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Auscultar a saúde

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A recolha e análise de dados sobre a saúde pública no Canadá feita pelo Canadian Institute for Health Information (CIHI) desempenha um papel de extrema importância para um melhor conhecimento e manutenção do bem-estar da população. Ao analisar dados que incluem estatísticas sobre doenças, mortalidade, utilização de serviços de saúde e recursos humanos na área da saúde esta organização não só desenvolve relatórios que espelham a realidade atual do país – e o seu progresso ao longo dos anos – como também conseguem identificar padrões e/ou tendências na área e no sistema de saúde do Canadá, num trabalho colaborativo com governos, profissionais de saúde, grupos de defesa e investigadores. Este esforço conjunto influencia, assim, as tomadas de decisão no que concerne a políticas de saúde, melhorias na qualidade dos cuidados de saúde e alocação de recursos no sistema de saúde canadiano.

Todos os estudos e informações desenvolvidos e divulgados pelo CIHI estão acessíveis ao público, através do website da organização – cihi.ca/en.

Através da conversa entre o CIHI e o nosso jornal – que esta semana se debruça sobre o crescente de problemas relacionados com a saúde mental entre crianças e jovens – e da leitura de alguns dos seus estudos e infográficos, podemos perceber que, de facto, houve um aumento de 2% – de 21% para 23% – no que diz respeito à proporção de visitas às urgências e internamentos por transtornos mentais entre 2019 e 2020 entre crianças e jovens com idades compreendidas entre os 5 e os 24 anos, apesar de se ter registado uma ligeira queda no número total das mesmas. Assim, cerca de 1 em cada 4 hospitalizações de crianças e jovens de 5 a 24 anos ficaram a dever-se, em 2020, a problemas de saúde mental.

Entre essas, 58% eram do sexo feminino e 42% do sexo masculino – raparigas de 15 a 17 anos apresentavam 2 vezes mais probabilidade de serem hospitalizadas do que os rapazes da mesma idade.

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O CIHI faz ainda referência a um estudo levado a cabo pelo Canadian Medical Association Journal (CMAJ), “Emergency department visits and hospital admissions for suicidal ideation, self-poisoning and self-harm among adolescents in Canada during the COVID-19 pandemic”, que concluiu que a “pandemia de COVID-19 teve efeitos profundos no bem-estar mental dos adolescentes”, facto que se refletiu num aumento, entre as adolescentes do sexo feminino, de internamentos hospitalares por pensamentos suicidas, autointoxicação e auto-mutilação, durante os primeiros 2 anos da pandemia, facto que “sublinha a necessidade de promover políticas de saúde pública que atenuem o impacto da pandemia na saúde mental dos adolescentes”.

Por trás destes preocupantes números podem estar, como é referido, “o isolamento social – agravado pelos receios de contágio e pelas dificuldades financeiras”, já que crianças adolescentes “são particularmente vulneráveis ao sofrimento psicológico associado ao isolamento social”. Há que notar, ainda assim, que a incidência de consultas de saúde mental por parte de adolescentes nos serviços de urgência estava a aumentar desde antes da pandemia.

No que ao uso de medicação para o humor e ansiedade diz respeito, o CIHI informa que durante os últimos 5 anos se registou um aumento constante entre crianças e jovens com idade compreendidas entre os 5 e 17 anos.

 

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Finalmente, um outro dado a ter em consideração tem que ver com o facto de mais de um quarto das crianças e jovens hospitalizados por questões de saúde mental vivem nos bairros menos ricos.

Inês Barbosa/MS

Milénio Stadium: Podemos perceber, desde o início da pandemia, um aumento, entre crianças e jovens, de internamentos e hospitalizações, uso de antidepressivos e interações com organizações de apoio mental, como é o caso da Kids Help Phone?
CIHI: Os dados mais recentes do CIHI sobre hospitalizações de saúde mental de crianças e jovens são de 2020. Embora tenha havido uma pequena diminuição nas visitas às urgências e nos internamentos hospitalares de crianças e jovens com transtornos mentais em 2020, a proporção de visitas às urgências e internamentos por transtornos mentais aumentou [Infografia 3]. Os últimos estudos de investigação que analisam os dados mais recentes também mostram o aumento das consultas de urgência e dos internamentos hospitalares (estudo CMAJ).

 

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Os inquéritos revelaram um declínio da saúde mental entre os canadianos durante a pandemia devido a elevados níveis de ansiedade e solidão, bem como a alterações nos cuidados a que tinham acesso. Em 2020, houve uma diminuição de 20% nos jovens que relataram saúde mental excelente ou boa, enquanto o Kids Help Phone relatou o dobro do número de interações (telefonemas, mensagens de texto, uso de recursos de ajuda autodirigida) em comparação com 2019.

MS: Existe algum tipo de relação entre uma maior prevalência de doenças mentais entre grupos sociais de rendimentos mais baixos?
CIHI: De acordo com os nossos dados, as pessoas que vivem em bairros menos ricos apresentam taxas mais elevadas de visitas às urgências e de hospitalizações por problemas de saúde mental em geral. Esta situação inverteu-se no caso dos cuidados hospitalares relativos a distúrbios alimentares – os habitantes dos bairros mais ricos registaram taxas de hospitalização mais elevadas.

 

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MS: Existem, no Canadá, adequadas infraestruturas e medidas de apoio para ajudar esta fatia da população a lidar com problemas do foro mental?
CIHI: Nos últimos anos temos assistido a um maior esforço de sensibilização para a saúde mental e para as perturbações da saúde mental. Embora a desestigmatização destas questões seja um começo, é importante que as pessoas saibam que recursos estão disponíveis para ajudar e que existe um acesso equitativo a esses mesmos recursos. Os governos também fizeram investimentos significativos na saúde mental e, a nível federal, temos agora um ministro da Saúde Mental e das Dependências. Os compromissos para assinalados por vários níveis de governo. Outras organizações, como a Mental Health Commission of Canada, poderão ter mais informações relevantes sobre esta questão.

MS: O que podemos esperar do futuro? Tendo em conta a conjuntura atual, a tendência é de que os problemas já identificados se continuem a agravar?
CIHI: Da nossa parte, continuaremos a monitorizar as tendências em termos de hospitalizações e visitas às urgências no futuro.

 

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