Opinião

“Não há bela sem senão”!…

À medida que Portugal vai aliviando as medidas restritivas relativas à pandemia Covid-19, embora mantendo muitas precauções, o clima social e, sobretudo, o clima político, vai voltando à normalidade possível, desejada por uns e indesejada por outros.

No aspeto social é notória a satisfação de muitos portugueses, ansiosos de voltar à vida quotidiana que tinham antes e desfrutar dos prazeres do sol, das praias calorentas e da sua inteira liberdade. Pela mesma razão libertária, estão outros preocupados com as eventuais consequências desta abertura, face aos perigos que este vírus ainda representa para os nossos cidadãos, num momento em que a epidemia não está completamente debelada, ocasionando mais infeções e falecimentos diários.

No domínio da política nacional e igualmente em consequência do regresso progressivo à normalidade, os partidos políticos nacionais vão abandonando a lisura das críticas ao Governo, que mantiveram durante a fase crítica da doença e iniciam a sua atitude normal de “guerrilha” parlamentar.

A este propósito, na semana passada, o país esteve na iminência de perder o seu “super” ministro das Finanças que ameaçou demitir-se, resultado de um qui pro quo surgido entre o ministro das Finanças, Mário Centeno, o primeiro-ministro, António Costa e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Este triunvirato, que tem conduzido razoavelmente bem os destinos de Portugal e merecido o apoio e a simpatia da maioria da nossa população, envolveu-se numa polémica pública que não deixou incólume nenhum destes três intervenientes, receosos das suas imagens eleitorais.

A situação que provocou todo este caso envolve, “mais uma vez”, o “buraco negro” do Banco Espírito Santo (BES), tornado agora Novo Banco.

Em resumo, a Lone Star, entidade que adquiriu o citado BES, fê-lo através de um contrato assinado com o Estado português, em que este último assumia a ajuda (empréstimo) ao Fundo de Resolução Bancária para pagamento ao novo proprietário das imparidades (créditos mal parados) que se viessem a verificar no BES. Para isso foi criada uma auditoria ao BES, para avaliar o montante em causa e ficou definido e aprovado pelo Governo, Assembleia Geral da República e promulgado pelo Presidente Marcelo (em 2019) que, no Orçamento Geral do Estado para 2020 e, em data determinada (semana anterior a este conflito), o Estado injetaria o montante de 850 milhões de euros no FRB, de acordo com o compromisso assumido.

Aqui há tempos, o partido Bloco de Esquerda tinha interrogado no Parlamento o primeiro-ministro sobre se esse pagamento já tinha sido feito, ao que Costa respondeu que apenas se faria, ou não, depois de saber o resultado da auditoria. Na passada semana e no mesmo local, a deputada do BE, Catarina Martins, voltou “à carga” com a mesma pergunta e obteve a mesma resposta do primeiro-ministro que, após a sessão parlamentar, veio pedir desculpa à deputada pelo seu equívoco, fruto de uma deficiente informação entre ele e o ministro das Finanças, porque afinal o dinheiro já havia sido pago. Mário Centeno veio a seguir e em sua defesa argumentar que toda a gente sabia e tinha aprovado em 2019 (Parlamento, Governo e Presidente da República), que existia esse compromisso que, a não ser cumprido, criaria mais uma catastrófica crise financeira, além de que a auditoria a que se referiam nada tinha a ver com os tais 850 milhões que tinham sido pagos uns dias antes.

No dia seguinte e numa visita conjunta do primeiro-ministro e do Presidente da República a uma fábrica de automóveis, os jornalistas interrogaram o PR a propósito desta questão e este último respondeu que o primeiro-ministro tinha estado muito bem, ao responder no Parlamento que o dinheiro só seria pago depois de avaliar o resultado da auditoria, enfraquecendo a posição do ministro das Finanças. Logo de seguida Mário Centeno, sentindo-se descredibilizado e sem a confiança do primeiro-ministro e do PR, convocou uma reunião de emergência com o primeiro-ministro para lhe apresentar a sua demissão. Em conclusão e em resultado dessa reunião, foi publicado um comunicado em que ambas as partes (PM e Centeno) concordam que ambos tiveram razão no que disseram e fizeram (???), o Presidente da República também considerou que o primeiro-ministro teve razão no que disse, nomeadamente nesta altura difícil em que o país se encontra, mas que não se poderia deixar de se pagar o que estava convencionado, salientando o meritoso papel do nosso ministro das Finanças. Em resultado; todos se perdoaram (sem dizer porquê) e todos ficaram… “amigos como dantes”!…

Nesta confusão lançada pela pergunta do BE (não sei se ingenuamente…), todos ficaram mal na fotografia pública deste episódio e todos decidiram rapidamente esquecer este desaguisado, mas que: o primeiro-ministro deveria saber tudo o que tinha aprovado; Centeno deveria estar informado de todas as declarações públicas do primeiro-ministro e informá-lo das correções necessárias, e o Presidente da República, que deveria deixar de dar “bitates” públicos cáusticos, sobre assuntos que dizem respeito ao Governo do país e deveria igualmente estar lembrado sobre tudo o que promulga!

Talvez pela forma rápida e consensual (?!..) com que tudo foi resolvido, reconhece-se que este incidente não belisca a aceitação e legitimação destes personagens, por parte da grande maioria dos portugueses, ao longo destas legislaturas, em que o país obteve os melhores resultados depois de muitas décadas. No entanto, isto também prova que, neste caso concreto e em muitas outras situações semelhantes… “Não há bela sem senão”!

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