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Morreu Bento XVI, o Papa emérito

1927-2022

Visita do Papa Bento XVI em Lisboa
Lisboa, 11/05/2010 – Primeiro dia de visita do Papa Bento XVI a Portugal.
Hora : 18 : 30
Local : Terreiro do Paço
Na Foto : Bento XVI
( António Simões / Global Imagens)

 

O Papa emérito Bento XVI morreu neste sábado, aos 95 anos, no mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano, onde vivia há cerca de dez anos. Bento XVI , cujo nome de batismo é Joseph Ratzinger, foi eleito para presidir os destinos da Igreja Católica em 2005, sucedendo a João Paulo II. Renunciou em 2013, sendo desde então Papa emérito.

“O corpo do Papa Emérito estará na Basílica de São Pedro no Vaticano para a despedida dos fiéis” a partir de segunda-feira, revela o gabinete de imprensa da Santa Sé.

Joseph Aloïs Ratzinger nasceu a 16 de abril de 1927, em Marktl am Inn, uma aldeia alemã da Alta Baviera, junto ao rio Inn e perto da fronteira austríaca. Foi batizado com escassas quatro horas de vida, às 8.30 da manhã, porque, dizem algumas biografias, era franzino e os pais temiam que morresse. Era sábado Santo e, na época, não existia ainda a festa da vigília pascal, de modo que a água que iria depois ser usada, ao longo do ano, em todos os batismos, era abençoada de manhã. Ratzinger foi a primeira criança a receber esta “água nova”, como a Igreja lhe chama, o que era considerado, diz o próprio Ratzinger na sua autobiografia, “um importante sinal premonitório”.

Os seus pais chamavam-se Maria e Joseph e tinham já tido uma rapariga – Maria, como a mãe – e um outro rapaz, Georg. O bebé que viria a ser Papa recebeu o nome de batismo de um tio-avô paterno, mais tarde doutorado em Teologia e deputado no parlamento regional.

Joseph ainda não tinha dois anos quando a família se mudou para Tittmoning, uma pequena cidade nas margens do Salzbach, a poucas dezenas de quilómetros de Salzburgo, a terra natal de Mozart. Ratzinger, que sabia tocar piano com mestria, considerava Mozart o melhor compositor e nunca se cansava de ouvir e tocar as suas obras. O pais eram profundamente católicos e, com filhos, aos domingos, assistiam às três missas da paróquia: às seis da manhã, às nove horas e à da tarde.

O futuro Bento XVI pouco tempo ficou em Tittmoning. Em 1932, o pai, comissário da polícia, pediu transferência para Aschau am Inn. Mas a família não tardou a mudar-se de novo, desta vez para Traustein, onde Ratzinger frequentou o liceu e, a partir de 1939, o seminário menor. É também em março desse ano que o regime nazi torna obrigatória a inscrição dos seminaristas na Juventude Hitleriana. Ratzinger não escapa, mas nunca terá participado dos encontros e atividades da organização.

Militar, padre e académico

Em 1943, concilia os estudos com o serviço militar, tendo sido mobilizado para as baterias antiaéreas. Após várias missões nos arredores de Munique, deram-lhe um posto nos serviços telefónicos e conseguiu também um pequeno quarto só para si. Convivia com um grupo de católicos empenhados e dispunha de algum tempo livre e de considerável autonomia.

Em setembro de 1944, regressa a casa, em Traustein, para uma licença de poucos dias, antes de ser enviado para um campo de trabalho situado na fronteira da Áustria com a Hungria. No final de abril de 1945, Ratzinger afirma ter desertado, tendo ficado uns dias escondido em casa de um marechal católico da Luftwaffe, amigo do pai, e depois na casa da família, nos arredores da cidade. É aí que, após a vitória dos Aliados, vem a ser identificado como soldado alemão pelas forças americanas. Passa ainda algumas semanas no campo de prisioneiros de Bad Aibling até que, a 19 de junho, é libertado.

