Lifestyle

Morabeza crioula

Aida Batista

Em todos os países, há uma região que é alvo da chacota das outras e, por isso, todas as anedotas se reportam aos seus habitantes. Em Portugal, é o Alentejo! Contudo, ao analisarmos algumas dessas piadas, constatamos que são transversais a outros países, ganhando uma versão diferente aqui e ali, ou um outro qualquer contorno de acordo com as caraterísticas desse território e povo.
No caso dos países colonizadores, como foi o nosso, passados que foram vários séculos, em alguns deles continuamos a ser o alvo preferido das piadas e a manter a imagem em nada condizente com o que hoje somos.
Estou a lembrar-me de uma polémica que estalou em 2009, por causa de um vídeo gravado por Maitê Proença em 2007, em que despudoradamente gozava com Portugal e a forma de estar dos portugueses.
As críticas assanhadas e a onda de indignação entre o Cá e Lá do Atlântico foram de tal ordem, que a atriz se viu obrigada a um pedido de desculpas público e a escrever uma carta dirigida aos portugueses. Em entrevistas, chegou a afirmar que temia ser apedrejada, caso decidisse cá voltar. Da forma comos os ânimos andavam, não diria que tal acontecesse, mas seria, de certeza, insultada nas ruas.
Todos sabemos que, no Brasil, anedota é sempre sobre «português», e a mulher portuguesa ainda hoje não se conseguiu libertar-se do bigode com que os olhos dos brasileiros a pintaram. Tenho muitos amigos brasileiros e, após alguns dias de visita por cá, pergunto com alguma ironia: “Já encontraram a portuguesa de bigode?” Respondem-me com uma sonora gargalhada, dando-lhes eu, em troca, o exemplo de Frida kahlo, cujo buço e sobrancelhas fartas e negras eram a sua imagem de marca, a pedido do grande amor da sua vida, Diego Rivera!
Em contexto de e/imigração, ou de quem já viveu em mais do que um chão, há igualmente a tendência de comparar vivências, destacando-se quase sempre os aspetos negativos, porque estes marcam mais o nosso quotidiano. Mas como hoje são os brasileiros que estão na baila, é ao Brasil que volto.
Em Julho passado, estive em S. Salvador da Bahia, hospedada no Sheraton que, além de pertencer a uma prestigiada cadeia hoteleira, está localizado numa zona nobre da cidade. Quanto ao atendimento, qualidade do alojamento, refeições e simpatia do pessoal, nada a dizer. Tudo correu na perfeição! Contudo, quando viajo, mantenho o hábito de enviar postais para meia dúzia de pessoas, incluindo para mim, como registo de mais um lugar por onde passei.
Havia já comprado, escrito o texto e colocado os respetivos selos nos postais para, como é habitual em todos os hotéis, os deixar na receção. Feito o check-out, entreguei-os e fui surpreendida pela resposta de que o hotel não prestava aquele tipo de serviço! No estou a falar de uma pensão de vão de escada, mas de uma unidade hoteleira mundialmente conhecida, e que fica a 10 minutos da estação de correio mais próxima.
Cheguei a semana passada da Ilha do Sal, Cabo Verde, onde passei oito dias no Oásis Belohorizonte, na cidade de Santa Maria. Esta ilha tem 30 km de comprimento, 12 de largura e uma população que não chega aos 20 mil habitantes. No entanto, no próprio hotel, existe venda de postais e selos. Escaldada que estava com a má experiência do Brasil, preocupei-me em perguntar na receção se lá podia deixar os postais antes de partir.
A resposta foi um rotundo «sim»! Alguns deles seguiram para Toronto, e estou certa de que em breve chegarão aos destinatários.
Não quero, de modo algum, ofender os meus amigos brasileiros, mas lembrar apenas que, por vezes, as grandes metrópoles assemelham-se a uma mansão: luxuosas divisões, mas de um ambiente impessoal; uma pequena cidade costeira pode ser a nossa salinha de estar, onde sentimos o aconchego da «morabeza» crioula que nos conquista logo à chegada.

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