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Avós são árvores de vida

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Avós são árvores grandes e antigas que nunca morrem. Renascem, porque na natureza “nada se perde, tudo se transforma”. Assim acontece com os avós: permanecem nos netos como memória e são as raízes que lhes traçam os fios identitários, continuando as suas próprias tessituras de vida que se transmitirão numa cadeia desejavelmente infinita.

Foi a evocação desta memória por netos, sendo alguns deles já avós, que ocorreu, no passado dia 22, durante a apresentação de uma segunda edição da obra coletiva “Avós- Raízes e Nós”, coordenada por Aida Baptista, Manuela Marujo, presentes no evento, e Ilda Januário. Foi na linda vila do Sardoal, exemplo de preservação da memória e do seu rico património cultural, tão vivamente evocado e sempre bem preservado, que aconteceu o encontro, por iniciativa de Miguel Borges, presidente da Câmara e, em boa hora, responsável pelo pelouro da cultura. Sendo um dos autores da coletânea, gentilmente promoveu este evento que ultrapassou uma mera apresentação de mais um livro, tornando-se num momento cultural alargado, em que a memória do passado se conjugou com o sonho, na continuação dos saberes e sabores na vida dos vindouros. Deste modo, acolheu, no Centro Cultural Gil Vicente, a editora Alma Letra, na pessoa dinâmica e entusiasta de Sandra Barradas, as organizadoras e alguns autores da coletânea. O público assistiu com uma manifesta identificação emotiva, pela eficaz organização e o cuidado terno que acabou num Sardoal de Honra que deliciou o paladar dos convidados.
O espaço escolhido, o Cá Da Terra, localiza-se no dito espaço cultural, e confirma a valorização e o trabalho dignificador do património do Sardoal, destacando na exposição ali patente, os produtos elaborados pelos seniores em atividades e iniciativas coletivas de louvar.

Neste encontro de afetos, ouviram-se as vozes de alguns autores ali presentes, que mais uma vez falaram desse tempo doce de colo que, como também se mencionou, poderia até nem ser real, porque os avós nem sempre se conheceram fisicamente. No entanto, há sempre alguém a falar desse tempo antigo, desse saber, desses gestos ancestrais, desses ramos que abraçam sempre os netos, porque sabem que eles são ou serão o seu prolongamento.

Avô ou avó é um nome que, sendo raiz, é sobretudo “saudade do futuro”, (cf. Pessoa), uma esperança de continuidade, que nos permite construir uma sociedade mais humana alicerçada em nós que são laços de amor. Um sentimento profundo e único que os netos ali presentes manifestaram, particularmente no poema fortemente emotivo e muito belo de Joana Ramos que evocou a sua avó, recentemente falecida, como uma árvore de vida eterna, onde se reconhecia e prolongava.

Basta olhar para a capa deste livro para imaginar como, na sua essência, são os avós: parecem uma espécie de embondeiro que lança as suas raízes na terra seca e, num abraço de amor, faz renascer de si uma nova árvore que resiste à morte, à efemeridade e é esperança, eternidade.

Falar de avós foi, mais uma vez, uma oportunidade para reviver a memória do regaço, dos braços estendidos, da “Mão que ainda me segura”, da “Bênção” com sabor a nozes e mel, do sorriso que sentimos quando lemos palavras de poetas “minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao mil avô” (cf. Adélia Prado).

E como diz o Papa Francisco: “(…) a sabedoria que têm os nossos avós é a herança que nós devemos receber. Um povo que não toma conta dos avós, que não respeita os avós, não tem futuro, porque perdeu a memória.”

Inêz Marques

 

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