Portugueses lesados pela FTX juntam-se para tentar reaver dinheiro

A OffChain Lisbon, a vertente lusa de uma comunidade mundial de entusiastas de criptoativos OffChain, está a tentar reunir pessoas para avançar com uma ação coletiva contra a FTX. A organização, fundada por Pedro Aguiar e José Reis Santos, procura investidores nacionais que tenham sido afetados pela falência da segunda maior corretora mundial de criptomoeda, que afetou quase dois milhões de pessoas, em todo o Mundo.

“Contactei uma sociedade de advogados para perceber quais os procedimentos. Temos de reunir um número mínimo de pessoas para que seja relevante e para que os custos, que podem ser elevados porque se trata de um processo internacional, sejam menores”, disse Pedro Aguiar. “Precisamos de chegar, pelo menos, às 100 pessoas”, acrescentou o cofundador da OffChain Lisboa, que reúne entusiastas portugueses dos criptoativos.

“Temos esperança de conseguir recuperar, ainda que demore”, diz Pedro Aguiar, que é um dos lesados. Ao início da tarde desta sexta-feira, cerca de 40 pessoas estavam inscritas no formulário criado pela OffChain, que “não tem uma ideia” de quantas pessoas terão sido afetadas, ainda menos os montantes em causa. “As questões de investimento são muito privadas. Nos nossos encontros discutimos mais projetos, ideias de uma comunidade que se está a construir”, explicou, em declarações ao “Jornal de Notícias”. Os valores envolvidos também são desconhecidos, mas, na maioria, estarão investidores que aplicaram cerca de cinco mil euros, outros valores na ordem dos 20 mil euros e alguns nos 50 mil. A OffChain não pergunta, apesar de ter conhecimento de um jovem que perdeu dezenas de milhar de euros.

A plataforma, que em tempos foi avaliada em 32 mil milhões de dólares (30 mil milhões de euros), pode ter mais de um milhão de credores em todo o mundo, incluindo em Portugal. Até ao momento, a empresa admitiu que deve mais de três mil milhões de dólares (2,8 mil milhões de euros) aos 50 maiores credores.

“FTX era uma plataforma que ajudava a fazer o exchange”, a troca por moeda. “Era muito simples, muito fácil, com um custo muito baixo”, recorda Pedro Aguiar. “Ando neste ramo das criptos há alguns anos e não tinha tudo na mesma carteira. A FTX aparentava ter tudo direitinho, ter tudo regulado, ter fundos” para cobrir os investimentos dos clientes. “Foi tudo muito esquisito, para mim e para para todos os outros”, reconheceu.

Ao contrário da imagem que fazia passar, a empresa de Sam Bankman-Fried não cuidou do capital investido pelos clientes. “Sam fazia-se passar por uma pessoa que não tinha interesse pelo dinheiro, que ia doar tudo, Foi tudo um estratagema, uma vergonha”, comentou o cofundador da OffChain Lisbon. “Agora viemos a saber que funcionava muito mal como uma empresa de cripto, que não tinham registos, não cuidavam dos fundos dos clientes”, acrescentou. “Isto vai ser muito mau para a indústria como um todo. A nossa ideia não é só recuperar o dinheiro, mas também que exista uma política de proteção do consumidor”, acrescenta Pedro Aguiar.

O fundador da FTX foi detido segunda-feira nas Bahamas, onde estava a sede da FTX. Ouvido na terça-feira num tribunal de Nassau, ficou em prisão preventiva. Sam Bankman-Fried, que há meses foi capa da prestigiada revista “Forbes”, está na mira de três organizações: a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês), a CFTC, que supervisiona as transações no mercado de futuros, e a Justiça norte-americana, que acusa o fundador da plataforma de criptomoedas FTX de vários crimes financeiros. Arrisca ficar preso o resto da vida.