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Especialíssima

braz - futsal - milenio stadium

 

Começam a esgotar-se os adjetivos para descrever a seleção portuguesa de futsal: para além de já não sofrer uma derrota, em jogos oficiais, há praticamente seis anos (sim, leram bem!) a formação das quinas já conquistou o Euro 2018, o Mundial 2021, o Euro 2022 e agora venceu a primeira edição da Finalíssima de futsal, torneio organizado pela confederação europeia (UEFA) e sul-americana (CONMEBOL), que opôs o vencedor do Campeonato da Europa e o detentor da Copa América.

Por trás das grandes exibições e conquistas, que tanto orgulham os portugueses e que engrandecem o nome de Portugal na competição a nível mundial, está um – também ele grande – homem. Nascido no Canadá, filho de emigrantes portugueses, Jorge Braz traz consigo a humildade que já assumiu trazer da infância em Sonim, freguesia de Valpaços, mas também o querer sempre mais e a grande paixão pelo futsal – que o fez, inclusivamente, recusar propostas no futebol.

Jorge Braz é o comandante desta “tropa de elite” e deposita nos seus jogadores – e nas suas qualidades e competências – total confiança. E percebe-se porquê. Esta seleção é mesmo ESPECIALÍSSIMA!

Milénio Stadium: Tenho que começar com esta pergunta: já ninguém tem dúvidas acerca do potencial da nossa seleção… mas quando viu confirmada a conquista desta Finalíssima o que é que lhe passou pela cabeça?

Jorge Braz: Foi um momento muito feliz, no fundo é o continuar a manter estes últimos registos. É eles continuarem a responder de uma forma extremamente competente a um desafio dificílimo: início da época desportiva, na Argentina, com tudo que passámos para chegar lá… E seja qual for a adversidade esta seleção responde sempre de uma forma muito competente. E quando terminou realmente foi dizer assim: “Pronto, somos campeões da Europa, campeões do mundo… e mesmo este que era entre campeões europeus e campeões sul-americanos, mesmo numa competição como esta, conseguimos – especialmente naquela segunda parte – confirmar a nossa qualidade”. Isso é que me deixou mesmo muito satisfeito e com um orgulho imenso por tudo o que os jogadores portugueses têm conseguido ultimamente.

 

MS: Bem, mas realmente esta equipa tem dado enormes alegrias a Portugal – são já dois Europeus, um Mundial… e agora a Finalíssima! Parece que já ninguém nos consegue travar…

JB: Sim, o futsal português sempre teve muita qualidade. E agora com o aparecimento de imensos jovens, com a qualificação, todo o processo, as nossas bases estão mais fortes no fundo e isso ajuda-nos a estar mais perto depois deste tipo de decisões.

 

MS: Ainda assim, ao mesmo tempo que estas conquistas são um grande “boost” para os atletas e até mesmo para a equipa técnica, existe também a possibilidade de se poder começar a “facilitar”?

JB: Não, isso é impossível. Com estas pessoas é impossível. Aliás, o nível de exigência e de compromisso que todos temos aqui na Federação Portuguesa de Futebol, começando pela direção… É como eu costumo dizer, a direção da Federação é a primeira equipa de alto rendimento que temos – e nós vamos atrás. Estes atletas, a forma como todos os dias treinamos, todas as ações, até as mais sociais, as refeições, as reuniões… Não, aqui nunca há facilitismo. É como eu digo sempre: é muito bom tudo isto que conseguimos mas o próximo dia mais importante será o dia do primeiro treino. O próximo treino é o dia mais importante, o resto é conversa. Portanto, daqui a 15 dias temos já aí o início da qualificação para o Mundial e o primeiro dia da próxima concentração será o nosso dia mais importante, para nos focarmos, trabalharmos novamente para o próximo objetivo. Facilitismo não faz parte do nosso vocabulário aqui no nosso espaço.

