A hora de agir é agora
Sete décadas após a chegada do navio Saturnia ao Pier 21, em Halifax, atingimos um ponto crucial de reflexão que irá determinar o futuro da nossa comunidade neste país. Se no passado a integração dos portugueses na sociedade canadiana foi um desafio, hoje esse fenómeno, aliado à multiplicidade de plataformas que facilmente nos transportam virtualmente a Portugal, tornou-se no grande inimigo da nossa homogeneidade.
Com o inevitável desaparecimento dos mais fiéis à preservação do nosso património, a promoção da nossa língua e da nossa cultura por estas paragens será irreversivelmente afetada. A hora de agir é agora. Por isso, é imperativo traçar uma estratégia sustentável que se baseie nos nossos valores e que, simultaneamente, se alargue para além dos elementos que compõem a nossa comunidade. Ao constatarmos que a comunidade portuguesa pertence ao Canadá, facilmente aceitaremos que o nosso futuro também poderá, invariavelmente, depender dos canadianos.
A sugestão é fundamentada em factos históricos que nos ajudam a antecipar o futuro. Para percebermos melhor este cenário, basta que analisemos o percurso de outras comunidades de elevada expressão que se estabeleceram no Canadá antes da nossa. A comunidade italiana, devido à sua proporção, é a que nos proporciona o exemplo mais flagrante, mas outras como a grega, a polaca, a húngara e a croata também nos servem de exemplos. A consequência desta evolução resume-se a dois resultados distintos: a centralização para dentro ou a promoção para fora.
A comunidade húngara é um perfeito exemplo da centralização de serviços e do foco em preservar a sua língua e a sua cultura junto dos seus membros. Debaixo do mesmo teto, realizam-se atividades religiosas, culturais e pedagógicas, mas a promoção para além dos confins da sua comunidade não é prática comum. Por outro lado, os italianos e os gregos, embora proporcionem apoio institucional aos seus, tiveram a preocupação de se venderem para fora, tornando-se parte integrante do panorama social e cultural da sociedade em geral.
Este é o dilema que nos encara. Embora a solução não se resuma a uma das duas sugestões acima mencionadas, a dura realidade é que os tempos são de mudança. Em Toronto, onde a comunidade é maior, o processo de evolução, embora mais lento, tem sido impactante. Instituições estabelecidas e de grande influência ou deixaram de operar ou perderam o seu espaço num contexto mais alargado, mas o mais preocupante é o progressivo desafio que as nossas associações enfrentam para formar direções e para atrair novos membros.
As comunidades de menor dimensão já são vítimas desta inevitável evolução. As associações e instituições portuguesas em cidades como Windsor, Sarnia, Saskatoon e Sault Ste. Marie mantêm uma batalha contra o tempo, e outras como Halifax, Saint John, Thompson e Elliot Lake já a perderam. Para que a contribuição de milhares de portugueses e luso-canadianos para o progresso destas localidades não caia no esquecimento, é necessário que nos unamos em torno de um objetivo comum que ultrapasse as fronteiras das regiões onde estamos integrados.
Nas fileiras de espera estão outras comunidades, incluindo as mais numerosas como Toronto, Montreal, Winnipeg e Vancouver. Compete-nos formular um planeamento ponderado e iniciar, voluntariamente, um novo ciclo antes que sejamos forçados a tomar medidas reativas. Como elementos relevantes deste grupo de portugueses e luso-canadianos que escolheram o Canadá para trabalhar e para viver, temos TODOS um papel importante neste processo. Será fundamental quebrarmos barreiras regionais e velhos hábitos, mas, acima de tudo, estarmos abertos a novas abordagens que contribuam para um futuro sustentável da comunidade portuguesa do Canadá, e para a preservação e promoção do seu património.
Paulo Antonio Pereira/MS
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