A bióloga marinha Ana Hilário, investigadora do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Universidade de Aveiro (UA), é uma das mentoras do Challenger 150, um programa que quer reunir investigadores de todo o mundo para, nos próximos 10 anos, se debruçarem sobre o mar profundo. As extensões de água que se situam entre os 200 e os 11000 metros abaixo da superfície do oceano, conhecidas como mar profundo, ainda são, em muitos aspetos, um mistério.
O programa, que foi desenvolvido em parceria com Kerry Howell, investigadora na Universidade de Plymouth (Reino Unido) e especialista em Ecologia do Mar Profundo, é publicado esta quarta-feira nas revistas “Frontiers in Marine Science” e “Nature Ecology and Evolution”.
As investigadoras, que já viram o programa apoiado por cientistas de 45 instituições de 17 países, lançam um apelo para “juntar mais pessoas, para que ele seja reconhecido pela ONU e seja uma referência na Década das Nações Unidas da Ciência do Oceano para o Desenvolvimento Sustentável, que decorre de 2021 a 2030 para que haja apoio financeiro para desenvolver projetos” ao abrigo do programa, explica Ana Hilário.
A intenção é fazer com que os projetos no mar profundo sigam a lista de princípios enumerados neste programa e que se prendem com “a conduta aquando das investigações, inclusão, partilha de dados, explorar áreas sobre as quais há menos conhecimento, entre outras questões”, refere a investigadora portuguesa.
O programa espera contribuir para que, ao fim de uma década, se tenham “preenchido uma série de lacunas sobre o mar profundo”, o que “só é possível com uma grande colaboração internacional, que inclua pessoas de países que normalmente não são incluídos porque não têm acesso a infraestruturas ou treino”.
“Ainda se desconhece com detalhe que espécies vivem no mar profundo, como os seus ecossistemas influenciam todo o ecossistema terrestre, como as atividades à superfície impactam o mar profundo”, entre outras questões que devem ser esclarecidas para “podermos usar os recursos de um modo sustentável e equilibrado”, sublinha a bióloga da UA.
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O programa, esperam os cientistas, irá gerar mais dados geológicos, físicos, biogeoquímicos e biológicos através da inovação e da aplicação de novas tecnologias. Esses dados poderão ser usados para compreender como as mudanças no mar profundo afetam todo o meio marinho e a vida no planeta.
O novo conhecimento ajudará a tomar decisões a nível regional, nacional e internacional sobre questões como a exploração mineira nos fundos oceânicos, a pesca e a conservação da biodiversidade, bem como a política climática.
JN/MS
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