Temas de CapaBlog

“Estamos, sem dúvida, perante o maior momento da história do futebol feminino em Portugal”

Mónica Jorge, diretora da Federação Portuguesa de Futebol

 

Selecão Feminina

Pedro Álvares Cabral, Vasco da Gama, Gil Eanes, Bartolomeu Dias, Fernão de Magalhães, João Gonçalves Zarco, Gonçalo Velho Cabral e Diogo Cão  são alguns dos mais célebres Navegadores portugueses. Bravos, partiram rumo ao desconhecido, enfrentaram temporais, dissiparam terrores supersticiosos, descobriram novos territórios e difundiram a cultura portuguesa pelo mundo.

Hoje em dia – e numa outra realidade – vemos 23 bravas Navegadoras escreverem, também elas, uma página de história que nos enche de orgulho. A participação da seleção nacional feminina na nona edição do Mundial foi um feito nunca antes alcançado – e se isso não bastasse, o grupo liderado por Francisco Neto mostrou a bravura e “valentia feminina portuguesa” nas exibições que deixaram muito bons indicadores para o futuro. Para além da segura vitória por 2-0 sobre o Vietname, as atletas portuguesas bateram de frente com as bicampeãs dos Estados Unidos da América… e ficaram a um poste de fazer (ainda mais) história – um lance de Ana Capeta, aos 92’, tinha tudo para dar golo, mas o remate foi ao poste. Desta participação ficam, no entanto, notas exibicionais de grande nível, fruto do crescente interesse, desenvolvimento e investimento no futebol feminino em Portugal.

Diretora do Futebol Feminino e membro da Direção Executiva da Federação Portuguesa de Futebol, Mónica Jorge conversou com o jornal Milénio Stadium acerca do atual estado do futebol feminino no país e do impacto desta modalidade a nível nacional. Às funções já referidas, Mónica junta ainda a de membro do Comité do Futebol Feminino da UEFA, delegada da UEFA para jogos internacionais, observadora técnica da UEFA para jogos internacionais e membro da Comissão da Mulheres e Desporto do Comité Olímpico de Portugal. Entre 2007 e 2012 assumiu o comando da seleção nacional feminina, já depois de ter sido treinadora adjunta, entre 2000 e 2007.

Milénio Stadium: Em que ponto podemos dizer que está, a nível global, o futebol feminino no país?

Mónica JorgeMónica Jorge: No melhor ponto de sempre, mas ainda numa fase inicial de crescimento. Tínhamos pouco mais de quatro mil praticantes há uma década, vamos em cerca de 15.500 e o nosso objetivo é atingir as 75 mil no final desta década. Ou seja: multiplicámos por três e meio em 10 anos. Mas queremos multiplicar por cinco nos próximos sete – e sim, achamos possível. O crescimento do futebol feminino em Portugal tem tudo para poder ser exponencial e acreditamos que ainda vamos numa fase inicial desse caminho.

MS: Como podemos explicar não só o maior número de mulheres a querer jogar futebol como também o cada vez maior interesse do público não só no futebol como no desporto feminino, de forma geral?

MJ: As pessoas gostam de seguir os bons exemplos. E acreditamos que temos tomado boas decisões nos últimos anos, que ajudaram a encontrar o caminho do sucesso. Só gostamos do que conhecemos. Até há poucos anos, mesmo os adeptos do futebol não tinham uma identificação com as principais figuras do futebol feminino, não conheciam os seus nomes. Hoje, qualquer adepto de futebol sabe quem é a Jéssica, a Dolores, a Tatiana, a Kika, a Telma… As meninas de todo o país olham para o sucesso da nossa Seleção Feminina e sentem que também elas podem jogar à bola e vir a ter sucesso no futuro. Era esse o passo que era preciso dar. O resto virá por acréscimo. Ou seja: tem sido uma junção virtuosa de sucesso dentro do campo e maior exposição pública e mediática. O Canal 11, acabado de fazer quatro anos, tem sido importante com as transmissões dos jogos das nossas seleções femininas e da Liga BPI. E, claro, o trabalho dos clubes e das associações distritais.

