Portugal

Comissão recebeu 512 denúncias de abusos na Igreja e enviou 25 para a Justiça

Conferencia Dar Voz ao Silêncio
Lisboa, 13/02/2022 – Pedro Strecht durante a Conferência no auditório da Fundação Gulbenkian que apresenta o relatório final – Dar Voz ao Silêncio, apresentado pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa. A Comissão Independente constitui-se para realizar um estudo sobre abusos sexuais praticados contra crianças e adolescentes (dos 0 aos 18 anos de idade) no seio da Igreja Católica Portuguesa.
(Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)

 

A comissão independente recebeu 512 testemunhos validados de vítimas de abuso sexual na Igreja Católica e enviou 25 casos para o Ministério Público.

A Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa apresentou o relatório de um ano de recolha de denúncias, esta segunda-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

O pedopsiquiatra Pedro Strecht, que preside à comissão, começou por prestar “um tributo e homenagem sincera a todas as vítimas dos abusos” que “são muito mais do que um número ou estatística”, revelando que foram recebidos 512 testemunhos validados, de um total de 564. Foram enviados 25 casos para o Ministério Público. “A maioria [dos casos] já prescreveu”, salientou depois Laborinho Lúcio, antigo ministro da Justiça que pertence à comissão.

“Falar foi um ato libertador. Pensei que era o único”, disse uma das vítimas, segundo citou Pedro Strecht. “Esta iniciativa só peca por tardia, a Igreja tem de se purificar”, disse outra. “Tenho 71 anos, mas nunca esqueci ou esquecerei”. Dos testemunhos recebidos, a comissão chegou a um total de 4815 vítimas.

Do total de denúncias recebidas, a maioria dos abusos ocorreram entre as décadas de 1960 e 1980.

Os abusos ocorreram principalmente quando as vítimas tinham entre os 10 e os 14 anos de idade (média de 11,7 anos no caso dos rapazes e de 10,5 no das raparigas).

Por outro lado, 57,2% foram abusados mais do que uma vez, e 27,5% referiram que o caso dos abusos de que foram vítimas durante mais de um ano.

Segundo a socióloga e investigadora Ana Nunes de Almeida, membro da comissão, a idade média das vítimas é hoje de 52,4 anos, 52,7% são homens, 47,2% são mulheres e 88,5% são residentes em Portugal continental, principalmente nos distritos de Lisboa, Porto, Braga Setúbal e Leiria, “mas os abusos estão espalhados por todos o país”. A incidência nestes distritos explica-se, em parte, pela existência de seminários ou outras instituições religiosas, frisou Pedro Strecht.

Quanto ao tipo de abusos, os homens sofreram principalmente “sexo anal, manipulação de órgãos sexuais e masturbação”, enquanto as mulheres sofreram, na maior parte dos casos, de “insinuação”.

Ana Nunes de Almeida indicou ainda os locais onde a maior parte dos abusos ocorreu: 23% aconteceram em seminários, 18,8% na igreja (há um relato de um abuso cometido no altar), 14,3% no confessionário, 12,9% na casa paroquial e 6,9% numa escola católica.

Em 97% dos casos os abusadores eram homens e em 77% dos casos padres, além de que em 47% dos casos o abusador fazia parte das relações próximas da criança.

O relatório foi pedido pela Conferência Episcopal Portuguesa que, sublinhou Pedro Strecht, deu “liberdade e total independência para o executar”.

Redes Sociais - Comentários

Artigos relacionados

Back to top button

 

O Facebook/Instagram bloqueou os orgão de comunicação social no Canadá.

Quer receber a edição semanal e as newsletters editoriais no seu e-mail?

 

Mais próximo. Mais dinâmico. Mais atual.
www.mileniostadium.com
O mesmo de sempre, mas melhor!

 

SUBSCREVER