Temas de Capa

Vox Pop – Empregador

 

Se ter trabalho é importante para a sobrevivência de muitos de nós, ter bons trabalhadores é também essencial para a “saúde” das empresas. O equilíbrio entre o que uns (trabalhadores) e outros (empregadores) consideram justo para assegurar a manutenção de um bom posto de trabalho é afinal o que pode determinar o seu futuro. Mas afinal, o que é um bom trabalhador na perspetiva de quem garante emprego? Que dificuldades são vivenciadas pelo empregador? Em que estado estão os valores de ética do trabalho que, durante anos, foram considerados essenciais para a manutenção de uma saudável relação entre as duas partes envolvidas? A julgar pelas respostas que obtivemos, na perspetiva do empregador, honestidade e a lealdade parecem continuar a ser fundamentais.

Do lado dos trabalhadores, é muito comum encontrarmos pessoas que, de algum modo, estão insatisfeitas com o trabalho que lhes ocupa os dias. Seja por considerarem que a remuneração não é justa, seja por não conseguirem gostar verdadeiramente do que fazem, seja porque o ambiente entre colegas não é dos melhores, os motivos podem ser vários, mas há entre eles um ponto comum: a insatisfação com a sua vida profissional. Por outro lado, há também muitos (felizmente!!) que se sentem bem quando saem de casa para irem trabalhar. Porque gostam do que fazem, gostam da interação com os colegas, e porque se sentem realizados profissionalmente. Mas nada melhor do que dar a voz a quem trabalha, e a quem garante trabalho para nos dar uma ideia do peso que a vida profissional tem nas nossas vidas.

Madalena Balça/MS

carlos costa - acsCarlos Costa

ACS Sound Stage

Que tipo de relacionamento tem com os seus trabalhadores?
Antigamente tinha com eles uma relação de amigos. Agora? Não! Aprendi que não pode ser. Aprendi que tenho que separar as coisas porque, principalmente depois da Covid, os trabalhadores deixaram de ser honestos e leais. Percebi que a amizade não existe numa relação patrão/empregado.

Tem sentido dificuldade em contratar pessoal? Se sim, o que está a provocar esse facto?
Não é bem não haver pessoal, mas antes encontrar quem queira trabalhar. As pessoas habituaram-se a viver com subsídios, habituaram-se ao dinheiro fácil e há muita ingratidão. Vou dar-lhe um exemplo, na minha empresa houve uma altura em que contratámos muitos imigrantes. Tratámos da sua legalização, gastámos muito dinheiro com isso e com o treino que precisaram para trabalhar na empresa. O que aconteceu é que quando lhes começaram a acenar com mais uns dólares eles acusavam-nos de assédio, má conduta e outras coisas para se verem livres da obrigação de cumprirem o work permit que conseguiram connosco e foram embora. Agora não quero mais imigrantes. Quero gente honesta.

Acha que os valores e a forma como o trabalhador se relaciona com a empresa mudaram nos últimos anos?
Sim e o grande culpado foi o governo. Na minha opinião foi o governo, que passou a dar tudo em troca de nada, que estragou o mercado de trabalho. Os trabalhadores habituaram-se a isso e agora acham que podem vir para uma empresa, querer tudo e trabalhar cada vez menos. Não há lealdade. O que vale é o dinheiro. Esse é o maior valor agora no mundo do trabalho (pelo menos pela minha experiência).

Depois da pandemia notou alterações no comportamento dos trabalhadores relativamente à empresa?
Sim, muitas mesmo. Acho que há um antes e depois da pandemia. De novo, a culpa foi em primeiro lugar do governo. Além disso, acho que a pandemia trouxe para o mundo do trabalho muitos problemas de saúde mental, de dependências… há muita droga. De vários tipos, mas há muita gente a trabalhar sob o efeito de drogas. E não é só no meu ramo de trabalho. Além disso, as pessoas passaram a encarar o trabalho de maneira diferente. Não há a mesma entrega e empenho.

O que valoriza mais num trabalhador?
A honestidade! Definitivamente a honestidade. Digo sempre aos meus trabalhadores – prefiro que me digam sempre a verdade, que sejam honestos. Se tiverem um problema com um cliente e disserem que está tudo ok, estão a criar um problema bem maior à empresa. Prefiro que sejam honestos e digam a verdade.

