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“Posso não saber onde nasci, mas sei quem sou” – Buffy Sainte-Marie

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A notícia apanhou muitos de surpresa e trouxe para o debate público o tema da apropriação no seu estado mais repugnante – segundo uma investigação jornalística da CBC, Buffy Sainte-Marie não tem origens indígenas, mas sim europeias. Acontece que durante quase 60 anos Buffy, que atualmente tem 82 anos de idade, assumiu-se como cantora/compositora indígena.
Muitas perguntas se levantaram, assim que se conheceu esta história: porquê? O que terá levado Buffy a mentir (se efetivamente for esse o caso)? Uma questão de empatia com a comunidade indígena? A tentativa de ajudar a promover uma população que sempre se sentiu marginalizada e até maltratada no Canadá? Ou terá sido apenas uma construção perfeita de marketing, com vista a obter dividendos do facto de se assumir como diferente e protetora de uma comunidade oprimida?
As respostas não aparecem ainda claras, nem totalmente esclarecedoras. Será que alguma vez a verdade absoluta será conhecida? Duvido.
Por fim, fica também no ar a ideia de que, a ser verdade o que apurou a CBC, efetivamente Buffy Sainte-Marie, ao longo da sua vida, conseguiu atrair atenções para a realidade indígena canadiana e, portanto, prestou um serviço inestimável à comunidade a que diz (ainda hoje) pertencer. Apesar disso, académicos indígenas como Kim TallBear, professor de estudos indígenas na Universidade de Alberta, em Edmonton, e membro do Sisseton-Wahpeton Oyate, afirmam que é inaceitável que pessoas não indígenas falem em nome dos povos indígenas e recebam honras reservadas para eles. “É um roubo de oportunidades, de recursos. É o roubo das nossas histórias”, disse Kim TallBear.
Há uma semana Buffy Sainte-Marie publicou na sua página de Facebook a sua verdade numa carta aberta que termina com uma frase poderosa – “posso não saber onde nasci, mas sei quem sou”.
Quem é Buffy Sainte-Marie?
Se já estiver a viver no Canadá há uns bons anos, provavelmente, conhece este nome. Sainte Marie é uma cantora e compositora canadiana que, desde os anos 70, se apresenta como promotora da cultura indígena Cree a que diz pertencer.
Mas afinal é ou não é indígena? Eis a questão…
No final do ano passado, a CBC recebeu uma denúncia de que Sainte-Marie não tem ascendência cree, mas sim raízes europeias.
Sainte-Marie é a mais recente figura pública de grande visibilidade cuja história de ascendência foi desmentida por documentação genealógica, incluindo a sua própria certidão de nascimento, investigação histórica e relatos pessoais.
O que sempre disse Buffy Sainte-Marie sobre as suas origens?
Durante muitos anos, Sainte-Marie afirmou ter nascido na Primeira Nação Piapot, perto de Regina. Depois, segundo a sua história, foi adotada por um casal do Massachusetts, Albert e Winifred Santamaria, que a criaram perto de Boston. Mais tarde, disse, reencontrou os seus parentes de Piapot e foi adoptada pela comunidade.
O que dizem os seus familiares?
Alguns membros da família de Sainte-Marie acreditam que a sua história foi construída com base numa elaborada invenção. “Ela não nasceu no Canadá…. Ela nasceu claramente nos Estados Unidos”, disse Heidi St. Marie, filha do irmão mais velho de Sainte-Marie, Alan. “Ela não é claramente indígena ou nativa americana”.
Como reagiu Buffy Saint-Marie à investigação da CBC?
Num e-mail enviado à CBC em 18 de setembro, a advogada de Sainte-Marie em Ontário, Josephine de Whytell, afirmou: “Em nenhum momento Buffy Sainte-Marie deturpou pessoalmente a sua ascendência ou quaisquer pormenores sobre a sua história pessoal ao público”. Recentemente, numa declaração em vídeo publicada no Facebook, Buffy reiterou que é “um membro orgulhoso da comunidade nativa com raízes profundas no Canadá” e disse que há muitas coisas que não sabe sobre a sua ascendência.
O que dizem os indígenas?
“Este engano permitiu-lhe beneficiar de uma narrativa muito deliberada e falsa que induziu em erro milhares de jovens indígenas, adultos e, mais tragicamente, sobreviventes indígenas de danos coloniais”, afirmou o Indigenous Women’s Collective na sua declaração no X, a plataforma de comunicação social anteriormente conhecida como Twitter.
O Coletivo de Mulheres Indígenas reconheceu que Sainte-Marie foi tradicionalmente adotada pela família Piapot há 60 anos, ao abrigo das leis sagradas Cree de Wahkotowin, mas afirmou que tais adoções não dão a ninguém permissão para reivindicar falsamente a sua identidade de origem indígena – “A falsa história de origem e a apropriação do trauma intergeracional indígena é intolerável e um ato de violência colonial”.
Madalena Balça/MS

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