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Os sinais de que uma invasão israelita de Gaza está próxima

 

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, assegurou que os ataques dos últimos dias a alvos do Hamas, na Faixa de Gaza, foram apenas o início da retaliação militar. À promessa junta-se um conjunto de indícios que aponta a possibilidade de uma ofensiva terrestre poder ser lançada em breve.

Na sequência da incursão do Hamas em território israelita, no passado sábado, o Estado respondeu com um vasto ataque aéreo que já matou centenas de palestinianos fixados na Faixa de Gaza. A retaliação não ficará por aqui e, ao quarto dia de conflito, são cada vez mais notórios os sinais de que o Exército israelita estará a preparar uma ofensiva terrestre.

Depois de declarar guerra ao movimento islâmico, o Governo de Netanyahu não esconde as pretensões de avançar no território e o primeiro passo para que isso aconteça já foi dado.

O Executivo convocou mais de 300 mil reservistas que se irão juntar ao poderoso Exército israelita, um número recorde na História do país. Além disso, relatos de jornalistas no terreno indicam que, junto à fronteira da Faixa de Gaza, já se acumulam homens e armamento.

Um porta-voz militar israelita admitiu, citado pelo jornal “The Guardian”, que as forças do país estão a instalar “um muro de ferro” de tanques e helicópteros ao longo da fronteira com Gaza, de modo a que mais ninguém entre ou saia do território.

A movimentação está a ser coordenada em paralelo com o “cerco completo” à Faixa de Gaza, exigido pelo Governo. Assim, o território palestiniano, habitado por mais de dois milhões de pessoas, fica sem água e sem energia, que chegam do lado israelita.

O Executivo israelita também parece estar a preparar uma estratégia para tentar minimizar os danos de uma eventual ofensiva terrestre em larga escala, tendo avisado os civis palestinianos para que abandonem as suas casas e se refugiem em abrigos. Alguns moradores de Gaza contaram a jornalistas no terreno que receberam telefonemas e mensagens de oficiais de segurança de Israel a pedir para abandonarem a região, uma vez que o Exército estará prestes a entrar no território.

De acordo com o Gabinete de Coordenação para os Assuntos Humanitários das Nações Unidas, as recomendações já foram acatadas por milhares de palestinianos, uma vez que já se contabilizam cerca de 187 mil deslocados na Faixa de Gaza. No entanto, quem tenta fugir depara-se com outro problema: arranjar locais para se proteger. Na estreita faixa de terra, não existem abrigos antiaéreos oficiais para que a população se possa abrir durante os combates e, em grande parte do território, a Internet e as linhas telefónicas foram cortadas, tornando-se praticamente impossível para os civis ter conhecimento de quando estará para ocorrer um ataque.

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Destruição em Gaza | AFP

Reféns israelitas são fator decisivo

Apesar da incerteza que paira em Gaza, não seria a primeira vez que aconteceria uma incursão terrestre levada a cabo por Israel. Ainda assim, este tipo de operações só vão para frente em situações de último recurso, devido ao facto de, na maior parte das vezes, constituírem ataques devastadores que resultam em múltiplas baixas entre civis.

Foi o que aconteceu em 2008, durante a Operação Chumbo Fundido, quando após o lançamento de mais de 200 rockets de Gaza para o Sul de Israel, o Exército do país desencadeou uma resposta. Em apenas um dia de ataques aéreos, 230 palestinianos foram mortos. A invasão terrestre teve início poucos dias depois e durou duas semanas, resultando na morte de 1387 palestinianos e 13 soldados israelitas.

Seis anos mais tarde, em 2014, Israel desencadeou a Operação Margem Protetora, uma campanha militar de 50 dias iniciada após o sequestro e assassinato de três adolescentes israelitas e a morte de um jovem palestiniano, queimado vivo por radicais. A ofensiva terrestre começou nove dias após o início dos bombardeamentos, com o objetivo de destruir túneis subterrâneos construídos em Gaza. A incursão resultou na morte de dois mil palestinianos e 74 israelitas.

No entanto, desta vez, o contexto é diferente. Embora o primeiro-ministro israelita tenha ameaçado reduzir Gaza a terra queimada, as declarações perderam-se diante de uma população atónita pela dimensão do ataque do Hamas. Além disso, o facto de existirem mais de 100 reféns israelitas poderá estar a atrasar uma eventual operação terrestre, tornando praticamente inviável para Netanyahu percorrer o caminho já conhecido: bombardear, entrar e sair de Gaza. O Governo corre o risco de enredar-se numa operação militar extensa com o Hamas, sob o custo de perder os prisioneiros israelitas em Gaza.

Por sua vez, os membros da brigada Qassam do Hamas avisaram, na noite de segunda-feira, que se as forças israelitas não cessarem os bombardeamentos à Faixa de Gaza, o grupo irá matar um refém por cada ataque. “Qualquer ataque a civis inocentes sem aviso levará, lamentavelmente, à execução de um refém que está sob nossa custódia”, alertou o porta-voz do braço armado do Hamas, Abu Obeida, em declarações à Al Jazeera.

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Destruição em Gaza | AFP

Desafios de uma operação terrestre

Apesar do poderoso Exército e da tecnologia militar que Israel possui, o Hamas tem anos de experiência neste tipo de conflitos e tornou-se uma força urbana adaptável e eficaz. Tem um núcleo de líderes de combate capacitados que estão intimamente familiarizados com a forma israelita de combater, sendo que alguns deles até falam hebraico.

Um dos grandes desafios que Israel terá de enfrentar durante uma possível operação terrestre são as posições preparadas do Hamas, incluindo túneis de combate desenvolvidos ao longo dos últimos anos e, em muitos casos, equipados com sistemas de comunicação.

Ainda que as redes de túneis do Hamas já tenham sido rudimentares, os engenheiros especializados recrutados pelo movimento islâmico têm agora uma experiência considerável na construção de locais subterrâneos pensados para serem verdadeiros centros de comando.

Para se defender, o Hamas deverá ainda recorrer a drones produzidos com recurso a alta tecnologia, permitindo aos militantes do grupo observar as linhas de abordagem israelitas.

Desta forma, uma reocupação total de Gaza seria profundamente desafiadora para Israel, tendo custos humanos pesados tanto para os combatentes israelitas, como para os reféns mantidos no território.

JN/MS

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