Editorial

Viva e deixe morrer

 

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O assunto da eutanásia tem sido frequentemente apresentado nas notícias. Não é um assunto que a maioria queira abraçar, explorar ou falar sobre, mas a realidade é que é uma questão de vida ou de morte para muitos em circunstâncias onde sentem que a vida já não vale a pena ser vivida devido à sua deterioração física e/ou mental. No final, a questão é se nós enquanto indivíduos temos o direito absoluto de decidir se podemos acabar com a nossa vida prematuramente.

Morrer com dignidade e sob os seus desejos preparados deve ser um direito de todos, numa forma carinhosamente preparada, com as famílias ao lado a despedirem-se adequadamente. Infelizmente, este não é sempre o caso e muito, particularmente os idosos, são vítimas da nossa ignorância enquanto seres humanos por não reconhecermos o sofrimento que muitos carregam em instituições às mãos dos seus cuidadores e não só. Muitas vezes depositamos os nossos idosos em instituições e ignoramos os seus desejos e a sua dignidade, prescrevendo medicamentos em excesso, colocando tubos no nariz e na boca para alimentação e feridas cronicas não tratadas são uma realidade em muitas instituições, tanto no Canadá como em Portugal. É uma realidade que a maioria das mortes durante a Covid-19 foram de idosos, sendo que muitos acusaram os cuidadores de tratarem estes indivíduos como incómodos descartáveis. O facto que muitos países são incapazes de olhar pelos seus idosos uma vez que a esperança media de vida aumentou e as infraestruturas não estão construídas para os acomodar tornou-se uma realidade. A família moderna não adotou o velho princípio de “olhar uns pelos outros até à morte”. As pressões financeiras do mundo moderno não providenciam condições para que tomamos conta dos nossos idosos. O direito à liberdade de respirar sem que outros nos digam quando fazê-lo deve ser essencial para as decisões que eventualmente tomamos nas nossas vidas. Se eu decidir, após o consentimento substancial das minhas capacidades mentais e físicas, que a morte é a alternativa ao meu sofrimento, devo ter permissão para fazê-lo sem que os deuses da terra tomem decisões por mim. A 7 de março, de 2021, o governo do Canadá anunciou mudanças na assistência médica ao morrer no Canadá. Os governos provinciais e territórios têm a responsabilidade de determinar onde e como os serviços de saúde são providenciados. Na minha perspetiva, as novas leis não eliminaram burocracia suficiente para que a autodeterminação individual acontecesse. Os passos de pré-autorização fazem com que muitos escolham o suicídio ao invés de esperar por decisões que serão feitas por deuses terrestres.

Um relatório publicado em janeiro de 2017 sugere que a morte medicamente assistida poderá resultar numa poupança substancial para o sistema de saúde canadiano. O sistema de saúde está um caos por todo o país e prova-se incapaz de cuidar eficientemente dos seus cidadãos, portanto, deve ser analisada a reconsideração de muitos obstáculos. Isto não serve para sugerir que os estabelecimentos médicos devem ser usados por aqueles que apenas querem cometer suicídio sem uma avaliação adequada que siga as diretrizes estabelecidas pelo governo. Enquanto a avaliação atual é baseada na qualidade de vida e sofrimento, o que pode ser suportável para alguns, pode ser insuportável para outros. A Associação Médica Canadiana estimou que, em 2017, a poupança poderia ser de $138 milhões, mas esse número poderá ter duplicado até agora tendo em conta os custos dos cuidados para aqueles que têm doenças terminais aumentaram substancialmente. Em 2021, existiram 10,000 mortes por eutanásia, um aumento de cerca de um terço comparando com o ano anterior. No próximo ano, o governo tornará a eutanásia disponível para pessoas com problemas do foro mental, desde que siga as diretrizes do governo.