Entre os trabalhadores mais novos e os mais velhos que diferenças principais se podem identificar?
Para responder a essa pergunta vou dividir os trabalhadores em três escalões etários – dos 20 aos 35 anos; dos 35 aos 50; e dos 50 aos 65. O que se passa é que os mais novos, trazem consigo um diploma e muitas vezes acham que já sabem tudo. Portanto, até são evoluídos tecnologicamente, mas falta-lhes a humildade de saber que ainda têm que aprender muito, que lhes falta uma coisa essencial que é a experiência. Também têm falta de valores que façam com que se dediquem com lealdade e honestidade a quem os emprega. Os mais velhos, dos 50 em diante, têm muita experiência e dedicação ao trabalho, mas falta-lhes a componente tecnológica que hoje é essencial. O meu foco está na geração que fica entre os 35 e os 50/55 anos. São pessoas que têm valores de trabalho que vêm do tempo em que estudavam, mas tinham um trabalho part-time, que começaram a trabalhar e arranjavam dois/três trabalhos… ou seja, têm uma noção diferente do que é a dedicação ao trabalho e têm também a componente de conhecimento da tecnologia, que é essencial.

 

sergio ruivo Sérgio Ruivo

Sergio Ruivo & Associates

Que tipo de relacionamento tem com os seus trabalhadores?
Acho que tenho um bom relacionamento com os meus trabalhadores. Tenho respeito por eles e quero que tenham um bom desenvolvimento profissional. Em troca espero que tenham interesse e dedicação no trabalho e que o tempo que invisto neles seja um bom investimento.

Tem sentido dificuldade em contratar pessoal? Se sim, o que está a provocar esse facto?
Encontrar pessoal com experiência e com vontade de trabalhar não tem sido fácil. Durante o tempo da COVID-19 o número de pessoal disponível ou a procura de trabalho diminuiu bastante e a recuperação tem sido lenta. Tenho tido algum sucesso com imigrantes mais recentes com alguma experiência, mas exige um esforço maior no treino na integração na firma.

Acha que os valores e a forma como o trabalhador se relaciona com a empresa mudaram nos últimos anos?
Depende da geração de que se fala. Trabalhadores da minha geração tinham conceitos mais tradicionais em relação o que era expectável numa firma profissional… horas longas, e a prioridade número um era o cliente e o trabalho. Hoje em dia, as gerações mais novas pensam mais na qualidade de vida e a lealdade ao patrão não é muito forte. Não digo que é melhor ou pior, mas dificulta o planeamento e evolução de uma empresa. O patrão terá que ser muito mais criativo e flexível para motivar o pessoal.

Depois da pandemia notou alterações no comportamento dos trabalhadores relativamente à empresa?
A tendência de querer trabalhar de casa continuou, pelo menos alguns dias por semana. Neste último ano é que talvez tenho notado uma maior semelhança aos hábitos pré-pandemia, mas ainda não é nem parecido.

O que valoriza mais num trabalhador?
Valorizo iniciativa, honestidade e empenho e a vontade de resolver problemas.

Entre os trabalhadores mais novos e os mais velhos que diferenças principais se podem identificar?
Enquanto os trabalhadores mais velhos tentam ser mais focados e menos distraídos, os mais novos estão constantemente a olhar para o telemóvel e a atualizar as redes sociais. Por vezes, não têm a mesma produtividade.

 

Arnon Melo

Presidente da MELLOHAWK Logistics

Que tipo de relacionamento tem com os seus trabalhadores?
Temos uma óptima relação com os nossos empregados. A nossa empresa é uma empresa familiar e os funcionários da MELLOHAWK Logistics são considerados membros da família.

Tem sentido dificuldade em contratar pessoal? Se sim, o que está a provocar esse facto?
Não encontrámos dificuldades em contratar pessoal, uma vez que o nosso sector, a Logística, é muito específico.

Acha que os valores e a forma como o trabalhador se relaciona com a empresa mudaram nos últimos anos?
Temos uma grande equipa e todos valorizam o que têm aqui e o que a administração fez por eles. Não se registou qualquer alteração nesta matéria, uma vez que não temos uma rotação de funcionários.

Depois da pandemia notou alterações no comportamento dos trabalhadores relativamente à empresa?
Não houve quaisquer alterações, uma vez que fomos muito solidários durante a pandemia.

