A enfrentar a pior seca de sempre, Algarve prepara-se para fechar a torneira
Em seca hidrológica há nove anos consecutivos, e com as reservas de água no nível mais baixo desde que há registo, o Algarve prepara-se para enfrentar medidas musculadas para fazer face à escassez hídrica. Que passam por cortes nas disponibilidades, tanto na agricultura como no consumo urbano. Não se descartando agravamentos nos tarifários para travar consumos excessivos. Porque, garante ao JN o presidente da AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, António Pina, se nada for feito a água só chega até ao final do próximo verão.
“Nunca o Algarve teve tão pouca água, nem na pior seca, de 2005”, vinca, ao JN, o vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Com o conjunto das suas seis albufeiras a 25%, menos 20 pontos percentuais face a igual período do ano passado, o equivalente a menos 90 hectómetros cúbicos, a região enfrenta, “há nove anos, cumulativamente, uma seca duradoura”, afirma Pimenta Machado.
Cenário corroborado por António Pina, que vai ainda mais longe ao sublinhar que, “se nada for feito e se a precipitação for igual ao pior dos últimos dez anos, a água dá até ao final de verão”. Para o corrente mês, lembra o vice-presidente da APA, as previsões apontam “para precipitação acima da média”. Mas até que tal se confirme, e se se confirmar, as autoridades estão a preparar um “plano de contingência”, em “pleno inverno”, para a região, explica.
Para o efeito, na passada semana decorreram várias reuniões entre as partes envolvidas – ambiente, agricultura, turismo, municípios. Tendo como “cenário que este ano será igual ao pior dos últimos dez, tentando criar medidas para que a água nas barragens chegue até ao final do ano”, diz o presidente da AMAL.
Agravar tarifários
Nomeadamente, e confirmando a informação avançada na manhã desta segunda-feira pela TSF, “cortes de 70% nos consumos na agricultura e de 15% no ciclo urbano da água”. Ciclo este, prossegue António Pina, que inclui os consumos domésticos e não domésticos. Passando pelo fim “dos segundos contadores [utilizados para rega de jardins e enchimento de piscinas] e também pelo aumento tarifário”. Conforme o JN noticiou, aquela comunidade tinha já pedido ao Ministério do Ambiente alterações nos regulamentos para que tais medidas pudessem avançar.
Por outro lado, explica o líder da AMAL, depois do “agravamento, numa segunda fase, eventualmente, poderão ser aplicadas coimas para quem vá acima do definido no consumo”. Tanto mais que 2023 fechou com consumos urbanos superiores aos do ano anterior.
Não se comprometendo com valores, porque “o plano está a ser fechado”, o vice-presidente da APA sublinha que o objetivo é “garantir que não falta água às populações”. Adiantando que, no que respeita à agricultura, estão a ser procuradas “soluções de contingência rápidas que permitam minimizar o esforço”, como sejam “centrais dessalinizadoras portáteis”. As medidas deverão ser conhecidas nos próximos dias, estando agendada para a próxima semana uma reunião da Comissão Interministerial da Seca.
Proteger Odelouca
À semelhança do que foi feito em 2020, o abastecimento do barlavento algarvio está a ser feito através da barragem do Funcho, em Silves, preservando Odelouca para o verão, explica Pimenta Machado. A 27 de dezembro estavam, respetivamente, a 31% e 25% da capacidade.
Bravura a 7,7%
A situação da barragem de Bravura, no sotavento, permanece crítica, estando exclusiva para abastecimento público desde setembro de 2022. Com as reservas a 7,7%, de acordo com os últimos dados da APA, está em curso a captação de água no volume morto daquela albufeira.
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