Em 2006 Carmo Monteiro vivia na Alemanha, sua terra natal. Na região onde vivia havia uma das poucas associações portuguesas existentes nesse país – a Associação Portuguesa de Gütersloh, que entre outras coisas tinha um rancho folclórico onde Carmo dançava.
Ora, a seleção portuguesa, na altura tinha escolhido como “quartel-general um hotel localizado em Marienfeld já conhecido dos portugueses porque já lá tinha estagiado o Futebol Clube do Porto, no tempo de Mourinho. Os poucos quilómetros que separam Gütersloh de Marienfeld proporcionaram à comunidade portuguesa residente naquela região, momentos especiais e inesquecíveis, como nos contou Carmo Monteiro – “nós, sendo a associação mais próxima de Marinfeld, tivemos acesso a muita coisa. Primeiro, as estações de televisão acamparam todas no parque de estacionamento que nós tínhamos, que era enorme e ainda existe. Nós montámos uma tenda e chegámos a fazer diretos para a SIC. Entrámos em direto no programa, o nosso rancho As Lavadeiras de Gütersloh dançou, e dançámos para a seleção. E então o que é que nós organizámos para a chegada? Convidámos mais quatro ranchos, que vieram de outras partes da Alemanha, e preparámos uma música e uma coreografia fácil para que depois, na hora da seleção chegar, todos os ranchos juntos dançássemos aquela moda. E assim foi. Fizemos isso. Foi fantástico. Na altura, não tínhamos 400 motos para acompanharem a seleção, mas foram 200. Já na época tínhamos 200 motards a acompanhar a seleção. Foi um dia de loucos, mas nem próximo do que foi este ano.”
Na memória e numa fotografia que testemunha o acontecimento, Carmo guarda um momento particularmente emotivo para todos os membros do Rancho – “o Scolari e mais alguns elementos da FPF, no princípio do ano, foram ver o hotel. Andavam ainda a escolher onde ficariam instalados. A Federação aproximou-se de nós e penso eu também que na época, o Consulado, e nós também dançámos para a Federação e no fim tirámos uma foto que guardo com muito carinho com o Scolari no meio de nós, com um cachecol de Portugal ao pescoço”.
Portugal teve neste ano de 2024 uma receção tal, que Cristiano Ronaldo escreveu nas suas redes sociais “parece mesmo que ainda estamos em Portugal. Obrigado pelo apoio”. Carmo Monteiro está numa posição privilegiada para estabelecer uma comparação com o que se viveu há 18 anos, precisamente na mesma região da Alemanha – “eu este ano quando vi aquela receção, as emoções vieram todas ao de cima porque eu estive lá e vivi aquilo com uma certa intensidade. Mas hoje a seleção tem um tamanho completamente diferente. Quem viu a chegada da seleção em 2006 e viu o que aconteceu agora, não tem comparação. É o triplo. E o fenómeno sabe-se muito bem como é que se chama – Cristiano Ronaldo. Em 2006, o Cristiano Ronaldo ainda não era quem ele é hoje. Era um dos melhores do mundo.
Hoje ele é o melhor do mundo. A Alemanha tem um grande número de imigrantes e lusodescendentes, só que estão espalhados e não há essa perceção lá. Para se concentrarem todos numa cidade pequena no interior do país, é um fenómeno, isto é um fenómeno. Na época se achámos fantástico, agora… Quem não sabe, eu nasci na Alemanha e eu nunca me senti alemã, porque para os alemães por alguma razão, os portugueses parecem estar-lhes atravessados na garganta. Quando se fala em Portugal, seleção, todos os outros são melhores. O Cristiano nunca foi bom, o Figo nunca foi bom. Portanto, eles não gostam de nós. Então, ontem de manhã, vi uma reportagem numa televisão, onde apareceu um jovem alemão que tinha, do joelho para baixo de uma das pernas, três rostos do Cristiano Ronaldo tatuados, a palavra Cris é o número sete. E o jornalista perguntou “Então, mas porquê?” e ele disse “claro, o Cristiano é o maior do mundo”. E isto é uma transição muito grande. O Cristiano conseguiu mudar a mentalidade, as mentalidades mais frias em relação ao povo português”.
Relativamente aos resultados, nesse ano de 2006 a seleção nacional caiu nas semifinais num jogo frente à França. Este ano, ainda só ganhámos um jogo, mas Carmo Monteiro afirma que vamos ganhar o Campeonato Europeu – “eu sou daquelas que acredita até não haver hipóteses para acreditar. Enquanto a seleção estiver no torneio, nós temos tudo para ganhar, tudo para ser campeões até ao último jogo”.
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