Temas de Capa

Melissa Simas

 

“Vemos uma geração jovem a querer ajudar a gerir ou mesmo a dirigir as associações. À medida que continuamos a envolver-nos com as associações/clubes, aprendemos uns com os outros e, com isso, melhoramos. Quando a nossa comunidade está junta, é como quando éramos miúdos na garagem ou nas praias com muitas das nossas famílias.”Melissa Simas, 37 anos

 

Clube a que estás associada
Membro da Direção da Casa dos Açores de Ontário

Fim de semana típico nos teus 20/30 anos
Ia jantar com os meus amigos, saíamos para dançar e quando fazia parte da Casa dos Açores estava lá na Festa para ajudar, mas depois saía sempre mais cedo com as minhas amigas e saía com elas. A discoteca era o sítio onde passava o resto da minha noite.

Quantos Clubes/Associações portugueses conheces?
Demasiados, o meu palpite seria um pouco mais de 50.

Valor global dos Clubes/Organizações portugueses? Positivo/Negativo? Porquê?
É óbvio que não queremos perder a nossa cultura, o que é positivo. Queremos mantê-la, não só para nós, mas também para os nossos filhos e netos. Penso que o aspeto negativo é que não está atualizado e é por isso que tenho medo que se desvaneça, porque não há realmente atração.

Interessam-te? O que levou a envolveres-te?
Os meus pais estavam envolvidos, por isso a comunidade estava como que instalada em mim e eu gostava. Mais velha, vi o valor desaparecer, mas durante a universidade tive aulas de português e isso fez-me querer voltar a envolver-me.

Que atividades/programas sabes que existem?
Não muitos, sei que têm programas para a terceira idade, porque é uma população muito envelhecida, por isso temos de manter esses programas, são necessários, mas acho que há falta de atividades para os mais jovens.
Sei que alguns deles têm escolas portuguesas. Mas sei que há grupos folclóricos, equipas desportivas como o futebol e o hóquei em bola.

O que é que gostarias de ver?
Muitos dos eventos nos clubes baseiam-se nos costumes que as pessoas trouxeram quando imigraram para o Canadá, o que é ótimo. Não gostaria de os abolir, mas talvez acrescentar eventos mais direcionados para os jovens. Penso que precisamos de um inquérito ou estudo para ver o que os jovens querem ver. Talvez queiram ver um espetáculo, talvez queiram ver uma comédia, talvez queiram ver um evento desportivo, nem toda a gente gosta de um baile.

Dirias que a maior parte dos eventos que a comunidade organiza são dirigidos a um grupo demográfico mais velho?
Sem dúvida, porque sinto que em todas as casas os seus membros são também um grupo demográfico mais velho.

Que barreiras/obstáculos impedem os novos membros de participar na comunidade?
A parte estática da comunidade, porque não há mudanças, torna difícil que alguém queira aderir. Tem sido a mesma coisa há tanto tempo que é difícil querer participar, porque – se não mudou até agora, será que posso fazer mudanças? Na comunidade, há pessoas nos clubes que são progressistas e querem fazer uma mudança, mas infelizmente há pessoas mais antiquadas que não querem fazer essa mudança ou dar esse salto. Mas estamos a evoluir, já temos casais portugueses de segunda, terceira e quarta geração e casais inter-raciais, por exemplo, o meu filho não é totalmente português, e temos de nos adaptar.
Hoje em dia, as pessoas em geral consideram Portugal fixe, mas o que dizer da nossa representação do país?
Para os meus amigos estrangeiros, Portugal é mais fixe do que para os meus amigos portugueses, porque a imagem que damos de Portugal faz com que pareça muito tradicional, da velha guarda. Entretanto, se formos a Portugal agora, especialmente no continente, é muito progressivo, muito moderno, em comparação com a forma como pensamos aqui. É por isso que os estrangeiros têm a perceção de Portugal como um dos países mais fixes para viajar.

