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É tudo mais caro: do produto ao transporte

Aumento de preços

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Créditos: DR

Paulo Távora conhece bem o mercado retalhista e de importação de bens alimentares. No seu dia a dia como gestor do Supermercado Távora tem uma visão privilegiada sobre o que estará a provocar o aumento de custo de vida que todos estamos a sentir. É no seu supermercado (para além de outros estabelecimentos) que muitos procuram os produtos portugueses que se habituaram a consumir. Para além de ter notado um maior espaçamento na chegada de produtos de Portugal, e também de outras partes do mundo, com muitos a desaparecerem durante meses, o consumidor/cliente sentiu (e continua a sentir…) um enorme impacto na carteira.

O aumento de preços é uma evidência inquestionável. Para muitos a gestão da vida familiar e a necessidade de pôr comida na mesa sobrepôs-se, assim, ao saudosismo e à preferência por determinados produtos de bandeira do setor agroalimentar português.

Nesta entrevista que concedeu ao Milénio Stadium, Paulo Távora ajuda-nos a perceber o que está a provocar esta situação, sendo que são vários e, por vezes, complexos os fatores que têm contribuído para nos fazer pensar duas vezes antes de comprar algo português no Canadá.

Milénio Stadium: Quando estávamos no pico da pandemia, sentiu-se um aumento de preços de uma forma geral, mas em particular no que diz respeito aos produtos alimentares. Esta situação foi justificada por muitos como sendo reflexo do aumento da procura e diminuição da oferta. Agora que a situação está mais controlada, a vida começa aos poucos a voltar a ser o que era, como se justifica o facto de ainda hoje existir este aumento significativo de preços?

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Paulo Távora, gestor do Supermercado Távora.
Crédito: DR.

Paulo Távora: Eu acho que existem ainda vários fatores que fazem com que os preços estejam mais elevados e que, se calhar, continuem a aumentar. Apesar das coisas aqui no Canadá parecerem estar melhores, há muitos outros países onde as coisas não estão assim tao bem, com, por exemplo, fábricas que produzem o material a trabalharem sem ser na sua capacidade máxima. Por isso, não se produz tanto: quando não há muita produção, a tendência é que os preços dos produtos aumentem. Outra questão passa pelo preço do transporte que duplicou e, aliás, em certos casos triplicou. Produtos que vêm da China, por exemplo, custa mais o transporte do que propriamente o produto. Há até várias empresas a deixar de importar esses produtos por causa disso mesmo. Nós estamos muito dependentes de produtos que vêm da China e há um atraso muito grande nas entregas porque há falta de contentores – por haver falta de contentores, o preço por contentor dobrou e, em certos casos, como referi anteriormente, triplicou. Tudo isso acaba por afetar o preço do produto aqui no Canadá. Temos uma dependência de outros países, por causa desses produtos que são importados, e há países que não estão tão avançados na luta contra a pandemia. Além disso, certas indústrias aqui no Canadá estão dependentes de uma mão de obra que está a faltar – há pessoas que estavam cá ilegais a fazer esse trabalho e que, com a pandemia, talvez tenham voltado para os seus países… Agora as coisas estão a começar a abrir, é muito bom que assim seja, mas o problema é que as pessoas só veem a superfície, porque no fundo ainda estamos a lidar com uma grande falta de mão de obra. Enquanto o governo não abrir bem as fronteiras para as pessoas regressarem para os seus postos de trabalho, vai haver atrasos muito grandes.

Esta questão da pandemia afetou muitos setores, pode parecer que certas coisas estão a abrir, mas isso é só mesmo tocar na superfície, há muito mais por detrás que está a afetar o mercado em geral.

MS: Os custos para se manter um supermercado aberto, garantindo todas as condições de higiene e segurança exigidas pela situação pandémica, também interferem no aumento de custo do produto vendido ao consumidor?

PT: Não, nós não fazemos isso. Primeiro porque tinham que ser feitos muitos cálculos, mas também porque nós estamos aqui para ajudar o cliente. No início chegámos a dar luvas de latex a cada pessoa, máscaras, desinfetante para as mãos, mas nunca aumentámos os preços dos nossos produtos por causa disso. O produto chega e  fazemos os nossos cálculos normais. No entanto, não posso falar por outras lojas. Eu noto que existe um aumento realmente noutros sítios, principalmente na carne, comparativamente ao que nós vendemos. Mesmo nós sabendo disso, e mesmo tendo o custo adicionado pelas precauções que temos que ter e equipamento necessário para a higiene e segurança de todos, não aplicamos nenhuma taxa de aumento no preço dos nossos produtos. Aliás, posso até dizer que nós, Távora, estamos a tentar ser parceiros dos nossos clientes, entendendo as dificuldades que muita gente deve estar a passar. Procuramos ao máximo baixar os preços, tornando os produtos o mais económicos possível para os nossos clientes. Estamos a tentar combater estes aumentos de preço da melhor forma possível de maneira que o nosso cliente não sinta tanto essa diferença.

MS: Os produtos quando chegam ao supermercado já vêm com preços mais elevados?

PT: É tudo mais caro: o produto é mais caro e o transporte é mais caro. O custo de transporte reflete-se na venda final do produto. Quando o produto chega cá ao nosso armazém, já vem com um aumento de preço. Isto está a ser um desafio muito grande para muita gente, porque isto que se está a passar está a ter muita influência dos países de origem dos produtos. Por exemplo: nós no Távora importamos muitos produtos de Portugal e os contentores de tudo o que vem da Europa, Portugal obviamente incluído, duplicaram o preço e depois isso é refletido no preço das coisas. Mas mesmo assim, nós estamos a tentar combater essa diferença de preço. Nós acabamos por reduzir as nossas margens de lucro, para que o cliente não sinta tanto o aumento de preço.

MS: Portanto, o facto de grande parte dos produtos que vende no seu supermercado serem importados também agrava, por consequência, esta situação…

PT: Sim. Por exemplo, o azeite e o óleo subiram muito o preço. Não só o produto teve um aumento muito significativo, como o transporte depois teve um aumento de 50%. Isso tudo vai ser refletido no preço que depois o consumidor vai pagar.

MS: Esses dois produtos que me falou – azeite e óleo – são aqueles em que se nota mais este aumento de preços ou há outras mercearias que se destacam mais?

PT: As carnes, frutas, vegetais, peixe… Todas as empresas que produzem estes produtos essenciais estão com uma grande falta de mão de obra. Não estamos a conseguir arranjar tanto produto como antes e quanto menos oferta existe, mais caro vai ser.

MS: Um dos serviços que passaram a proporcionar ao cliente foi a entrega ao domicílio. Que balanço faz dessa opção que tomaram?

PT: A loja Távora em Toronto sempre fez e continua a ter esse serviço disponível. Nós em Mississauga fizemos isso durante a altura mais complexa da pandemia, foi um grande desafio, trabalhámos imensas horas extras, mas agora estamos a criar a plataforma apropriada para o online shopping e queremos para o próximo ano oferecer um serviço de entrega ao domicílio para os nossos clientes.

MS: Nota um que há uma contenção maior por parte das famílias quando se deslocam ao seu supermercado para fazer compras?

PT: Eu não tenho notado isso, pelo menos até agora. Mas nós, através das nossas promoções semanais, estamos a tentar mostrar aos nossos clientes que estamos, de facto, a zelar por eles. Nós queremos que o cliente sinta que estamos a trabalhar de forma a ajudá-lo em tudo o que for possível.

Catarina Balça/MS

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