África

Mali: grupo paramilitar russo não consegue “combater terrorismo”

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Visitantes em uniforme militar na entrada do “PMC Wagner Center” em São Petersburgo. AFP – OLGA MALTSEVA

 

Na República do Mali, o grupo paramilitar russo Wagner “não consegue atingir seu objetivo declarado de combater o terrorismo”. Esta é a conclusão de uma investigação realizada e publicada nesta terça-feira (15) pelo jornal francês Le Monde.

Apenas um ano após a partida da força francesa Barkhane, que completou sua retirada em 15 de agosto de 2022, e pouco mais de um ano e meio após a chegada dos mercenários russos do grupo Wagner ao Mali no final de 2021, a investigação do jornal Le Mondeconclui que a aliança do exército do Mali e do grupo Wagner é ineficaz diante da ameaça jihadista. Ou pior, segundo o jornal, demonstra “como o Wagner agravou a violência no Mali”.

Jornalistas da publicação analisaram imagens de satélite, documentos diplomáticos americanos e europeus e até dados estatísticos da ONG Acled, que compila informações sobre datas, atores, locais e avaliações da violência. E ainda relatórios da ONU e da organização All Eyes On Wagner foram usados.

1.600 homens

Segundo a investigação, 1.600 mercenários russos do grupo Wagner estão atualmente no país africano, distribuídos em pelo menos sete bases. Presença que as autoridades de transição malianas continuam a negar, apesar das confirmações de vários responsáveis russos, a começar pelo patrão do grupo Wagner, Iêvgueny Prigojin.

Bamako ainda apresenta esses homens como meros “instrutores” que vieram no quadro da “cooperação de Estado para Estado”. Iêvgueny Prigojin, no entanto, confirmou a presença de seus homens numa gravação de áudio transmitida em abril passado. Muito antes dele, presidente russo Vladimir Putin em fevereiro de 2022, e depois em maio o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, também haviam confirmado essa presença.

Aumento significativo de ataques jihadistas

Segundo dados da ONG Acled, os ataques jihadistas aumentaram consideravelmente no Mali desde a chegada do grupo Wagner: pelo menos 688 civis mortos em 2022 pelo grupo Estado Islâmico, oito vezes mais do que a média dos quatro anos que antecederam a chegada do grupo paramilitar. O Jnim (Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos), ligado à Al-Qaeda, fez pelo menos 590 vítimas civis em 2022: 3,5 vezes mais que a média de 2018-2021.

Na origem desta “ineficiência”, segundo o jornal Le Monde, estão “recursos aéreos muito inferiores aos do exército francês e uma ancoragem geográfica limitada”: entre janeiro de 2022 e junho de 2023, 72% das operações de Wagner foram realizadas nas regiões de Ségou e Mopti, no centro do Mali. Mas o Wagner está quase ausente de outras áreas de atividade jihadista, por exemplo, na região de Ménaka, no nordeste do Mali, onde o Estado Islâmico cometeu assassinatos em massa.

Recrutamento

Com base principalmente em documentos de propaganda do Estado Islâmico e da Al-Qaeda, o Le Monde explica que a presença do Wagner também é “uma alavanca de recrutamento” para grupos jihadistas, que destacam seus sucessos contra o grupo paramilitar russo. Uma estratégia que pode ser explicada em particular pelas muitas extorsões dos mercenários contra as populações civis. Execuções, estupros…

Entre janeiro de 2022 e junho de 2023, das 294 operações conjuntas de Wagner e do exército do Mali registradas, 152 – mais da metade – atingiram civis. Quase mil malienses não pertencentes a grupos jihadistas (957 precisamente) foram mortos durante este período, conforme a, pesquisa do Le Monde. Em nove de cada 10 casos, as operações do grupo são realizadas em conjunto com o exército nacional do Mali. Apoiando-se em testemunhos de áudio, a investigação do jornal francês volta-se em particular para o caso da operação Moura, em março de 2023.

Citando fontes diplomáticas americanas e francesas, o Le Monde lembra que Wagner custaria ao Mali US$ 10 milhões por mês (cerca de quase 50 milhões de reais). Bamako nunca deu números ou explicações sobre o financiamento do apoio russo no país, mas insiste regularmente que a “ascensão do poder” das forças malianas permite “dissolver” grupos terroristas “encurralados”.

RFI/MS

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