O que valoriza mais num trabalhador?
Dou mais valor às competências transversais do que às competências técnicas. A capacidade que um funcionário tem para resolver os seus próprios problemas e ajudar a encontrar soluções é muito valorizada aqui. Também a forma como tratam os nossos clientes. As competências de serviço ao cliente são muito importantes para nós.

Entre os trabalhadores mais novos e os mais velhos que diferenças principais se podem identificar?
Os funcionários mais velhos são mais pacientes com os clientes, mas os mais novos trazem conhecimentos tecnológicos para a nossa atividade. Em geral, todos estão concentrados no crescimento conjunto da empresa.

 

wewewePatrick Vieira

Vieira & Associates

Que tipo de relacionamento tem com os seus trabalhadores?
A minha relação com os meus empregados pode ser descrita como uma mistura de profissionalismo e amizade. Prefiro liderar pelo exemplo; gosto de ensinar as pessoas a fazer as coisas em vez de lhes dizer como as devem fazer. Na Vieira & Associates Insurance, estou a gerir um negócio baseado em serviços, temos mais de 10.000 clientes, recebemos centenas de chamadas/e-mails em qualquer dia, por isso ter uma boa força de trabalho é a espinha dorsal do nosso negócio. Os nossos empregados têm como missão, basicamente, satisfazer encomendas e executá-las de forma amigável e profissional. Como gestor profissional, a minha função é garantir que os empregados executam estas tarefas da forma mais eficiente e amigável possível. Ter uma boa relação com todos os meus empregados garante que eles cuidam dos clientes. Há um ditado que me vem à cabeça: “Cuide dos seus empregados e eles cuidarão do seu negócio”.
Dito isto, gostaria de pensar que desenvolvi um sentido apurado de como os meus empregados se sentem, tanto individual como coletivamente. Quando um gestor está a tentar cultivar um ambiente de trabalho saudável e produtivo, é importante compreender que o bom humor é tão contagioso como o mau humor, pelo que os bons gestores devem ter sempre isto em mente. Definir o tom ou criar o estado de espírito é vital e é por isso que parte dos meus dias e pensamentos são passados a tentar perceber como é que o meu pessoal se sente à medida que a empresa vai evoluindo ao longo do ano. Os nossos dias são preenchidos com a realização de uma série de tarefas e a manutenção da concentração. Dito isto, é importante soltarmo-nos e tentarmos divertir-nos o mais possível, dentro dos limites do razoável, para manter a moral do escritório elevada. Por exemplo: por vezes, um almoço com uma pizza ao acaso, um pequeno cartão de oferta pode funcionar como magia; um simples reconhecimento a toda a equipa ou a um indivíduo em particular é muito útil.
Ler a moral atual no escritório pode ser complicado, especialmente quando se lida com uma equipa de mais de 30 pessoas. Quando se trata de organizações de média ou grande dimensão, os funcionários começam a agrupar-se em diferentes grupos, baseados em amizades pessoais, no departamento em que trabalham, na antiguidade, na idade e no género, e até em crenças políticas ou religiosas. Independentemente do dia ou da carga de trabalho atual, é importante que os gestores reconheçam o grupo coletivamente ou o empregado individualmente, dependendo da situação.
Na minha opinião, ser um bom gestor é um comportamento que se aprende, não creio que possa ser ensinado numa escola de gestão, simplesmente vem com a experiência e com o facto de ser uma pessoa de boa índole que pensa nos outros mais do que em si própria. Para manter um ambiente de trabalho saudável, o estado de espírito do empregado faz toda a diferença. Basta olhar para o desporto, por exemplo, e para a vantagem de jogar em casa ou fora. O Benfica joga melhor em Lisboa do que no Porto. Gostaria de acrescentar que o respeito e a compreensão mútuos são outra componente fundamental que um líder de qualquer empresa deve demonstrar em elevado grau. Se o proprietário/gestor da empresa não tiver esta capacidade, não durará muito tempo.

