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O grande maestro

milenio stadium - ivan almeida -. basquetebol - benfica

 

Ivan Almeida é aquilo a que podemos chamar um jogador “com mundo”: começou com apenas 11 anos a jogar basquetebol, na sua terra natal, a cidade da Praia, em Cabo Verde, jogando pelas equipas do Bairro e Seven Stars e dando início à sua conquista de títulos nacionais, individuais e coletivos. Aos 17 anos viajou para Portugal, para integrar a equipa sub-18 da Ovarense, acabando por se sagrar campeão nacional já em 2007. No mesmo ano viaja para os Estados Unidos para se juntar ao seu irmão Joel no Mohawk Valley Community College.

A sua jornada enquanto jogador profissional começou em janeiro de 2012, no Sampaense, equipa da primeira divisão da Liga Portuguesa de Basquetebol.

Seguiu-se a experiência no Vitória SC, nos franceses do Lille, Roanne e Cholet, no Anwil Wloclawek, da Polónia, BC Kalev, da Estónia, CEZ Nymburk, da Chéquia, Galitos, de Portugal, nos italianos Universo Treviso e no Ironi Nahariya, de Israel. Em 2020/2021 voltou a representar a equipa polaca Anwil Wloclawek mas rescindiu contrato, por mútuo acordo, para, em 2021/2022 regressar novamente a Portugal, para representar o Benfica.

Com o número 96 nas costas – o nove em honra ao seu irmão Joel e o seis que já era o número que habitualmente escolhia, tanto nos clubes como em representação da sua seleção nacional – Ivan ajudou o clube das águias, na sua época de estreia, a sagrar-se campeão nacional com uma média de 10.5 pontos, 4.7 ressaltos e 1.9 assistências, terminando a época com um MVP de 12.3.

El Condor, como é conhecido este atleta, ganhou “asas” para levar também o clube encarnado a fazer história, tornando- se na primeira equipa portuguesa a apurar-se para a fase de grupos da Liga dos Campeões: nos três jogos disputados – contra os Golden Eagle Ylli, Keravnos e Brose Bamberg – Ivan fez uma incrível média de 22,3 pontos, 5,7 recuperações e 3,3 assistências.

Se o cabo-verdiano já tinha sido a figura do encontro frente ao Keravnos, ao somar 20 pontos, sete ressaltos e cinco assistências no decisivo embate com o Bamberg esteve completamente imparável, marcando 39 (!) dos 87 pontos diante da formação alemã – num total de 9 triplos em 14 tentativas -, a que se juntaram 8 ressaltos.
Mas o talento de Ivan Almeida não se fica pelo campo de basquetebol: a música é um outro grande amor, que admite fazer parte de si e da sua cultura. É fundador, produtor e artista da iAlmeida Record Label, fundada em abril de 2021.

Está visto que o atleta “dá música” dentro e fora de campo.

 

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Milénio Stadium: O Ivan chegou ao Benfica em fevereiro deste ano e acabou por contribuir imenso para a conquista do campeonato, tendo sido inclusivamente um dos MVP’s do plantel. Com o Ivan é chegar, ver e vencer?
Ivan Almeida: (Risos) Não é bem chegar ver e vencer. A equipa já era excelente e quando falaram comigo em dezembro/janeiro foi no âmbito de melhorar a qualidade do plantel. De salientar também que cheguei depois de duas cirurgias nos pés então tinha muito trabalho pela frente, não só a nível individual, mas também coletivo, para me poder integrar na equipa e dar o meu melhor contributo.

MS: Acabou por renovar com o clube encarnado por mais duas temporadas em agosto. O que é que o fez tomar esta decisão?
IA: A decisão de renovar foi fácil. Continuar numa equipa como o Benfica e poder abraçar novos projetos a nível de competições europeias contribuíram para essa decisão. Também poder avançar com projetos pessoais e estar com a minha família.