 

MS: A motivação é meio caminho andado para ter sucesso… mas quando já se ganhou tanto, como é que se faz?

JB: Sim, mas vem já aí a oportunidade para estarmos novamente num Campeonato do Mundo. E o Mundial é a maior competição que existe, não é? E sabemos da dificuldade, ou da cada vez maior dificuldade, que temos em garantir essa qualificação, só com seis ou sete seleções da Europa… São mais de 50 países a jogar essa qualificação e só seis ou sete é que irão estar no Mundial. Portanto há já aí um objetivo muito importante, esta primeira fase com o grupo 3 em que basta um resultado menos conseguido para já não nos qualificarmos diretamente e pomos em causa tudo isso, por isso é que tem que ser tudo sempre como se fosse a primeira vez. E eles, os jogadores e toda a gente, assumem isso sempre dessa forma.

 

MS: E por falar em motivação… um dos momentos que deu que falar foi o emotivo discurso do Jorge no momento que antecedeu as grandes penalidades. Acabou por até ter ali um momento de “adivinhação” ao dizer, referindo-se a Edu, que “este não perde um jogo nos penáltis”… Estava mesmo convicto que ia conseguir esta vitória?

JB: Sim, no fundo é confiar em quem temos. Quando trabalhamos diariamente como trabalhamos, quando eu olho para a competência de todos eles – competências diferentes mas que se complementam muito bem – mesmo chegando a um momento daqueles, um momento difícil, muito emocional, em que é preciso não falhar, é confiança é total! E claro que estava convicto – sou a primeira pessoa a acreditar sempre que é possível, seja em que momento do jogo for, estejamos a perder, a ganhar, sejam penáltis, seja prolongamento… Faz parte do jogo, são momentos que podemos vivenciar. Agora temos que estar preparados para eles – nós preparamo-nos para todos esses momentos, e depois quando chega o momento da verdade claro que a confiança neles e na competência que eles têm é sempre total. Naquele caso em particular era uma confiança muito grande no Edu e no que ele poderia fazer – e ainda bem que assim foi.

 

MS: Em declarações à imprensa, o Edu lembrou que o Jorge tinha afirmado, no início do torneio, que todos seriam importantes. Mais ainda, quando lhe disse que seria ele a defender caso fossem a penaltis sentiu de imediato a confiança nos seus olhos. Parece que há aqui uma grande relação de cumplicidade entre treinador e atletas… É importante para si que assim seja?

JB: É importante cada um perceber o seu papel, cada um desempenhar muito bem as tarefas inerentes à sua função. Eles desempenham muito bem as funções deles e todas as tarefas que nós lhes exigimos, e nós temos que cumprir a nossa. Claro que ali serei sempre eu a cara mais visível mas toda a equipa técnica, todo o staff, equipa médica, team manager… é muito importante. A forma como todos percebemos que há um objetivo que é comum a todos – estamos ali para ganhar, estamos ali todos para trabalhar e no fundo servir os atletas, para que eles depois possam desempenhar muito bem a sua função. E quando confiamos todos uns nos outros e esta relação é genuína e honesta, se calhar depois é mais fácil nos momentos decisivos as coisas acontecerem, ou pelos menos conseguirmos desempenhar a nossa função com competência. E isso é que é essencial!

 

MS: Como em todas as seleções, há atletas que vêm… e outros que vão. Estas conquistas são a validação de que realmente temos talento em todas as gerações?

JB: Sim, já há muitos anos que eu dizia que o futuro estaria assegurado: teríamos jogadores com qualidade e com competência para estar numa seleção A, para jogar europeus e mundiais. Porque vinhamos a tentar qualificar cada vez mais todo o processo formativo dos jovens jogadores portugueses e as coisas estão a começar a acontecer, estão a aparecer, um trabalho já iniciado há alguns anos e é por aí que temos que continuar.

