Portugal

Venda de medicamentos para tratar obesidade duplica em quatro anos

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Farmácias entregaram mais de 80 mil embalagens em 2023. Falta de comparticipação dificulta acesso.

O uso de medicamentos para combater a obesidade quase duplicou em Portugal nos últimos quatro anos, apesar de serem caros e não terem comparticipação. Sociedades defendem que é preciso facilitar acesso  para tratar utentes e evitar outras doenças.

De acordo com a Associação Nacional de Farmácias, no ano passado foram vendidas 82 513 embalagens de preparações antiobesidade que integram a composição do Xenical, Saxenda e Mysimba (os três produtos aprovados pelo Infarmed para serem comercializados em Portugal), um aumento de 80% face às 45 787 vendidas em 2019. O aumento tem sido constante: em 2020 venderam-se 46 500 embalagens, em 2021 foram 55 173 e, em 2022, 60 259.

Para José Silva Nunes, presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade, os números mostram uma mudança: 20 anos após a Direção-Geral de Saúde (DGS) ter considerado a obesidade como uma doença, os utentes e profissionais de saúde começam a olhar para a obesidade de outra forma e a tentar tratá-la. São sinal, também, do “sacrifício” dos utentes para acederem à terapêutica farmacológica, que é cada vez “mais  eficiente” e se assume como “um dos pilares do tratamento da doença”.

José Silva Nunes fala em sacrifício porque os medicamentos oscilam entre os 80 e os 240 euros (por caixa de comprimidos ou canetas injetáveis para um mês) e, apesar de ser necessária receita médica, não são comparticipados pelo SNS. O Infarmed adianta que os medicamentos para a obesidade “não têm neste momento enquadramento legal para ser comparticipados em Portugal”.

Mais desfavorecidos

A falta de comparticipação cria “uma situação de iniquidade”. O acesso à medicação “está limitado às pessoas com maior disponibilidade financeira”, mas “são as classes economicamente mais desfavorecidas que têm maiores taxas de prevalência de obesidade”, diz José Silva Nunes.

Paula Freitas, presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, também diz que “há muitas mais pessoas que precisariam de tratamento, mas infelizmente não têm meios” para comprar a medicação. A DGS considerar a obesidade uma doença não chega, é preciso dar mais passos para tratar as pessoas “com dignidade”, o que passa por comparticipar os medicamentos e dar formação aos profissionais de saúde, defende Paula Freitas. “Se deixarmos a obesidade evoluir, as pessoas vão ter outras doenças. Tratar as consequências é mais caro do que tratar o indivíduo numa fase inicial”.

A preocupação face à obesidade tem motivado novos estudos (como o “Pas Gras”) e fármacos. Aguarda-se que o Wegovy, um novo medicamento já aprovado pela Agência Europeia do Medicamento, seja também autorizado em Portugal. Paula Freitas diz que é “mais potente” a reduzir o peso e estudos mostram que tem impactos positivos a outros níveis, reduzindo em 20% os eventos cardiovasculares.

Há doentes que não conseguem tratar a obesidade de outra forma e são submetidos a cirurgia, sendo que aqui se verifica uma redução.

Dados

Menos cirurgias
Segundo a Administração Central do Sistema de Saúde, em 2023, foram operadas 1965 pessoas devido a obesidade (dados provisórios). Isto representa uma descida face a 2019, altura em que se realizaram 2831 cirurgias. Nos anos de 2020, 2021 e 2022, realizaram-se 1494, 1574 e 1977 intervenções, respetivamente.

Esperam meio ano
No final de 2023, havia 1397 utentes em lista de espera, que aguardavam em média “5,5 meses, a mais baixa registada nos últimos cinco anos”, diz a Administração Central do Sistema de Saúde.

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