Vai estudar para a recém-reaberta Faculdade de Teologia da Universidade de Munique, que fora encerrada pelos nazis em 1938. Em 1951, é ordenado padre pelo cardeal Faulhaber. No ano seguinte, começa a lecionar na Escola Superior de Filosofia e Teologia de Freising, ensinando teologia dogmática e fundamental. Em 1953, faz o doutoramento com a tese “Povo e Casa de Deus na Doutrina da Igreja de Santo Agostinho”. Até ser nomeado arcebispo de Munique, em 1977, irá ainda lecionar em Bona, Münster, Tubinga e, finalmente, na Universidade de Ratisbona, onde assumiu, em 1969, a cátedra de Dogmática. Estava ainda em Bona quando João XXIII convocou o Vaticano II, no qual participará, primeiro como consultor do cardeal Frings, arcebispo de Colónia, e, mais tarde, na qualidade de “teólogo do Concílio”.

A carreira académica de Ratzinger encerra-se quando é nomeado arcebispo de Munique e Frisinga, por Paulo VI, em março de 1977. Três meses depois, é elevado a cardeal. Um ano mais tarde, é já um dos homens chamados a escolher o sucessor de Paulo VI, o cardeal Albino Luciano, que, numa homenagem aos dois papas conciliares, escolheu o nome de João Paulo I. Foi nos encontros que precederam o conclave que Ratzinger conheceu pessoalmente o polaco Karol Wojtyla, com quem até então se limitara a trocar livros e alguma correspondência. João Paulo I morreu um mês após ter sido eleito e, no novo conclave, Ratzinger aposta no polaco, unindo-se àqueles que pretendiam evitar a eleição do ultraconservador cardeal Giuseppe Siri, então arcebispo de Génova, e evitando também uma viragem à esquerda.

Ortodoxo contra mudanças

Em 1981, é nomeado prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Mostra-se particularmente duro com as teologias da libertação, cuja tónica política anticapitalista ganhava cada vez mais adeptos, sobretudo, na América do Sul. Intervém, também, sempre no sentido de manter a ortodoxia vigente, em todas as grandes polémicas que atravessaram a Igreja ao longo dos últimos anos, como o celibato dos padres ou a ordenação de mulheres. É de tal forma contra mudanças que, em 1989, dezenas de teólogos assinaram a famosa Declaração de Colónia em que pedem que a congregação presidida por Ratzinger revelasse “mais pluralismo” e “menos ingerências”.

No conclave de abril de 2005, Ratzinger posicionou-se claramente como o homem certo para ser escolhido. Em virtude do seu cargo de decano dos cardeais, foi ele a presidir, no período de transição, ao funeral de João Paulo II, às reuniões preparatórias do conclave e à missa de início solene do ato de eleição pontifícia. Na sua homilia, ficou célebre a referência crítica aos “ventos de doutrina” que agitaram “muitos cristãos” e o apelo à necessidade de uma “fé clara” contra o “relativismo”.

Eleito a 19 de abril de 2005 para substituir “o grande Papa João Paulo II”, como o próprio afirmou, o “humilde” Ratzinger começou por criar expectativas no diálogo ecuménico, estagnado nos últimos anos do pontificado de Wojtyla. Por várias vezes, e logo na primeira missa que celebrou com os cardeais enquanto Papa, a 20 de abril, Bento XVI referiu-se à sua “prioridade” ecuménica, assumindo o “compromisso” de “trabalhar sem poupar energias na reconstituição da plena e visível unidade de todos os seguidores de Cristo”.

A 11 de fevereiro de 2013, oito anos depois de ser eleito sumo pontífice da Igreja Católica, Bento XVI anunciou a decisão histórica de renunciar ao cargo devido “à idade avançada”. Uma decisão que causou surpresa geral. O 265.º Papa passou a ser bispo emérito da diocese de Roma, passando a ser conhecido como Papa emérito.

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