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Música 2023: Falta um filtro…

hernani raposo
Créditos: Alberto Nogueira

 

Quem não conhece Hernâni Raposo? Pelo menos entre a comunidade luso-canadiana é um profissional do mundo da música extremamente conhecido. Pelo virtuosismo como instrumentista (com a sua guitarra portuguesa), e também como compositor e produtor musical.

Profundamente conhecedor da realidade musical e dos meandros do negócio, Hernâni Raposo aceitou ajudar-nos a perceber melhor este mundo, sem filtros, que tem cada vez mais elementos a baralhar uma equação que devia ser simples, assim – qualidade+público=sucesso.

Milénio Stadium: A sua já longa carreira como guitarrista e produtor musical, dá-lhe uma perspetiva muito clara de tudo o que se passa no meio artístico. Nesse enquadramento, gostava de começar por lhe pedir a sua opinião sobre estado atual do mundo do negócio da música?
Hernâni Raposo: Em geral, sinto que o negócio da música está um pouco diminuído. As plataformas de streaming como Spotify, Apple Music e YouTube Music continuam a dominar a indústria da música. Essas plataformas representam uma parcela substancial do consumo de música, enquanto as vendas físicas e os downloads digitais diminuíram.

MS: A música hoje e a projeção de novos artistas vive muito do trabalho desenvolvido online. E tudo parece ser mais fácil graças à capacidade de chegar a muita gente, muito rapidamente. No entanto, parece ser cada vez mais inatingível chegar a um patamar de sucesso que permita que o cantor ou instrumentista consiga viver da música. O que está a faltar nesta “equação”?
HR: Falta um filtro como tínhamos antes, com as editoras, para filtrar a quantidade e acentuar a qualidade. Os artistas ganharam mais controle sobre as suas carreiras por vários meios.
Artistas independentes podem lançar músicas sem o apoio de grandes editoras graças às plataformas digitais, mas com a quantidade elevada de lançamentos, muitos artistas e canções de qualidade ficam escondidas na multidão.

MS: De uma forma muito direta – quem manda efetivamente neste mundo da música?
HR: Quem manda atualmente, e duma certa forma sempre mandou, é o público, os consumidores dos vários estilos de musicais, rock, fado, música popular etc. Aqueles que dedicam o seu tempo a ouvir e comprar a sua música preferida. As quantidades de vendas e apresentações ao público é que definem o nível e sucesso dos artistas.
As apresentações ao vivo e concertos continuam a ser um fluxo de receita crucial para os artistas e músicos. As principais turnés e festivais atraem grandes audiências que complementam rendimentos das despesas da música gravada.

MS: Passam e passaram ao longo de muitos anos, muitos cantores ou instrumentistas cheios de sonhos pelas suas mãos. Quando os ouve e percebe que não vão conseguir voar tão alto quanto imaginam, o que faz?
HR: Eu sempre incentivei os artistas a dar o seu melhor porque, hoje em dia, o sucesso não só depende do talento do artista, mas sim de muitos outros fatores.
Estar no lugar certo na hora certa tem muito a ver com a divulgação de uma canção. O ambiente criado, a mensagem que chega no momento ideal resulta num sucesso para o artista e para a canção.

MS: O grande alimento de um artista, seja de que área for, é o reconhecimento do público. Considera que os artistas portugueses ou lusodescendentes residentes na diáspora são devidamente reconhecidos e apreciados?
HR: Sim, os artistas na diáspora são reconhecidos, mas como se diz “Santos da casa não fazem milagres”. São sempre mais desejados aqueles que vêm de fora. Trazem com eles algo que mata a saudade. A presença e contato preenche em nós algo que enche aquele vazio. Não quero, de forma alguma, reduzir o valor e profissionalismo dos artistas da diáspora porque, a meu ver, eles é que são os verdadeiros guerreiros que enchem todas as outras noites com a música que para mim é a comida para a nossa alma.

MS: Numa perspetiva mais pessoal, atualmente o que lhe preenche os dias de trabalho?
HR: Presentemente continuo a compor e a produzir música para os nossos artistas. Estou a criar música ambiente para documentários e cinema. Acompanho fadistas nas noites de fado, com a minha guitarra portuguesa e o resto do tempo que me sobra dedico à minha querida mãezinha Nídia, de 91 anos, e à minha restante família. Quero agradecer esta oportunidade e aproveitar para desejar a todos boa saúde, tranquilidade e muito amor.

Madalena Balça/MS

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