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Brasileiros retidos no Porto: “Já paguei 10 mil reais em passagens”

A pandemia de Covid-19 está a criar barreiras que já não se imaginavam possíveis. Para os brasileiros que estão no Porto, o desespero de não conseguir voltar a casa está a aumentar as ansiedades.

À porta do Consulado Geral do Brasil no Porto, juntaram-se esta quinta-feira de manhã perto de uma centena de Brasileiros na esperança de obter respostas e soluções.”Os nossos voos foram cancelados e não nos realocaram noutros. Não nos deram nenhuma explicação e também não nos atendem o telefone nem respondem emails”, reclama, indignada, Janaína Kanni Galhardo, à porta do consulado, na Rua de França, na Boavista.

É médica e veio para o Porto para dar aulas na universidade. “No dia 14, o mundo parou e já não consegui fazer mais nada. Mas há também brasileiros que vieram de férias ou estudantes que viram as suas bolsas de estudo cortadas e não têm condição nenhuma de ficar cá. Não têm dinheiro para comer nem para dormir.”

Com o encerramento de fronteiras aéreas de vários países da União Europeia, na tentativa de conter o surto de coronavírus, a maior parte dos voos, quer do Porto, quer de Lisboa, foram cancelados.

O cenário é assustador e o pânico começa a instalar-se porque não há expectativa de conseguirem voltar para o país. Pelo menos não tão cedo. Para já, estão a receber do consulado um salvo-conduto (documento que permite que circulem nas ruas) quer para comprar bens, quer para estarem à porta do consulado. Isto porque, depois de declarado o estado de emergência, as movimentações na cidade poderão ser bastante limitadas.

“Os brasileiros estão sem saber o que fazer porque aquilo que queremos é voltar para casa, não temos intenção nenhuma de ficar cá neste momento e há muitos médicos neste grupo que quer voltar para o Brasil para ajudar”, lembra Janaína, tentando manter a calma.

Quem passou pelo consulado na quarta-feira, recebeu vouchers de cerca de 30 a 50 euros diários para poder comprar alguns bens ou pagar alojamentos, revelou o grupo. Para hoje, ainda não foi disponibilizada essa verba.

O dinheiro começa a escassear e as contas já começam a emagrecer demasiado. Emanuel Mendes chegou ao Porto no dia 9. Hoje tinha voo para São Paulo, mas, como tantos outros, foi cancelado. “A minha estadia era de dez dias, vim com passagem comprada. Estou a ter que prolongar a hospedagem e não sabemos até quando o dinheiro vai aguentar”, conta Emanuel.

O problema maior, diz o grupo à porta do consulado, é que as companhias aéreas estão a “aproveitar-se da situação”. “Há brasileiros que já gastaram 30 mil reais (cerca de 3400 euros) para tentar voltar e não conseguiram embarcar em nenhum voo. O valor do voo virou lotaria. Dependendo da hora e da informação do Governo Português, os preços mudam. É um desrespeito total. É oportunismo da situação declarado”, insiste Janaína.

“Eu paguei anteontem 5600 reais por uma passagem. Ontem, à meia-noite, cancelaram e deram um voucher. [Ao todo] Já paguei 10 mil reais (1800 euros) em passagens”.

Para já, dizem que estão a ser bastante bem tratados pelo consulado que está a gerir a situação. “O consulado brasileiro vai-nos providenciar um salvo-conduto para que possamos também vir aqui porque, hoje de manhã, a polícia já esteve aqui, com cerca de dez viaturas, em função de um possível tumulto”, descreveu Carlos Alberto Silva que veio para o Porto de férias e deveria voltar hoje para São Paulo. “Não havia tumulto, mas sim uma fila de pessoas à espera de ser atendido porque precisamos de uma solução”.

No meio do medo, ninguém desiste. Apesar do desespero, a entreajuda é essencial. “Nem todos temos as mesmas possibilidades por isso, alguns de nós, que já estivemos também cá ontem, juntamos dinheiro para ajudar os brasileiros que estão presos e que já não têm dinheiro para se manter”, rematou Janaína.

JN

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