Sentes que é difícil a integração na comunidade? Porquê?
A minha relação com a comunidade é quente e fria. Há alturas em que tenho esta urgência de aderir porque quero mudar e quero tentar tornar as coisas mais atrativas para os jovens e faço isso e sinto que conseguimos fazer a bola rolar, mas depois estagnamos porque alguns indivíduos querem fazer jogos políticos, não são muito convidativos à mudança e torna-se um pouco frustrante. Passado algum tempo, ficamos desanimados e foi isso que aconteceu comigo. Desanimei e afastei-me um pouco. Mas voltei porque quero ver a mudança e espero que mais pessoas mais jovens se juntem à comunidade para que possamos fazer essa mudança positiva.

É possível assistir a uma mudança na comunidade? Será que se vai extinguir? Transformar-se? Que perspetivas tens?
Talvez demasiadas casas, neste momento. Se as coisas continuarem como estão, podemos perder muitos destes sítios. O que é uma pena, não quero que isso aconteça. Vejo alguma esperança, mas tenho dúvidas; há uma geração mais velha nas associações e clubes e depois há uma lacuna de pessoas entre os 30 e os 40 anos que faltam, mas depois vemos miúdos mais novos. Espero que as pessoas que estão nesse intervalo estejam apenas desanimadas e não tenham perdido a fé. Espero que consigamos trazer as pessoas de volta para colmatar esse fosso entre as duas gerações. Acredito firmemente em manter o passado e em manter vivas as tradições, mas se esta comunidade precisa de sobreviver, então temos de nos adaptar à sociedade em constante mudança.

Talvez precisemos de ter uma conversa com estas pessoas que estão desanimadas/à margem para determinar se estão dispostas a voltar ou se se foram embora para sempre?
Há uma urgência em trazer essas pessoas agora, porque a lacuna é grande e precisamos de todos. Podem estar desmotivados como eu, com uma relação de amor/ódio com a comunidade. Mas tem de haver aberturas, tem de haver aceitação da mudança, e isso começa de cima para baixo, com quem está lá agora. Se aceitarmos melhor o progresso, sermos progressistas e termos novas ideias, esperamos que isso encoraje a adesão dos que estão a meio do caminho. Temos de manter a dinâmica, para que os jovens que vemos na comunidade fiquem, porque também não queremos que se vão embora. Se esperarmos demasiado tempo, eles podem ir-se embora porque não satisfazemos as suas necessidades.

Isso pode levar a mais problemas, o fosso pode aumentar de 30-40 para 30-50, e depois quem é que fica a dirigir estas organizações e será que são capazes de as dirigir?
Exatamente, temos de construir a relação com a geração intermédia neste momento, para garantir que as gerações jovens que lá estão agora permaneçam.

O que poderia fazer com que te sentisses mais ligada à comunidade e a Portugal?
Trazer os artistas atuais que estão nas tabelas, agora. Temos tendência a trazer sempre os mesmos artistas mais velhos. Mas tragam alguém mais jovem, alguém que esteja a fazer sucesso agora. Também temos chefs em Portugal com cozinha portuguesa contemporânea. Por isso, tragam pessoas que representem a cultura atual em Portugal para a Semana de Portugal e para os festivais, para estarmos expostos a ela. Se continuarmos a trazer as coisas tradicionais, vamos pensar que Portugal não mudou. Em maio, tivemos Bárbara Bandeira na Nathan Philips Square, o que foi ótimo para ver em eventos que são gratuitos para o público, é importante que os eventos também sejam acessíveis. Se trouxermos artistas da nova era para eventos pagos, do nada… vai ser difícil encher, porque as pessoas não os conhecem. Penso que não se venderia porque ninguém os conhece bem, temos de expor as pessoas e torná-los atuais aqui. Talvez copiar o festival do Dia de Portugal, e no final da noite ter jovens artistas e DJs.

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