 

MS: Há aqui um outro dado muito curioso – e extremamente impressionante -, que tem que ver com o facto de já não perder um jogo oficial há quase seis anos. Como é que isto o faz sentir?

JB: Nem eu sabia que era há tanto tempo! (risos) Tivemos aí alguns jogos de preparação que o resultado não foi tão bom e até nos esquecemos… Sim, e por isso é que temos vencido as últimas competições. Temos é que manter esse registo e para o manter é no nosso processo, no nosso trabalho e no dia a dia – isso é que temos que nos lembrar sempre. Definir objetivos é muito fácil, o problema é lembrarmo-nos diariamente do objetivo que definimos. Se agora temos um próximo objetivo de estarmos num Mundial, temos que nos lembrar que dia a dia temos que não facilitar em nada para depois ir vencendo os jogos e alcançarmos esse objetivo. Isso é que é muito importante, do meu ponto de vista.

 

MS: Com tudo isto… acaba por sentir uma maior pressão para que a seleção continue a crescer e a alcançar títulos?

JB: Não, é exatamente o contrário. Existe é uma maior confiança, no fundo uma felicidade e uma alegria enormes cada vez que nos juntamos, cada vez que estamos na seleção, cada vez que vamos treinar, jogar… isso é que tem que haver! Somos privilegiados por desempenhar estas funções. Não é com pressão, tem é que ser com um enorme prazer em exibir a competência que temos, isso é que é importante. A pressão existe sempre, cada vez que se é chamado a uma seleção nacional, agora isso tem que ser visto do ponto de vista positivo e não de uma forma negativa.

 

MS: Como é que vê o apoio crescente que tem vindo a ser dado às diferentes modalidades, mais concretamente ao futsal? Estas vitórias também têm, claramente, contribuído para tal… Mas esta Finalíssima é também uma nova e muito importante competição, até para a projeção da própria modalidade.

JB: Sim, foi mais uma oportunidade competitiva interessante entre a UEFA e a CONMEBOL, por isso é que este tipo de competições e atividades que vão surgindo é muito importante a nossa responsabilidade e a forma como nos comportamos, como estamos – não é só vencer – para cada vez realçar mais o futsal em termos mundiais, e para dar outros passos para outras competições futuras que possam surgir.

 

MS: Ainda assim: acha que há espaço para algum tipo de melhoria no que diz respeito ao acompanhamento, apoio e até na capacidade de dar oportunidade aos mais jovens?

JB: Não, mais do que a Federação já tem feito, tudo o que proporciona, as condições, a visão, desenvolvimento desde há muitos anos… o trabalho tem sido de excelência. Nada, nada, nada nos falta para pôr em prática as ideias que existem, para desenvolver. Já vamos ter mais centros de treino esta época desportiva, há mais seleções nacionais, mais elementos na equipa técnica nacional, tem sido sempre a crescer de ano para ano. Já nem sei se há espaço para crescer ainda mais… mas há, há sempre coisas a melhorar. Se não for em quantidade, é em qualidade ou reajustamento. Mas a seleção tem proporcionado tudo e mais alguma coisa para que seja possível alcançar este tipo de resultados.

 

MS: Acredita num futuro (ainda mais) brilhante para o futsal português?

JB: Acredito fielmente que estaremos sempre nas decisões – isso acredito. Agora é desporto – sabemos que nem sempre vamos ganhar. Há outros países, outras seleções de enorme qualidade. E é desporto, umas vezes ganha-se e outras vezes perde-se. Agora estar no topo, estar nas decisões, legitimamente aspirar a conquistar mais títulos… isso parece-me que não é nenhuma utopia e é totalmente legítimo, e nós queremos muito manter este registo, continuar a funcionar desta forma, continuar a ganhar quando chegam essas decisões. Mas não tenha dúvidas que vamos continuar a orgulhar os portugueses, o desporto português e a estar nos grandes palcos dada a qualidade que o futsal português tem.

Inês Barbosa/MS

 

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