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À procura do futuro

 

Esta semana partimos à procura do futuro da cultura portuguesa no Canadá. Que perspetivas existem? Será que a comunidade de origem portuguesa vai diluir-se na sociedade canadiana? Quem poderá garantir que isso não vai acontecer? O que é preciso fazer para “agarrar” os mais novos?

Não sei se encontrarão respostas para estas perguntas nestas páginas, mas encontram certamente várias reflexões de pessoas de várias idades e com diferentes tipos de ligação à atividade comunitária.
O Milénio Stadium, numa tentativa de trazer outras visões e perspetivas, resolveu entregar a responsabilidade do tratamento deste tema a duas pessoas jovens e bem conhecidas da comunidade – Kat Conniott e Paulo Pereira. Eles aceitaram o desafio de serem “Diretores por um dia” do nosso jornal. O resultado está à vista.
Resta-nos agradecer aos dois o empenho, dinamismo e entusiasmo com que se entregaram a esta tarefa.

Madalena Balça/MS

Kat Conniott

Cheguei a Toronto no verão de 2013. Como qualquer outro imigrante, em busca de um futuro melhor e cheio de infinitas possibilidades.

Na altura, com 18 anos, posso afirmar que a minha ignorância cultural era grande e distorcida. Não sabia para o que vinha, nem tão pouco o que aconteceria nos próximos anos. As saudades de casa eram imensas e o medo de não me integrar num país desconhecido ainda maior.

Quando o meu trabalho me colocou no meio da nossa comunidade comecei a entender que estávamos envolvidos num monopólio de poderes e estatutos que precisam urgentemente de ser alterados. Visitei associações, conheci presidentes e afiliados, voluntários e participei de vários eventos organizados por estas casas, que tentam ao máximo preservar a nossa cultura e tradições, e que eu tanto respeito e admiro pela sua resiliência em tempos tão difíceis como os de agora… mas não posso deixar de refletir sobre o facto de, nestes mesmos eventos, que se repetem ano após ano, verificar uma discrepância enorme nos grupos de faixas etárias. Onde estão os jovens?

Não me entendam mal. Somos o que somos hoje devido às nossas gerações seniores e é importante agradecer por tudo o que foi construído até agora. Mas é também hora de aceitar que o mundo mudou, que a vida avançou, e que precisamos de mais e melhor para atrairmos a nossa comunidade jovem. Isto não quer dizer que se deve acabar com as festas, os bailes e eventos, mas sim que é preciso reconhecer a falta de inovação, arregaçar as mangas e produzir conteúdo novo.
Quando falo com colegas e amigos todos expressam o seu descontentamento devido à falta de programas e eventos direcionados para as gerações mais novas. Temos o nosso rico folclore, que deve e tem de ser mantido como parte integral do nosso património, mas isso significa que devemos fechar os olhos às infinitas opções que podíamos criar para atrair o público mais jovem?

Primeiramente, temos de permitir a participação dos mais jovens, que mesmo sem experiência de como gerir uma associação ou um evento, podem trazer ideias novas e renovar o que está a ficar velho. Temos de deixar o orgulho, o medo e também o ego que culmina o nosso meio e sermos mentores do futuro. Abrir as portas, ouvir propostas, trazer programas dinâmicos, organizar eventos com artistas novos, oferecer programas de apoio e acolhimento aos novos imigrantes, criar grupos artísticos como teatro, dança, música, pintura, noites de convívio, comédia, partilhas de histórias e muito mais. Uma das opções que ouvi de alguém conhecido, era de que gostava que existissem mais atividades educativas como em Portugal, como fins-de-semana didáticos e com atividades sensoriais para crianças e pais poderem partilhar. Também me foi dito que gostariam de ver excursões a serem realizadas para a comunidade mais jovem, sem qualquer tipo de ligação ao folclore ou religião. Tenho de confessar que também ouvi pessoas a afirmarem que não participam em mais eventos da comunidade porque se cansaram de ver e ouvir o mesmo, por mais respeito que tenham à nossa cultura.

O desagrado é visível e claro: só não o vê, quem não quer.

Encontrar um balanço não vai ser fácil, mas tem de ser feito. O quanto antes.

Fiz esta pergunta: “Acha que a comunidade portuguesa vai deixar de existir?” e recebi respostas como: “Para mim já morreu.”, “Inevitavelmente.” “Não há dúvidas quanto a isso.” “Daqui a uns anos, os nossos netos nem vão saber a localização das antigas associações portuguesas.”. Iremos conseguir reverter estes pensamentos e mostrar que a língua de Camões pode perdurar e vingar neste país?

Nem eu própria sei a resposta. Nem eu sei o que irá acontecer.

Mas sei que podemos ser mais e fazer mais ainda, especialmente juntos.
A chave para abrir essa porta está na integração de duas gerações distintas, mas com o mesmo objetivo em comum: eternizar as nossas raízes, que tanto custaram a cultivar, e sermos os ramos de lembrança daquilo que é importante preservar.

 

Paulo Junior Pereira

Liderar vem com uma obrigação de ver, examinar e executar. Nesta edição do jornal, um pouco atípico por ter sido editado por vozes diferentes, fomos conversar com a comunidade: a nossa comunidade representada por pessoas de vários grupos e demografias distintas. Não é uma abordagem extensa, nem completa, mas pode vir a ser os primeiros passos nas conversas que têm de ser feitas.

Nós todos sentimos a nossa portugalidade de maneira diferente e vemos a vida por olhos diferentes. Mas quando existem temas que se repetem, conversa após conversa com pessoas de grupos diferentes, idades diferentes, temos de pensar se existe algo que temos de observar.

Ver os pontos de vistas de pessoas ligadas e afastadas da nossa cultura. A cultura do luso-canadiano. Por mais que sejamos e sintamos que somos portugueses, seremos sempre um povo influenciado pela sociedade canadiana.

A nossa cultura é normalmente representada e preservada pelos grandes esforços dos clubes e associações espalhadas pelo país inteiro. Essas organizações tiveram um papel enorme em desenvolver a entidade do luso-canadiano, mas não foram, nem são a única influência. Cada vez mais hoje, a cultura portuguesa está a mudar, mas a representação da cultura aqui parece estagnada. Será que os clubes fazem um bom trabalho a representar a cultura? Será que a cultura é de interesse das futuras gerações? Não posso responder, só posso dar as minhas opiniões. Mas, talvez nas opiniões dos mais sábios, como nas opiniões dos mais afastados podemos examinar o trabalho feito e definir os problemas que enfrentamos. Temos de ter essas conversas. Reparar em tendências, escrutinar as observações e só depois liderar.

Como disse, esta edição não é uma abordagem extensa nem completa, mas espero que seja um dos primeiros passos. Deixo aos leitores a análise das entrevistas e a discussão das perceções. Mas quando me perguntam, “Há cultura no Futuro?”, respondo: há, mas vai ser diferente e prestada por meios diferentes.

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