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Seu Jorge fala ao Fantástico sobre episódio de racismo em Porto Alegre: “Uma violência que não cabe mais no Brasil”

Cantor foi alvo de vaias e xingamentos racistas durante show realizado em um clube gaúcho. Reportagem esteve na cidade e mostra como está a investigação sobre o caso.

Fim de show. Em vez de aplausos, vaias e xingamentos racistas. Aconteceu com Seu Jorge, no clube Grêmio Náutico União, em Porto Alegre. O artista conversou com a repórter Tábata Poline sobre o episódio.

Tábata Poline: Estou diante de um dos maiores artistas do país e a gente poderia estar aqui falando sobre tantas outras coisas maravilhosas. Tanta coisa produzida para celebrar, e o assunto hoje, infelizmente, é racismo. O que que aconteceu ali naquele show?

Seu Jorge: Olha, eu fui, entrei, fiz o meu concerto. Em um determinado momento, fiz uma fala sobre a infância, adolescência. Entendo que, quando a gente trata da redução da maioridade penal, o foco atingido é a população jovem negra. Elisa Lucinda falou uma coisa muito interessante: “ninguém confunde a Eliana com a Xuxa, uma Grazi Massafera com a Gabriela Prioli, sabe? Mas a gente vai preso confundido. É morto confundido.” Depois, eu saí do meu concerto e eu percebi vaias. O que é do jogo, né?

Mas não eram apenas vaias. Vídeos circularam na internet, após o show, onde se ouve a plateia fazendo sons que seriam imitações de macacos. Seu Jorge: Uma pessoa publicou as injúrias e foi ali que eu tomei conhecimento. Uma fã do artista – que não quis se identificar – contou para o Fantástico o que viu durante o show. “Estava tudo normal. O show maravilhoso. E aí ele apresentou o Pedrinho (da Serrinha) e falou então sobre a juventude negra, sobre o negro da favela e que ele é contra a redução da maioridade penal. Nesse momento, as pessoas se transformaram. Foi um show de horrores, uma grosseria”, conta.

Três testemunhas foram até a delegacia especializada em combate à intolerância de Porto Alegre para denunciar. Nesse depoimento, uma delas afirmou que “pessoas que estavam do lado direito da pista começaram a se exaltar com as falas do cantor e proferiram injúrias raciais, vaias e xingamentos. Com imitação de som de macaco e xingamento de macaco.”

A delegacia instaurou um procedimento policial de ofício, ou seja, a investigação será feita, mesmo sem que alguma vítima tenha feito o registro do boletim de ocorrência. Lúcio Almeida, representante do núcleo de Pesquisa Antirracista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, juntamente com o Movimento Negro Unificado do estado, fez uma denúncia no Ministério Público assim que soube do caso.

“O ato de racismo sofrido pelo Seu Jorge é um ato normal em nossa sociedade. Atos que ocorrem todos os dias e que, de certa forma, só tivemos o conhecimento porque se tratava de um grande artista. No Rio Grande do Sul, o negro e a negra sabem os espaços que eles não podem entrar, porque, se eles entrarem nesses espaços, certamente sofrerão racismo”, afirma.

Foi o que sentiu um ex-funcionário do Grêmio Náutico União. Ele, que preferiu não se identificar, trabalhou no clube por quase um ano. Em um dos trabalhos, sugeriu usar a foto de crianças negras na capa de uma peça de comunicação. Segundo ele, a resposta que recebeu foi de que o clube não estava preparado para ter duas pessoas pretas na capa da publicação.

“Ironicamente, 20 dias depois eu fui demitido”, afirma. Dois dias após o show, o presidente do Grêmio Náutico União, Paulo Bing, enviou um áudio para um grupo de mensagens. Segundo ele, as atitudes do público aconteceram porque Seu Jorge teria feito um gesto político durante o show.

No contrato com o artista, o clube proibiu “manifestações ou opiniões de cunho político, partidário, racial, religioso ou ideológico, inclusive de gênero”.

Tábata: Você fez um posicionamento político lá?

Seu Jorge: Olha, não existe justificativa para o racismo. É exatamente disso que nós estamos tratando. Estamos tratando de violência. Racismo, não. Racismo, não. Simples assim. Eu acho que não estamos tratando de política aqui. Estamos tratando de uma violência que não cabe mais no Brasil. A justificativa para o racismo não existe, assim como o racismo não deveria existir.

Em nota, o clube Grêmio Náutico União disse que lamenta os fatos ocorridos durante apresentação do cantor. Com a comprovação, pelos órgãos competentes, da prática de ato de racismo, se o responsável for associado do clube, ele será expulso do quadro associativo. Em relação à demissão do profissional que sugeriu práticas antirracistas, o clube diz que foi motivado por questões técnicas.

Sobre o áudio do presidente Paulo Bing, o clube diz que ele foi enviado a um grupo interno de diretoria, e deve ser contextualizado, na medida em que, naquele momento, as primeiras manifestações eram de pessoas que não estavam na festa. Depois do episódio com Seu Jorge e do áudio divulgado pelo presidente, oito sócios do clube publicaram uma carta aberta ao público. A carta reforça a necessidade de o clube excluir os associados que venham a ser identificados cometendo racismo no show. Em menos de uma semana, mais de 100 sócios do clube já assinaram o documento.

G1/MS

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