.

O ministério também está a investir 426 milhões de dólares ao longo de cinco anos no programa Community Paramedicine for Long-Term Care (Paramedicina Comunitária para Cuidados de Longo Prazo), que funciona em 55 comunidades do Ontário. A partir de junho de 2023, este programa, que fornece aos idosos em lista de espera para cuidados de longa duração apoio contínuo e não emergencial 24 horas por dia, 7 dias por semana, incluindo visitas ao domicílio e monitorização remota, prestou cuidados a cerca de 39 500 indivíduos”.

 

 

Esta é uma questão que não diz apenas respeito aos mais velhos. É um problema de todos nós. Um forte aumento do número de canadianos idosos terá muitas implicações em termos de serviços de saúde e de cuidados domiciliários, habitação, transportes e hábitos de consumo. Terá também um impacto nas gerações mais jovens e nos cônjuges que frequentemente cuidam deles. Por exemplo, a prestação de cuidados informais nas famílias tende a ser feita por mulheres, pelo que cada vez mais mulheres em idade ativa poderão ter de cuidar dos pais e dos filhos. Além disso, os desafios poderão persistir se a escassez de mão de obra no setor dos cuidados de saúde se mantiver é que, como sabemos, os idosos tornam-se mais vulneráveis à medida que envelhecem. E nós, por um lado, temos a obrigação de garantir cuidados a quem cuidou de nós e por outro lado, não nos podemos esquecer que um dia também chegaremos a velhos. Que há-de ser de nós?

Madalena Balça/MS

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