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Palavras ausentes: O sacudir de consciências

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Na secção que dedicamos aos assuntos comunitários encontrarão neste jornal uma entrevista que fizemos ao recém-eleito Conselheiro que irá representar a comunidade portuguesa residente em Ontário, Manitoba e Nunavut – Laurentino Esteves. Lá encontrarão as motivações, os desafios, as etapas que terão que ser percorridas para que a equipa liderada por Laurentino Esteves trabalhe “Pela Comunidade” como se propôs.

A parte final da conversa foi dominada pelo “sacudir de consciências” (palavras do próprio) que foi a edição do Milénio Stadium, do passado dia 24 de novembro, porque achámos pertinente saber qual a opinião do Conselheiro Laurentino Esteves sobre o estado atual e perspetivas de futuro da comunicação social comunitária.

Milénio Stadium: Na passada sexta-feira (24) e o jornal Milénio apresentou-se sem conteúdos, com as palavras ausentes. Que comentários lhe suscitou esta edição substancialmente diferente do nosso jornal?
Laurentino Esteves: Foi com, enfim, com alguma surpresa que vi a primeira página do Milénio, mas com a qual imediatamente me identifiquei e, portanto, deixe-me que lhe diga, do fundo do coração, que foi um murro no estômago para muita gente e eu espero que seja no estômago e na alma, que o estômago às vezes não pensa ou pensa só quando tem fome. E, portanto, acho que foi um grande murro no estômago. E foi. Acima de tudo, foi um alerta e um sacudir de consciências. Porque muita, muita da nossa gente acomoda-se muitas vezes e acha que é um dado adquirido encontrar o jornal na padaria de manhã, onde vai tomar o seu pequeno-almoço, ou tomar um café, ou num negócio português, ou na sua associação, e por aí adiante, não é? Para que o jornal esteja na rua é necessário que muita gente trabalhe. Gente qualificada, jornalistas, repórteres de imagem, designers gráficos enfim, vários… e sabe, eu escutei algumas pessoas que estavam muito admiradas e muitas que não perceberam o jornal. Lá fui dizendo: “olhe, isto é uma chamada de atenção, porque o jornal tem custos. E houve quem me respondesse – “mas o dono do jornal, o senhor Manuel DaCosta, tem muito dinheiro”. Claro que respondi que o senhor Comendador Manuel DaCosta, ao fazer o jornal, não é obrigado a pôr dinheiro do seu bolso. O facto de ter um jornal comunitário em si já é um grande mérito e, portanto, o jornal só poderá circular e estar na comunidade se a comunidade se interessar e o apoiar. Portanto, não é por aí. E depois ouvi também, de alguns comerciantes, afirmações deste género – “ah, mas nós comerciantes estamos a passar uma crise enorme e não temos dinheiro”. Bom, isto é uma pescadinha de rabo na boca. Se não tem dinheiro para fazer um anúncio semanal ou mensal ou anual no jornal, também não estão a dar-se a conhecer ao público português. Portanto, na minha opinião terá que haver um esforço acrescido quer do comércio quer da própria comunidade em ajudar os jornais e órgãos de comunicação comunitários.

MS: Mas, na sua opinião, que futuro tem a comunicação social comunitária, aqui na nossa região, claro?
LE: A comunicação social no seu todo, falemos agora numa pincelada geral, atravessa dificuldades, porque os tempos mudaram, as novas tecnologias vieram, enfim, não substituir, mas vieram roubar espaço aos meios tradicionais, aos jornais, neste caso aos media escritos. E muitos desses jornais têm dificuldade se afirmarem se Eu, pessoalmente, estou nas redes sociais, mas devo confessar que não dispenso o papel. Quer um livro, quer um jornal, porque tem outro sabor, tem outra dinâmica. E a verdade é que as redes sociais hoje são um antro de muita coisa e de muito pouco rigor e verdade. E, portanto, é preciso que nos apoiemos, nos jornalistas e até nas novas tecnologias temos que nos apoiar nos jornalistas. Ora, esses jornalistas são pessoas que têm famílias, têm boca para falar, mas também têm boca para comer e, portanto, se não forem pagos, não podem trabalhar. No fundo, é esta a dinâmica que nós atravessamos. O jornal. A comunicação social também terá que ser um dos setores que nós (eu e a equipa que me acompanha) também teremos que que ouvir, porque, naturalmente, a comunicação social precisa de apoios do Estado português. Porque a comunicação social comunitária não tem só a missão de dar notícias – tem a missão também de dar a conhecer à comunidade, de divulgar o que a comunidade faz, a divulgar as associações, os clubes e tudo o que vai sendo feito. E as associações e os clubes também têm que ter um outro cuidado com a comunicação social, e agora também falo como membro associativo, dirigente associativo há muitos anos. As associações às vezes só se lembram de Santa Bárbara quando troveja. Lembram-se quando há uma festinha que é preciso convidar a media, e não pode ser, a media tem que ser convocada sempre. Isto porque é através de vocês, da comunicação social, dos jornais, da rádio, da televisão, a comunicação social no seu todo, que as associações dão a conhecer, divulgam as atividades, promovem a cultura e dão a conhecer aquilo que fazem e aquilo que representam. Sem a comunicação social, as associações e as comunidades no seu todo, estão mancas e muito mancas. E, portanto, o fechar ou as dificuldades de um jornal é um tema de grande preocupação. Acho eu. Recentemente, não há muito tempo, fechou um jornal de referência também da nossa comunidade… e, portanto, esta vossa edição foi uma chamada de alerta, mas muito bem feita. Acho que fica na história. Eu já guardei um jornal para que fique aqui de recordação, e vou guardá-lo com muito cuidado, porque, de facto, foi um murro, mas um murro muito grande no estômago. Eu espero que tenha sido no estômago, repito, e na alma, porque às vezes é preciso sacudir a poeira, andamos muito adormecidos. Não nos preocupamos com o que se passa ao nosso lado. Neste caso, é a comunicação social, como podia ser outra coisa qualquer e, portanto, temos de estar atentos. E o vosso jornal foi fantástico. Ficam aqui os meus parabéns, pessoalmente e já agora como conselheiro eleito – parabéns pela vossa iniciativa que foi, de facto, brilhante.

Madalena Balça/MS

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