MS: Quais são os grandes objetivos para a modalidade no futuro?

MJ: Pôr cada vez mais meninas e mulheres a jogar futebol. Dar-lhes condições de evoluir desportivamente, tendo competições cada vez mais atrativas para jogar e expor o seu futebol. Os nossos clubes já compõem a sexta melhor liga feminina da Europa – há três anos nem no Top 10 estava. Há uma década, em cada 100 praticantes federados FPF, só duas eram mulheres. Hoje são 7. Mas queremos que sejam pelo menos 10 até ao fim da década.

MS: A participação da seleção nacional feminina no Mundial que está a decorrer na Austrália foi, por si só, um marco histórico. O que é que isto significou para a Federação? Que impactos esperam que esta conquista tenha no futuro?

MJ: Estamos muito orgulhosos, mas não estamos surpreendidos. Acima de tudo, foi mais um passo importante para que cada vez mais gente se aperceba do bom trabalho que tem sido feito e do potencial enorme de crescimento que o Futebol Feminino tem. Acreditamos que o futuro está à frente do Futebol Feminino e que conseguiremos agarrar todas as oportunidades. Sabemos que os clubes e associações distritais vão continuar a apostar no Futebol Feminino. Sabemos que os nossos parceiros e patrocinadores vão continuar a investir. Sabemos que a FPF vai continuar a aproveitar todas as oportunidades e a todos os escalões formativos oferecer mais e melhores condições.

MS: Podemos dizer que estamos perante um dos mais importantes momentos da história do futebol feminino de Portugal?

MJ: Estamos, sem dúvida, perante o maior momento da história do Futebol Feminino em Portugal. A presença inédita num Mundial já o tinha sido. O primeiro golo e a primeira vitória foi outro. E a extraordinária exibição frente aos EUA, número 1 do ranking mundial e bicampeão do mundo, foi a maior demonstração da qualidade que já temos. Os EUA estavam há mais de oito anos a marcar em todos os jogos nos Mundiais. Não podiam perder se quisessem continuar. Empatar com os EUA, não sofrer qualquer golo e rematar ao poste nos descontos de um jogo decisivo do Mundial é algo que só uma grande Seleção seria capaz. Portugal mostrou que já é uma grande Seleção e vai ser ainda mais. 

MS: Ainda assim, existe uma longa estrada a percorrer em termos de paridade e igualdade da mulher – um exemplo disso mesmo é a disparidade entre as verbas atribuídas pela FIFA aos Mundiais masculino (cerca de 400 milhões de euros) e feminino (138 milhões de euros). E isto acontece ao mesmo tempo que a referida entidade prevê que sejam ultrapassados os 2 mil milhões de telespectadores das transmissões televisivas em pelo menos um jogo do campeonato feminino, enquanto que a final do Qatar foi vista por 1,5 biliões. Como é que olham para esta realidade? 

MJ: A FPF olha para a afirmação do Feminino e para a Igualdade de género como questões cruciais. As mulheres são 52% da sociedade portuguesa e tiveram um crescimento 70% superior ao dos homens nos nossos federados na última década. Há 10 anos, só uma em cada quatro seleções eram femininas, agora são quase metade. O mesmo em relação às competições. O nosso compromisso com a aposta no Feminino é evidente e ainda vai crescer mais. Ao nível global, o crescimento do interesse e do potencial mediático e comercial do Futebol Feminino tenderá a uma redução nesse fosso.

Madalena Balça/MS

 

Redes Sociais - Comentários

Artigos relacionados

Back to top button

 

O Facebook/Instagram bloqueou os orgão de comunicação social no Canadá.

Quer receber a edição semanal e as newsletters editoriais no seu e-mail?

 

Mais próximo. Mais dinâmico. Mais atual.
www.mileniostadium.com
O mesmo de sempre, mas melhor!

 

SUBSCREVER