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Empresa ignorou alertas sobre perigos “catastróficos” do Titan

titan - milenio stadium

 

Engenheiro que trabalhou na OceanGate e outros especialistas externos à empresa alertaram que o submersível Titan, agora desaparecido com cinco passageiros a bordo, precisava de mais testes antes de realizar uma viagem às profundezas do Oceano Atlântico. Firma norte-americana não terá certificado embarcação.

A primeira expedição aos destroços do Titanic foi realizada em 2021. Seguiu-se mais uma viagem no ano seguinte e uma outra agora, iniciada no domingo. Antes do passeio inaugural às profundezas do Oceano Atlântico, no entanto, a empresa norte-americana OceanGate foi amplamente alertada sobre os perigos que a missão turística poderia acarretar para os próprios passageiros.

Em janeiro de 2018, a equipa de engenharia da OceanGate deu como finalizada a produção do submersível Titan, tendo já definida uma tripulação que seria responsável por garantir a segurança dos futuros exploradores. Contudo, especialistas internos e externos à firma fizeram soar os alarmes.

De acordo com documentos consultados pelo jornal “The New York Times”, há cinco anos, o então diretor de operações marítimas da OceanGate, David Lochridge, moveu um processo judicial no qual advertia que a embarcação precisava de ser submetida a mais testes, enfatizando “os potenciais perigos para os passageiros do Titan no caso de o submersível atingir profundidades extremas”.

A posição de Lochridge em relação ao submersível Titan fez com que o engenheiro fosse afastado da empresa depois de ser acusado de expor informações confidenciais sobre a OceanGate. À Justiça, o ex-responsável pelas operações marítimas explicou que tinha instado a firma a procurar certificação, mas os superiores terão dito que esta “não estava disposta a pagar” por tal avaliação.

Lochridge, informam os documentos, terá ainda alertado a equipa para o facto de a janela de visualização do Titan, que permite aos passageiros observar os destroços do Titanic a partir do interior do submersível, só foi certificada para mergulhar em profundidades até 1300 metros. Porém, o naufrágio encontra-se a quase quatro mil metros de fundura.

Carta de especialistas alertou sobre perigos “catastróficos”

Na mesma altura, a OceanGate também recebeu avisos externos. Especialistas na área da indústria marítima, mergulhadores e oceanógrafos, pertencentes ao comité de Veículos Subaquáticos Tripulados da Marine Technology Society, juntaram-se para enviar uma carta ao diretor-executivo da empresa, Stockton Rush – um dos homens que agora está desaparecido.

Segundo o jornal norte-americano, os entendidos davam conta que a “abordagem experimental” da empresa e a decisão de excluir uma avaliação tradicional por parte de uma agência especializada que pudesse certificar a embarcação poderia ter “consequências catastróficas” na sequência da viagem aos destroços do Titanic.

A Marine Technology Society também refutou as alegações da OceanGate, que indicavam que o Titan “atendia ou excedia os padrões de segurança DNV-GL”, ainda que, aparentemente, não quisesse que a embarcação fosse avaliada pela organização, que é responsável por certificar este tipo de veículos e emite regulamentos.

Um ano após o envio da carta por parte da Marine Technology Society, a OceanGate explicou o porquê de não recorrer à avaliação da DNV. A empresa reconheceu, numa publicação nas redes sociais, que a classificação garante que “as embarcações sejam projetadas, construídas e inspecionadas de acordo com os padrões aceites”, mas que pouco fez para “eliminar operadores de embarcações abaixo da média”.  “Trazer uma entidade externa a par de todas as inovações antes de colocá-las em testes no mundo real é um anátema para a inovação rápida”, justificou.

Ao defender a decisão de não classificar o Titan, a empresa destacou ainda o que disse serem inovações de segurança a bordo, incluindo “vasos de pressão de fibra de carbono e um sistema de monitorização do estado do casco em tempo real (RTM)”.

A capacidade do casco do submersível de suportar tais profundidades foi, porém, igualmente questionada no processo judicial movido em 2018 por David Lochridge.

Não está claro, noticia a agência Reuters, se o submersível Titan chegou a receber qualquer tipo de certificação desde que a partilha foi feita pela OceanGate, em 2019. Todavia, três anos mais tarde, um repórter do canal de televisão norte-americano CBS News foi convidado a viajar na embarcação e teve de assinar vários documentos, entre os quais um termo de responsabilidade, que davam conta que a embarcação não tinha sido “aprovada ou certificada por nenhum órgão regulador”, o que poderia “resultar em lesões físicas, traumas emocionais ou morte”.

Queixas na primeira expedição

No ano passado, a OceanGate mencionou alguns problemas técnicos com o Titan durante a viagem de 2021, depois de terem havido queixas de passageiros. “No primeiro mergulho, o submersível teve um problema com a bateria e teve de ser conectado manualmente à plataforma de elevação”, especificou o consultor jurídico e operacional da empresa, David Concannon, no documento judicial, que foi arquivado pelo Tribunal Distrital dos EUA para o Distrito Leste da Virgínia – responsável por supervisionar assuntos relacionados com o Titanic.

As denúncias levaram a empresa a cancelar a missão para que pudessem ser realizados reparos, ainda assim, em 2022, um total de 28 pessoas participaram na expedição que permite observar de perto os destroços do navio naufragado.

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