MS: Mais recentemente o Benfica conseguiu um feito inédito ao ser a primeira equipa portuguesa a apurar-se para a fase de grupos da Liga dos Campeões. Esta conquista ficou a dever-se em grande parte ao Ivan, que tanto perante o Keravnos como frente ao Bamberg foi a grande estrela da equipa. Estava particularmente “inspirado” nestes jogos, sabendo da importância dos mesmos? Sei que já assumiu que gosta de momentos de pressão…
IA: O objetivo foi sempre a qualificação para a Champions League tanto a nível pessoal como coletivo, e eu estando no meu melhor nível sabia que ia ajudar muito a equipa nesta fase. A equipa fez um grande trabalho e estamos de parabéns.

 

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MS: E como é que se sentiu – e ainda hoje sente, com certeza – ao saber que com estas suas excelentes exibições conseguiu ajudar a sua equipa a fazer história?
IA: Muito feliz por ter alcançado este objetivo com o Benfica, e também um orgulho enorme de ter a minha família presente a acompanhar-me nestes momentos.

MS: Quais é que considera serem as suas melhores qualidades enquanto atleta?
IA: A minha capacidade física, a minha agressividade e a entrega dentro do campo são os meus pontos fortes.

MS: O que é que lhe trouxe, enquanto atleta (e não só) o facto de já ter representado clubes em sete países diferentes?
IA: Trouxe muita perseverança e resiliência. Ter de me adaptar em vários países, diferentes culturas e também modos de pensar, não só a nível de basquetebol mas também na vida quotidiana, o que me ajuda a ultrapassar lesões e momentos menos bons da minha carreira.

MS: Acredito que o espírito vivido entre a equipa também seja bastante importante para que se consiga evidenciar a nível individual – considera que tem esse apoio por parte dos seus colegas?
IA: Sim, o balneário é fantástico aqui. E poder partilhar estes momentos com os meus colegas é uma honra.

 

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MS: Entretanto, em junho deste ano viveu um episódio bem menos feliz, altura em que denunciou ter sido vítima de racismo no terceiro jogo da final do campeonato, contra o F.C. Porto. “Bem-vindos à minha selva. Racismo não, Benfica campeão”, escreveu, na altura, nas redes sociais. A melhor resposta à discriminação é a capacidade em provar que conseguimos, contra tudo e todos, vencer?
IA: Sim, não foi só no jogo 3 mas também no jogo 4. Ouvi coisas que não desejo a nenhum atleta ouvir. Não foram só os atos de racismo mas também com o João Soares e vários outros jogadores do Porto, o Max Landis, Francisco Amarante, entre outros que tentaram agredir-me fisicamente, enquanto celebrava com a bandeira de Cabo Verde. E no final da história, saber que ainda sou eu o culpado e que o conselho de disciplina da Federação Portuguesa de Basquetebol decidiu aplicar uma sanção, em que eu era o único a ser castigado, é algo inexplicável. Não gostaria de ter passado por esse momento, mas a vida é assim e esses momentos é que nos fazem mais fortes. Nunca me vou calar perante tais atos, nem tentativas de agressão física.

MS: O apoio que é – ou não – dado às modalidades em Portugal é um tema que gera sempre bastante discussão. Qual é a opinião do Ivan?
IA: Acho que deviam continuar a apostar mais nas modalidades e formação. Continuar no desenvolvimento de infraestruturas e recursos humanos.

MS: Mas fora de campo o Ivan tem uma outra vida, por assim dizer, ligada à música. É um outro grande amor? Era capaz de escolher entre o basquetebol e a música?
IA: Até agora não precisei de escolher, funcionam bem simultaneamente. Amo o basquetebol mas a música faz parte da minha cultura, está enraizada.

MS: Quais são os seus grandes objetivos para o futuro? Acredito que o apuramento para o Mundial pela seleção cabo-verdiana seja um deles…
IA: Sim, um dos objetivos mais importantes da minha carreira é conseguir levar a seleção cabo-verdiana de basquetebol ao Mundial de 2023. Em fevereiro temos a última janela que decidirá tudo, mas até lá estou focado aqui no Benfica para os nossos objetivos na Liga Betclic e na Champions League. Em relação à música, é dar continuidade ao desenvolvimento da minha label.

Inês Barbosa/MS

 

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