Luís Barreira

Da surpresa brasileira à certeza da seca!

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O último fim de semana foi essencialmente marcado pelas eleições brasileiras que tiveram um especial destaque mediático em Portugal, onde residem mais de 80 mil brasileiros inscritos para votar, num universo de mais de 250 mil que estão no país.

Num inesperado “taco a taco” quase até ao fim das eleições, entre os dois principais concorrentes, ex-Presidente Lula da Silva e o atual Presidente Jair Bolsonaro, o primeiro acabou por vencer com cerca de 48% dos votantes, contra cerca de 43% do segundo, com uma margem superior de 5%, que equivale a uma diferença de 6 milhões de votos a favor de Lula da Silva. Em Portugal os brasileiros deram uma clara vantagem a Lula sobre Bolsonaro.
Inesperado resultado porque todas as sondagens mais credíveis brasileiras apontavam para uma vitória muito mais confortável de Lula (mais de 50% dos votos), que lhe daria a possibilidade de vencer o seu antagonista logo à primeira volta, situação que não se verificou e que os obriga a um novo escrutínio em finais de outubro.

Entretanto, muito se tem especulado sobre este atual desaire das sondagens, cujos efeitos se têm verificado noutras ocasiões e em diversos países. Muito comentadores justificam esta contradição, entre o resultado previsto pelas sondagens e a realidade da votação, como sendo uma consequência do chamado “voto envergonhado” (pessoas que recearam afirmar nas sondagens o candidato em quem iam votar, votando num outro) e que, a publicação permanente da vitória de Lula da Silva à primeira volta, pode ter influenciado uma estratégia eleitoral mais fraca de Lula e uma reformulação mais aguerrida da campanha de Bolsonaro. Seja como for, este fracasso das sondagens coloca em evidência o grau de imprevisibilidade destas pesquisas quantitativas, obrigando estas empresas de sondagens a um reforço qualitativo dos inquiridos, para que os seus resultados finais correspondam melhor à realidade do voto dos mesmos.

O que se segue, mesmo que Lula vença a segunda volta, com alteração do seu discurso habitual e possíveis alianças com outros partidos e face aos resultados obtidos pelos restantes candidatos a deputados locais, federais, governadores e senadores, maioritariamente ligados à eleição de Bolsonaro, o clima governativo deste país lusófono, acantonado entre duas posições tão extremadas, não será fácil para o seu líder, no caso de Lula vencer. Situação que não é um dado adquirido, se Bolsonaro começar a decretar medidas de apoio aos mais pobres, eleitorado que, segundo as suas próprias palavras, lhe escapou.

Fácil também não é, de todo, a enorme seca que atinge Portugal, onde praticamente não chove e as temperaturas, para gáudio dos turistas e de todos aqueles que não o sendo aproveitam para se expor ao sol, a oscilarem entre os 28° e os 30°, em pleno mês de outubro, sem que se vislumbre quando passaremos a usar o guarda-chuva!…

Porque o aquecimento global não atinge somente Portugal, a vizinha Espanha, a braços com o mesmo problema, decidiu diminuir o caudal dos rios que nascem em terras do seu reino, nomeadamente os rios Minho, Douro e Tejo, “afogando” de problemas os nossos agricultores e as reservas de água potável de algumas das nossas localidades. Para além disso, muitas barragens estão abaixo das cotas mínimas, o que já levou os serviços competentes portugueses a suspender temporariamente a produção hidroelétrica de 15 das barragens nacionais e que, para além da falta de recursos hídricos, aumenta a despesa na recuperação de outro bem essencial: a eletricidade!

Noutra ocasião, aproveitando a nossa longa costa marítima, tive a oportunidade de sugerir a construção de centrais de dessalinização para obstar à falta (previsivelmente cada vez mais prolongada) de água potável, especialmente para não deixar morrer a nossa agricultura e pecuária. Mas, um destes dias, fui surpreendido pelas declarações televisivas de um considerado “técnico do assunto”, negando que as centrais de dessalinização sejam uma solução para o nosso problema, porque vão consumir mais eletricidade e os agricultores teriam de pagar os custos deste processo!… A solução, segundo ele, é poupar no consumo de água! Eu acrescentaria… enquanto ela existe!

Claro que não me oponho a que se poupe água (nomeadamente aquela que é desperdiçada em avarias constantes nas inúmeras condutas por este país fora), desde que essa poupança não se faça à custa daquilo que vai sendo habitual, ou seja, o aumento de preço aos consumidores. Além disso, a avaliação dos prós e contras da construção de centrais de dessalinização não pode ser feita por um qualquer técnico, por muito bem-intencionado que seja. É necessário um juízo global sobre o futuro do nosso clima, o tipo de agricultura e pecuária maioritária que temos atualmente e as necessidades básicas de uma população centrada nos grandes centros populacionais.

As ditas centrais não são um fim em si mesmo e o ideal seria termos uma agricultura organizada para um consumo de água restrito e uma rede de distribuição que não desperdiçasse tanta água. Mas, para além de algumas poucas exceções, não temos, nem vamos conseguir reconverter todos esses problemas no espaço e no tempo que uma falta de água generalizada não nos leve à falência dos nossos produtores agrícolas e nos lance na importação maciça dos produtos da terra e da carne, pelo que há que encontrar soluções de recurso para minorar os efeitos da seca que, atualmente, não é um fenómeno passageiro.

A compreensão deste fenómeno que nos atinge e ao qual não somos alheios, exige um olhar sobre os efeitos da seca prolongada em várias regiões do globo e decisões preventivas.

Precisamos de gente que saiba vaticinar o futuro, com base no conhecimento do presente!

Luis Barreira/MS

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