Nesta edição, o Milénio Stadium recorre ao tópico da eutanásia para informar e educar os nossos leitores sobre este assunto controverso, contudo a informação é necessária para aqueles que possam não estar familiarizados com a sua disponibilização. Existem muitos, particularmente idosos, que sofrem sem ter a escolha de determinar a sua própria vontade. Estamos a falar de escolhas e não sobre ser antirreligioso ou transgressores da lei. As leis controlam as nossas vidas e a eutanásia tem sistemas com os quais devemos estar familiarizados.
O Post Manole escreveu uma música que diz:

Eutanásia
Desisti de me manter intacto
Quando eu for não vai doer nada
Um fim à raiva
Quando eu for não vai doer nada
Um coro de anjos
Estranhos familiares
Dizem que é indolor
Eutanásia

Manuel DaCosta/MS

 


Editorial in english

 

Euthanasia-ENG-Stella Jurgen-colour

 

Live and Let Die

The subject of euthanasia has been in the news often. It’s not a subject matter that most embrace to explore and talk about but the reality is that it’s a matter of life and death for many in circumstances where they don’t feel that life is worth living due to physical and/or mental deterioration. It’s a very personal decision, which is often challenged by the medical and religious establishments for ethical and moral reasons. The issue in the end is if as individuals we have the absolute right to decide if we can end our lives prematurely.

Dying with dignity and under your prepared wishes should be everyone’s right in a lovingly planned way with families by our side saying the proper goodbyes. Unfortunately, this is not always the case and many, particularly seniors, are victims of our ignorance as human beings for not recognizing the suffering many endure in institutions at the hands of caretakers and others. We often warehouse our seniors in institutions and ignore their wishes and dignity by overly prescribing drugs, placing tubes into their noses and mouths for feeding and chronic sores untreated are a reality in many institutions both in Canada and Portugal. It is a reality that the majority of deaths during Covid were seniors, with many accusing the caretakers of treating these individuals as disposable nuisances. It’s become a reality that many countries are incapable of looking after their seniors as life expectancies increase and infrastructures are not built to accommodate. The modern family has not adopted the old principle of “taking care of each other ‘til death”. Financial pressures of the modern world do not provide the conditions for us to take care of our elders. The right to liberty to breathe without others telling us when to do it should be essential for the decisions that we eventually make in our lives. If I decide after substantial acceptance of my mental and physical capabilities that death is the alternative to me suffering, I should be allowed to do it without earthly gods making decisions for me.

On March 17th, 2021, the government of Canada announced changes to Canada’s medical assistance in dying. Provincial and Territorial governments have the responsibility for determining where and how healthcare services are provided. In my view the new laws did not eliminate sufficient bureaucracy for individual self-determination to happen. The pre-authorization steps cause many to choose suicide instead of waiting for decisions to be made by earthly gods. A report published in January 2017 suggested that medical assisted dying could result in substantial savings across Canada’s healthcare system. The medical system across the country is in chaos and unable to take care of its citizens effectively, therefore reconsideration of the many obstacles should be looked at. This is not to suggest that the medical establishment should be used by those who simply want to commit suicide without a proper evaluation in accordance with the guidelines established by the government. While the current evaluation is based on the quality of life and suffering, what may be bearable to some, may be unbearable to others. The Canadian medical Association estimated in 2017 that savings could be $ 138 million but that figure may have doubled by now as the costs of caring for those who have terminal diseases have increased substantially. In 2021 there were 10,000 deaths by euthanasia, an increase of about a third from the previous year. Next year the government will make euthanasia available for people with mental health conditions for those who comply to the government guidelines. On this edition of Milenio-Stadium the topic of euthanasia is to inform and educate our readers about a topic that is controversial, but information is necessary for those who may not be familiar with its availability. There are many, particularly seniors, who suffer without having a choice to determine their own will. We are speaking of choices and not to be anti-religious or lawbreakers. Laws control our lives and euthanasia has systems in place that all should be familiar with.

Post Malone wrote some lyrics that say:

Euthanasia
I gave up on keepin’ me intact
When I go out it ain’t gonna hurt at all
An end to anger
When I go out it ain’t gonna hurt at all
A choir of angels
Familiar strangers
They say it’s painless
Euthanasia

Manuel DaCosta/MS

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