Luís Barreira

Estamos em guerra!

 

milenio stadium - luis bareira guerra

 

A impressão e o impacto causado pelo título de uma recente sondagem de um hebdomadário português, deixou-me preocupado. Segundo essa sondagem, 32% dos portugueses seriam a favor de que a Ucrânia fizesse cedências à Rússia para acabar com esta guerra!

Acreditando que este resultado corresponde a uma realidade portuguesa inquirida sem mais explicações, tal inquérito de opinião incomodou-me. Menos pelo seu resultado, que deve ser sujeito a outra interpretação e muito mais pela iniciativa destes jornalistas em querer criar um facto controverso no país, ou seja: que é considerável a percentagem de portugueses que querem que a Ucrânia ceda territórios ao invasor russo, quando o Governo português e a imensa maioria do nosso povo apoia (…) o povo e o Governo ucraniano, contra o imperialismo russo.

A confusão ou a ilusão social criada por esta sondagem (que não pode ser alheia à subtileza dos seus autores) tinha uma intenção perversa. Afinal, bastava que inquirissem a população portuguesa sobre se está satisfeita com o nível de vida de que dispõem e obteriam um resultado muito mais expressivo do seu descontentamento. E se é verdade que uma das principais causas da atual diminuição do nosso poder de compra, é justificada como uma das consequências da guerra entre a Ucrânia e a Rússia, é preciso que, de uma vez por todas, assumamos que estamos numa guerra imprevisível e que Portugal é um dos aliados da Ucrânia.

Não basta confessar teoricamente a nossa fraternidade para com o povo ucraniano. Isso tem consequências e, embora elas não sejam ainda tão gravosas como seria a nossa participação direta e física nessa guerra ou a utilização das senhas de racionamento, o Governo português não pode (não deve…) aumentar o custo de vida das nossas populações, enquanto a natural consequência dessa guerra, sem justificar a justeza desse aumento e do nosso inegável apoio ao povo ucraniano.

Além disso (e se estamos em guerra), a política económica portuguesa tem de ser adequada à proteção dos mais desfavorecidos pela situação particular em que nos encontramos e condicionada à sua evolução.

A enunciada preocupação fundamental com as “contas certas” em tempo de guerra, não sendo previsível o seu fim (e “que fim?…”), não protege os interesses fundamentais de uma população com dificuldades acrescidas, se bem que tenha de suportar alguns custos deste conflito em que está integrada. Já estivemos submetidos ao empobrecimento causado por essa filosofia financeira e não me parece que ela se adeque à nobreza dos nossos princípios, face ao apoio à causa ucraniana, à de todos os povos do mundo e à nossa própria segurança. O combate à inflação não chega para justificar o aumento de preços dos produtos essenciais, baixando o consumo das famílias quando, por exemplo, o aumento do preço dos combustíveis (utilizado frequentemente como justificação desse aumento), não está em linha com a descida da cotação do petróleo (24% nos últimos 90 dias), sem que tenha sido proporcionalmente acompanhada por uma descida de preços ao consumidor. Este ou qualquer outro governo tem de estar atento às manobras injustificadas dos mercados energéticos e dar justas explicações, para que os sacrifícios exigidos à população sejam compreendidos e aceites como inevitáveis na defesa daquilo em que acreditamos.

Esta guerra é pela defesa do modelo de valores das nossas sociedades democráticas, face à autocracia russa que despreza de forma regular e publicamente as nossas convicções e que impõe uma forte ditadura à sua própria população.

Quando Putin declarou publicamente, e há já alguns anos, querer reconstruir o antigo império russo e repor a antiga zona exclusiva soviética, os países ocidentais não acreditaram nos seus discursos e não se “mexeram” quando ele invadiu a Geórgia e a Crimeia. Essa atitude levou-o a considerar que seria fácil o sucesso no domínio total da Ucrânia e continuar a anexar e a impor-se à maior parte dos países independentes perto das suas fronteiras e os que antes estavam sob controlo soviético, tais como: Finlândia, Estónia, Lituânia, Letónia, Polónia, Chéquia, Roménia, Eslováquia, Hungria, Bulgária e Moldova. Tal não tem acontecido porque os países ocidentais e outros compreenderam finalmente os objetivos de Putin, apoiando sem reservas a defesa da Ucrânia, isolando a Rússia no plano mundial e condenando o Kremlin pelo desrespeito por todas as normas internacionais.
Mas… se travar Putin na Ucrânia é um imperativo essencial para manter esse Estado e diminuir a sua pressão sobre os restantes, encurralar este louco ditador fazendo-o assumir uma derrota militar, levanta outro tipo de problemas ainda mais graves, face à possibilidade de, em desespero, ele vir a utilizar o volumoso arsenal nuclear (para já tático…) que a Rússia dispõe.

Até agora, não me parece que nem o ocidente esteja disposto a ceder a esta chantagem, nem a própria China ou a Índia (potências nucleares que se mantêm neutras) aceitariam este “transbordar” (palavras do MNE chinês) no atual conflito que opõe a Rússia à Ucrânia. Parece-me que a estratégia ocidental vai no sentido de desgastar o arsenal militar convencional dos russos que, associado às perdas económicas provocadas pelas sanções, possam fazer implodir este poder russo que, não sendo fácil num país sujeito a um enorme controlo policial, não deixa de nos merecer uma enorme exaltação por todos os heróis que, nestes últimos tempos e pelo que verificamos pelas reportagens das cadeias de televisão internacionais, dão o corpo às balas em defesa da sua liberdade de expressão contra as atitudes deste autocrata russo.

Saibamos nós corresponder a estes sacrifícios, pelo pouco que agora sacrificamos!

Luis Barreira/MS

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