Alunos portugueses dão “trambolhão” a Matemática
Os resultados dos alunos portugueses na avaliação internacional PISA pioraram, especialmente a Matemática em que a queda foi de 20 pontos relativamente a 2018. Foi o pior desempenho desde 2009 e o ano em que menos alunos conseguiram atingir os níveis mais elevados de proficiência (apenas 6,9%).
No relatório PISA 2022 (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), divulgado esta terça-feira, em Paris, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) sublinha nas notas redigidas para Portugal que o país está em linha com a “inversão” registada na Matemática – área onde os alunos nacionais registavam uma evolução positiva desde 2003.
O PISA foi adiado de 2021 para 2022 por causa da pandemia. Neste relatório participaram 81 países e economias da OCDE. A “queda” de Portugal acompanha a tendência registada pela maioria e mantém-se na média da OCDE nas três áreas avaliadas. Tanto a OCDE como o Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) admitem o impacto dos efeitos do ensino à distância mas sublinham que os resultados a Leitura e Ciências já estavam a diminuir desde 2012. Aliás, frisa a OCDE, nas últimas duas décadas (o PISA realiza-se de três em três anos e Portugal participa desde 2000), os resultados médios dos países nunca oscilaram mais do que quatro pontos percentuais a Matemática e cinco pontos a Leitura o que torna este relatório “singular”. O PISA, recorde-se, avalia a literacia a Matemática, Ciências e Leitura dos alunos de 15 anos.
A Matemática, os alunos portugueses atingiram 472 pontos (numa escala de 0 a 1000) – menos 20 pontos do que os 492 pontos atingidos em 2018 e menos 15 pontos dos 487 registados em 2012, num relatório em que a Matemática também foi a principal área avaliada. Os rapazes voltaram a ter melhor média (477) do que as raparigas (467). E em termos regionais, os alunos das escolas do Centro do país e do arquipélago da Madeira foram os melhores (481 e 474 pontos, respetivamente), sendo os resultados piores nos Açores (408 pontos) e no Algarve (452).
Portugal ficou em 29.º lugar entre os 81 países e economias da OCDE que participaram no estudo.
Queda maior entre os melhores
Em Matemática o desempenho de quase todos os alunos piorou mas a queda foi maior entre os que conseguem melhores classificações. Em 2022, 6,7% dos alunos conseguiram atingir os níveis de proficiência mais complexos (níveis 5 e 6) – quase cinco pontos percentuais a menos do que os 11,6% que em 2018 chegaram a este patamar. Em 2012, tinham sido 10,6%. Estes alunos conseguem resolver problemas mais complexos e demonstrar flexibilidade e pensamento criativo na forma de resolução.
Quase 30% dos alunos (29,7%) ficaram no nível mais baixo. Pelo que, descreve o relatório produzido pelo IAVE a partir dos resultados no PISA, “apresentam algumas limitações na compreensão da informação que se encontra explicitamente na tarefa”. Os alunos de Singapura foram os que atingiram os melhores resultados, seguidos de outros países asiáticos como Japão, Coreia e as regiões da China analisadas. Apenas em 16 dos 81 países e economias participantes do PISA 2022 mais de 10% dos alunos atingiram o nível 5 ou 6 de proficiência a Matemática.
Leitura e Ciências
O desempenho a Leitura e Ciências também caiu. A Leitura, os portugueses atingiram uma média de 477 pontos, menos 15 pontos do que em 2018. O melhor resultado foi registado a Ciências com 484 pontos, menos sete do que em 2018, sendo o pior desempenho dos portugueses nesta área. A Leitura foi o pior resultado desde 2006.
Tal como a Matemática, os alunos da região Centro e da Madeira tiveram melhores resultados a Ciências (493 e 492 pontos respetivamente) e a Leitura (482 e 487 pontos respetivamente) e os dos Açores e Algarve os piores desempenhos (417 e 466 pontos a Ciências e 413 e 455 pontos a Leitura respetivamente).
Quase 10% resilientes
Em Portugal, os alunos oriundos de famílias de um contexto socioeconómico favorecido (os 25% mais favorecidos em termos de estatuto socioeconómico) conseguiram uma média a Matemática de 529 pontos – mais 100 pontos do que a média alcançada pelos 25% mais pobres. Os resultados tanto em Portugal como na OCDE evidenciam que o contexto continua a ser determinante nos resultados dos alunos e a impor uma disparidade que se mantém estável na última década. Apesar disso, 9,4% de alunos de contextos desfavorecidos atingiram os níveis mais elevados de proficiência (a média da OCDE é de 10,2%).
A Ciências e a Leitura a percentagem de alunos resilientes foi de 11,4 e 12,1%, respetivamente, ambas acima da média da OCDE (10,8 e 11,4% respetivamente).
Registada maior subida de estrangeiros
Em 2022, 11,3% dos alunos de 15 anos eram estrangeiros. Em 2018 eram 7%, sendo Portugal o país da OCDE que registou maior aumento destes estudantes. A média a Matemática alcançada pelos alunos que vieram para Portugal foi de 434 pontos (menos 38 pontos) e os de “segunda geração”, nascidos no país mas filhos de pais imigrantes, conseguiram uma média de 461 pontos.
Em Portugal, 6793 alunos, de 224 escolas, realizaram os testes e responderam aos questionários do PISA.
Para quatro em cada 10 alunos, Matemática é apontada como uma das disciplinas favoritas. Mais de 60% não a consideram fácil. Mais de 30% responderam que ficam “muito tensos” quando têm de fazer trabalhos de casa desta matéria e “muito nervosos” quando têm de resolver problemas.
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