Tem sentido dificuldade em contratar pessoal? Se sim, o que está a provocar esse facto?
Em suma, sim!!! Tivemos muitos desafios em torno desta questão e tornámo-nos cada vez mais criativos no que diz respeito à contratação de novos funcionários. Penso que uma das principais razões para esta escassez é o facto de a imigração no Ontário ter atingido níveis recorde desde 2021; estes recém-chegados estão a exigir bens/serviços e habitação, o que está a colocar uma pressão sobre a maioria das indústrias e a habitação em geral. Muitos destes recém-chegados ainda estão na escola a receber formação e ainda não entraram na força de trabalho, até que o façam, acredito que esta escassez continuará. “Toda a gente tem de trabalhar em algum lado.”
Há relatos de escassez de mão de obra na construção civil, escassez de médicos, a maioria das indústrias está a relatar isto. Penso que cabe a cada sector promover a sua área. Quando falo com os meus colaboradores mais jovens e tento convencê-los a obter a sua licença RIBO de corretores de seguros, digo-lhes: “se obtiverem a vossa licença RIBO, vão garantir um emprego para toda a vida, não conheço nenhum corretor de seguros que esteja desempregado”.
Acha que os valores e a forma como o trabalhador se relaciona com a empresa mudaram nos últimos anos?
Sem dúvida, especialmente com a geração mais jovem. Eles querem saber que estão a trabalhar para uma organização que não só lhes pagará um salário, mas também formará e desenvolverá as suas competências para potenciais oportunidades futuras. O equilíbrio é real e as necessidades dos trabalhadores são, em muitos casos, tão importantes como as necessidades das empresas. Se as empresas não tiverem isto em consideração, perderão pessoal para a concorrência.

Depois da pandemia notou alterações no comportamento dos trabalhadores relativamente à empresa?
No meu escritório, desenvolvemos um modelo híbrido de trabalho a partir de casa durante os períodos de confinamento, o que nos permitiu continuar a servir a nossa clientela durante esse período. Uma vez terminado o confinamento, continuámos com esse modelo apenas para o pessoal que se desloca a mais de 50 km do nosso escritório. Penso que foi uma medida inteligente para nós, porque posso considerar a hipótese de contratar um bom funcionário que viva longe, ao passo que, antes da COVID, nem sequer considerava essa hipótese.
Dito isto, sou um verdadeiro empresário “no escritório”, construímos um belo escritório novo de 10 000 m2 em South Etobicoke e quero ver o meu pessoal. Há pessoas que procuram exclusivamente oportunidades de trabalho a partir de casa, e eu digo que se é só isso que procura, provavelmente não somos o sítio certo para si.
No que diz respeito ao meu pessoal, não vejo que nos tratem de forma diferente desde a pandemia.

O que valoriza mais num trabalhador?
Lealdade e integridade. A minha função é proporcionar as oportunidades, mas preciso de algumas coisas da minha equipa para o fazer: 1. Lealdade. 2. Integridade. As relações empregado/empregador são uma via de dois sentidos, sejamos honestos.

Entre os trabalhadores mais novos e os mais velhos que diferenças principais se podem identificar?
A experiência e a maturidade vêm à mente quando se faz esta pergunta. Aos 42 anos, sou quase uma mistura perfeita entre o jovem e o idoso. Estou numa posição única para poder lidar eficazmente com os empregados mais novos e mais velhos, o que tem sido a base do sucesso que tenho tido até agora. Os empregados mais jovens são muito informados, vivemos numa era de informação e quando não percebem alguma coisa, descobrem sozinhos. Também comunicam de forma diferente do pessoal mais velho, podem ser mais diretos e ir ao ponto, o que considero ser uma coisa boa. O pessoal mais jovem também parece estar mais em contacto com os seus sentimentos ou ter mais sentimentos em geral.
Ambas as gerações têm prós e contras. A geração mais jovem pode, por vezes, carecer de um pouco de concentração, de energia e de resistência, ao passo que a mais velha não. O pessoal mais velho é claramente mais difícil de ensinar, pois está mais assente nos seus hábitos. Seja qual for o caso, é importante sermos capazes de mudar a empresa e experimentar coisas novas.
Como líderes empresariais, temos de aprender a trabalhar com os funcionários mais jovens, pois eles são o futuro, não há dúvida sobre isso. Um dos ditados que gosto de ter em mente é que temos dois olhos, dois ouvidos e uma boca por uma razão. Observar e escutar antes de dar instruções é crucial para navegar neste mundo complexo. Para terminar, gostaria de agradecer a entrevista e de desejar a todos na MDC media e à comunidade lusa um Natal muito feliz e um 2024 abençoado.

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