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Chapéus há muitos!

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O português chega a qualquer parte do mundo e, quase de imediato, aplica o velho ditado “na terra onde fores viver faz como vires fazer”. Chega e passado pouco tempo em vez do papo-seco lá da terra, começa a passear nas ruas de França com uma baguete debaixo do braço, em Londres sai do trabalho e vai beber cerveja quase sem gás num pub, na Alemanha não passa sem as salsichas gigantes, na Venezuela come as arepas, ou começa a comer panquecas com maple syrup se estiver no Canadá e… a lista é infindável, porque estamos espalhados pelo mundo e vamos assimilando a cultura do país que nos acolhe, sem nunca perdermos de vista o que somos.
A assimilação cultural faz parte do processo de integração, essencial para quem um dia escolheu viver num país que não é o seu. Copiam-se hábitos e até se assumem usos e costumes que não são nossos. Porque queremos fazer parte, queremos experimentar, ou por puro respeito por quem nos acolhe. E não… não é apenas pelo estomago que nos prendemos ao sítio onde estamos – passamos a torcer pelos Maple Leafs, num acelerado jogo de hóquei no gelo, vibramos com os Raptors em mais um decisivo jogo da NBA e ainda conseguimos não adormecer quando vemos os Blue Jays a disputar mais um entusiasmante jogo de basebol. Isto para além de passarmos a ter uma maison em vez de uma casa, e a ir para o office em vez de ir para o trabalho, ou fazer cumpleaños em vez de completarmos mais um aniversário.

Somos recetivos à integração de elementos da cultura de outros povos, mas significará isso que não pisamos o risco (fino, muito fino, mesmo!) que separa o conceito de assimilação ou apreciação de uma determinada cultura da apropriação indevida de elementos culturais de outro povo? Não. Não significa isso, porque não raras vezes o fazemos, embora até possa admitir que de forma involuntária. Mas ainda não aprendemos que aquilo que fazemos, sem maldade é certo, pode ofender outros. Convenhamos que não é fácil, quando passámos a vida brincar aos índios e aos cowboys, ou nos vestiram de chinesa num qualquer Carnaval, ou nos pintaram a cara de preto… não é fácil também porque, por vezes, dá a impressão de que tudo o que se diz ou faz pode ser encarado ou ouvido de uma maneira bem diferente da nossa intenção.
Há razões para que a sensibilidade de determinados povos seja diferente – a opressão vivida cuja memória perdura, a discriminação pelo tom de pele, pelo tipo de cabelo, pelas vestes… tudo isso fica exacerbado quando alguém brinca, ou usa com elementos que são marcas profundas da história de um povo sofrido. É disto que se fala quando se põe em cima da mesa o tema da apropriação cultura, ou seja, o uso indevido ou abusivo de um qualquer fator que diferencia um povo.
É certo que, como em tudo na vida, pode haver exageros, mas a palavra respeito é a chave para descobrir os caminhos da aceitação do outro e da sua cultura.
Chapéus há muitos dizia o grande Vasco Santana, e é verdade, mas nem todos nos “servem”. Vamos então usar os chapéus que fazem parte da nossa cultura e tenhamos cuidado e respeito pelos dos outros.
Madalena Balça/MS

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