Luís Barreira

A Europa está em guerra e isso implica alguns sacrifícios

 

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A Europa em geral não está (ainda…) numa guerra convencional, com armas e morticínios sangrentos, mas sim numa guerra económica, financeira, jurídica, humanitária e defensiva, contra um monstro autocrata que detém a chave do poder na Rússia e que não hesita em ameaçar-nos com a extinção atómica.

É essencial que os europeus, entre os quais os portugueses, que têm demonstrado uma enorme e comovente solidariedade para com o povo ucraniano, compreendam que estamos ao lado de um país europeu em guerra pela independência e liberdade do seu território e que, por essa razão em que acreditamos e que apoiamos, todos teremos de pagar algum preço, não bastando a comoção e revolta que todos sentimos perante a destruição das vidas e haveres desta martirizada população ucraniana, que luta sozinha contra um inimigo muito mais poderoso e exaltarmos a enorme condenação da Rússia na arena internacional, para contribuirmos para esta causa.

Durante muitos anos e nomeadamente após o final da Segunda Guerra Mundial em 1945, que propiciou um longo período de pacificação no nosso continente, habituámo-nos comodamente a observar os conflitos que, por bons ou maus motivos, se desenrolavam longe de nós e que muitas vezes nos obrigavam a pagar algum preço, sem sentirmos profundamente na pele os efeitos dos horrores a que assistíamos. Mas, desta vez, a guerra não está longe, ela está presente na nossa “Casa Europeia” de valores sociais, políticos e morais, contra um déspota russo que quer recriar o seu antigo império nacional desfeito em 1917, utilizando a conquista territorial de países independentes limítrofes ao seu, tornando-os subservientes à sua política expansionista e retirando-lhes a capacidade de escolherem o seu modo de vida.

Como tem sido amplamente noticiado, a Europa é muito deficitária do tipo de energia que sempre alimentou a sua sociedade e máquina produtiva, nomeadamente o petróleo e o gás. Os calmos anos do após guerra, que entretanto se viveram em relação à Rússia, conduziram a uma estreita relação comercial com este país, tornando-o um dos principais fornecedores energéticos da Europa o que, no momento atual, acentua a fragilidade dos dirigentes ocidentais em sancionar as importações desses produtos russos o que, de forma indireta, ajuda os russos a diminuir o efeito do regime de sanções a que está sujeito e a obter recursos económicos para alimentar a guerra que trava contra a Ucrânia. Mas, se alguns regimes ocidentais se mostram reticentes em aceitar sanções contra a importação de produtos petrolíferos e gás russo, porque não têm alternativas ou porque receiam o seu aumento de preços, com consequências no seu possível desgaste eleitoral, é bom que nos apercebamos de que o inevitável aumento de preço dos combustíveis, definido pelos mercados internacionais e que teremos de pagar, vai fazer aumentar o preço de uma grande parte dos habituais bens alimentares de grande consumo, além da dificuldade em obter cereais de que a Ucrânia era grande produtora. É preciso termos consciência que este é, até agora, o preço que teremos de pagar por estarmos em guerra por esta justa causa e não embarcarmos em protestos injustificados contra o aumento do custo de vida, acusando os governos das nossas sociedades desta situação, ao mesmo tempo que corroemos a governabilidade dos nossos países, tal como previu o Kremlin de Vladimir Putin.

Este amargo conflito na Ucrânia, que nos afeta profundamente pela sua ilegalidade à luz do direito internacional, que nos revolta pela frieza do impostor que o provocou, pelo tremendo sacrifício imposto ao povo ucraniano e pelos objetivos de destruição das nossas sociedades democráticas que encerra, não é apenas um conflito regional, sem implicações no resto das nações europeias. Mesmo que fosse possível ao exército ucraniano travar esta invasão russa, a Europa e o mundo não mais serão os mesmos.

A Europa tem de depender de si mesma, quer no setor energético, quer na sua defesa militar.

Putin e “os filhos de Putin” que alimentam e são alimentadas pela sua prepotência, não vão desistir das suas intenções imperialistas e as sucessivas mentiras deste impostor compulsivo já não enganam ninguém.
Os países europeus não podem desistir de implementar novas formas de produzir energia, se possível verde, diminuindo progressivamente a sua dependência energética dos combustíveis fósseis, ao mesmo tempo que diversificam as suas importações deste combustível.

A defesa militar dos países europeus não pode depender exclusivamente da NATO, onde os EUA são predominantes e que são, neste momento difícil, aliados desta causa europeia, mas que nos fazem duvidar do que se teria passado se o presidente dos EUA fosse, neste mesmo momento, Donald Trump!…

Nesta lógica de guerra seguida por Moscovo, Putin ensaia simultaneamente concretizar conversações entre as partes em confronto, destinadas a obter alguma simpatia internacional, logo desacreditadas pelas suas ações terroristas no terreno. Saliento a atitude anti-guerra de parte significativa da população russa que, heroicamente, dá o “corpo às balas”, mas que não chega para alterar o poder déspota e repressivo existente.

Por outro lado, tendo em consideração as expetativas iniciais do exército invasor, não sei se a já considerada longa duração desta incursão russa se deve às suas dificuldades operacionais, à falta de motivação dos seus soldados ou às capacidades defensivas do exército ucraniano. Prefiro acreditar na denunciada intenção de Putin em querer decapitar o Governo ucraniano para depois, numa posição de força, “negociar” internacionalmente o estatuto subserviente daquilo que ainda hoje é a Ucrânia.

Para a personalidade czarista deste ditador russo, depois de gastar milhões de rublos e vidas humanas com esta guerra e ter ocasionado o seu isolamento internacional, apesar da “amizade” chinesa, perder esta guerra é a humilhação pública no seu próprio país e, tal acontecimento, parece-me pouco provável.

Para evitar um banho de sangue, resta-me crer no “milagre” de que a resiliência ucraniana, com a ajuda militar dos aliados e as sanções que foram aplicadas à Rússia, prolonguem este conflito, desacreditando as chefias militares russas e obrigando Putin a negociar uma paz efetiva com menos exigências.

Luis Barreira/MS

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