Vítor M. Silva

Não nos deixemos devorar pelos percevejos

 

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O que têm em comum Viktor Orban da Hungria, André Ventura em Portugal, Santiago Abascal na Espanha, Marine Le Pen na França e Giorgia Meloni na Itália? Todos refletem o crescimento da extrema-direita na Europa. Os que ainda não estão no poder estão a um passo de poder estar, mas já com ampla representação parlamentar. A acrescentar a estes casos temos ainda a Suécia, um país conhecido por ser moderado, onde o partido de extrema-direita está numa posição que, sem ele, Ulf Kristersson não consegue formar governo. Preocupante? Sim!

Vamos ao caso italiano. A Itália como sabemos é a terceira maior economia da União Europeia e a oitava maior do mundo. Não me parece, pelo que fui ouvindo da senhora Meloni, que esta seja uma adepta do modelo europeu vigente. Vamos ter uma situação como a recente vivida no Reino Unido que acabou com a saída deste da União Europeia? O conjunto dos estados europeus aguentam mais este desaire? O discurso da agora primeira-ministra da Itália foi suavizando com a chegada do dia eleitoral, mas não me parece compatível, mesmo assim, com as políticas de Bruxelas. Será interessante seguir esta “longa-metragem política” que já começou com uma clara divisão.

O bem conhecido Sílvio Berlusconi, pasme-se agora eleito Senador e um dos líderes que apoiou a eleição de Giorgia, veio dar apoio a Vladimir Putin, o que não aconteceu com a recente eleita primeira-ministra que apoiou publicamente Vladimir Zelinsky. Isto ainda agora começou e a sorte da Europa pode ser que a tradição dos governos italianos não durarem muito tempo possa tornar a acontecer. E que bom era a brisa da democracia nos continuar a soprar trazendo consigo os valores necessários para vivermos em verdadeiros estados de direito democrático. Só por curiosidade e para cimentar o que referi atrás, desde que a Constituição de 1947 foi aprovada, a Itália teve 64 governos, ou seja, quase um governo a cada ano. Perante o crescimento da crise económica os partidos de extrema-esquerda e extrema-direita vão crescendo, sendo que o denominador comum é a culpabilização das políticas da União Europeia. E o povo vai acreditando.

Nada mais falso, pois se não fosse a solidariedade financeira da citada instituição magna europeia estaríamos, com toda a certeza, bem pior. Mas não podemos dar as culpas só e pura simplesmente aos extremistas, os partidos democráticos e de centro não têm sabido aproveitar, é verdade, a oportunidade que os eleitores lhe têm conferido, eleição após eleição, e agora estão descredibilizados e, claro, com os discursos populistas que vamos ouvindo, não matando a fome a ninguém dão esperança. Mas é uma esperança falsa, com armadilhas. Alguém na Itália quer um Mussolini outra vez? Claro que não! A sedutora Meloni apresenta um discurso diferente, a meu ver embriagado da mesma filosofia, mas mais refinado e escondido. Muito perigoso, na minha opinião. Compreendo quem seja conservador, mas estamos a falar de ultraconservadorismo. A líder dos Irmãos de Itália, a primeira mulher a liderar um executivo em Itália, no seu discurso, dirigiu-se aos seus compatriotas dizendo que os italianos se iriam orgulhar de ser italianos, um discurso claramente nacionalista.

Temos que refletir sobre o que está a acontecer na Europa e no mundo. Todos juntos podemos e devemos fazer bem melhor, a história recente obriga-nos a isso. Como referi atrás, ninguém quer de volta Mussolini, mas também não são desejados Hitler, Tito, Franco ou Salazar só para citar alguns. Apetece-me relembrar Brecht “Escapei aos tubarões, abati os tigres. Fui devorado pelos percevejos”.

Vítor M. Silva/MS

 

 

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