Música

“Cantar em Toronto foi sempre uma grande alegria para mim” – Carminho

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Transporta o fado em si, corre-lhe nas veias e quando canta percebe-se que há genuinidade, experiência, vivência, mas também muita criatividade. Carminho, vale por si, pela sua extraordinária voz, pelo dom que nasceu consigo de transformar em arte tudo o que canta, ainda que o ambiente fadista em que cresceu tenha ajudado a moldar-lhe a personalidade e o gosto musical. A verdade é que seja com o ritmo da música popular brasileira, seja no mais puro estilo de bossa nova, seja nas incursões da nova música pop portuguesa… em tudo Carminho deixa a sua alma fadista. A alma portuguesa com que se identifica e que transportou de forma sublime para o seu mais recente álbum.

Carminho estará em Toronto no próximo dia 21 de outubro, num concerto que para além de celebrar o melhor da música portuguesa, comemora também os 70 anos de imigração portuguesa no Canadá. Ouvir Carminho, a Portuguesa, ao vivo – que bela maneira de homenagear os que de forma destemida um dia saíram de Portugal, sem, no entanto, nunca terem deixado que Portugal saísse deles.

Milénio Stadium: Conta neste Portuguesa com a participação de várias mulheres – compositoras, poetisas – foi propositada essa escolha? Ou seja, quis trazer para este álbum, para além de si própria, a mulher Portuguesa?
Carminho: O facto de haver tantas mulheres incríveis neste disco é uma feliz constatação, porque eu pedi composições a vários autores da minha geração, homens e mulheres, e as canções quando foram para estúdio foram sendo trabalhadas já de uma forma muito natural, sem muita consciência de quem eram os autores enquanto as trabalhava e quando escolhi a setlist e percebi que aquela era a peça final é que percebi que havia tantas mulheres nas autorias, exceto o Marcelo Camelo, e isso deixou-me muito feliz pela naturalidade com que isso tudo aconteceu, não é algo que eu force, mas deixa-me imensamente feliz.

MS: Este já é o segundo álbum em que a Carminho assume também a produção. Sente que deste modo consegue transmitir a sua arte de uma forma mais plena?
Carminho: Tem feito sentido ser eu a produzir estes últimos discos porque tanto o “Maria” como o “Portuguesa” são discos que se baseiam muito na prática do fado, na minha prática do fado e na prática do fado como género musical. O primeiro muito mais intuitivo, emocional e baseado nas minhas memórias de infância, por isso ninguém podia traduzir as minhas memórias de infância tão bem como eu, este segundo numa extensão desse pensamento, desse percurso e desse processo mas mais prático, racional e agora um pouco mais centrado na construção de um repertório no gosto e na crença que eu tenho no fado, sendo que o fado tem muitos interpretes e estilos muito diferentes e eu queria vincar e frisar aquele que é o meu estilo, por isso teriam de ser decisões tomadas sem muitas interrupções e sem muitas pontes.

MS: Podemos dizer que este é um disco de fado, mas fado cantado pela Carminho? Ou seja, a pessoa, a sua vivência, as suas influências, o mundo que transporta… fazem este Portuguesa?
Carminho: Sim acho que me identifico bastante com essa descrição. É um disco de fado sem dúvida nenhuma, baseado na prática do fado tradicional e das suas raízes e história, mas feito por mim, sobre o meu olhar e sobre uma direção que é direta do meu coração, do meu gosto, da minha intuição para o disco e isso leva, sem dúvida nenhuma, as minhas influências, as experiências que tenho vivido e que são diferentes de pessoa para pessoa e de geração para geração. São estas contaminações, na minha opinião positivas, que trazem os pequenos movimentos de diferenciação ou de experimentação ou de exploração a um disco de fado que é tradicional, para que ele também não se repita, para que não seja um exercício de memória mas sim uma língua que é viva e que vai falando sobre mim e sobre aquilo que eu penso.

MS: Ao longo da sua vida de fadista tem partilhado experiências musicais com múltiplos artistas – Pablo Alborán, HMB; Bárbara Bandeira, Mariza Monte, Caetano Veloso, Chico Buarque… a lista é enorme. Todas essas partilhas, o que lhe têm trazido ou acrescentado?
Carminho: Acredito profundamente que os artistas se constroem uns aos outros. Sinto-me muito influenciada pelo trabalho dos outros artistas, primeiramente pelo meu género musical, mas obviamente que com o crescer e com o mundo que fui ganhando, fui-me inspirando noutras formas de fazer música, arte e noutro tipo de pensamento, mesmo que isso não seja para se relativizar diretamente com o que faço. Tudo isto são brisas que perfumam os nossos trabalhos e as nossas ideias e que acabam por resultar em algo novo. Eu tenho uma honra enorme e um privilégio de ter ao meu lado estes artistas que não só me fizeram crescer imensamente, todos eles, como artista, mas também como pessoa. Fiz sempre parcerias e duetos com pessoas de quem gosto muito e com quem pude ter tempo para partilhar, para trocar ideias, para chegar ao resultado que mais nos deixaria confortáveis, felizes e realizados. Por isso, sim é uma honra e um privilégio todos esses encontros e cada um tem um lugar muito especial e bastante definido na minha vida e na minha carreira.

MS: Apesar de a música e o fado em particular ser um ambiente muito familiar para si, desde sempre, quando percebeu que a sua vida profissional não iria passar pela área em que se formou (Marketing e Publicidade), mas sim pelo fado/música?
Carminho: Foram precisos muitos anos até eu realizar que o fado seria a minha profissão e que iria ter todo este protagonismo na minha vida. Foi preciso um discernimento, foi preciso fazer esse curso de Marketing e Publicidade para perceber também o privilégio que é poder fazer aquilo que se gosta e ter essa oportunidade e ter quem queira trabalhar isso connosco, ter uma equipa que trabalhe isso connosco e termos uma fonte interior que brota e que não se esgota. Isso é tudo um grande privilégio e, portanto, só aos 25 anos é que eu gravei. Mais ou menos aos 22 anos comecei a ter essa consciência quando regressei de uma viagem que eu fiz à volta do mundo a fazer voluntariado durante um ano de mochila às costas, onde pude fazer voluntariado na casa da madre Teresa de Calcutá e noutros lugares e viajei sozinha durante 9 meses, umas vezes com uma prima outras vezes sozinha, e foi um momento de crescimento, de ultrapassar enormes desafios pessoais e de acreditar que eu podia fazer o que eu quisesse desde que fosse com alma, com amor e a caminho da minha felicidade e foi assim que descobri a minha vocação.

MS: Vem ao Canadá cantar num ano em que se celebram os 70 anos da chegada dos primeiros imigrantes portugueses a este país. Que significado tem para si este concerto?
Carminho: Cantar em Toronto foi sempre uma grande alegria para mim. Encontrar-me com pessoas que estão do outro lado do mundo, mas que estão tão perto e compreendem tão bem a linguagem, a cultura e o sentimento sobretudo. Cantar para portugueses que têm tantas saudades de Portugal tem um sabor muito especial, muito intenso e festejar esta data é uma alegria, é festejar marcos, é celebrar momentos que acabam por nos enraizar não só a Portugal que é o lugar onde todos nasceram, mas também celebrar o sítio que os recebeu e as famílias que cresceram e os filhos que já nasceram nesta terra e por isso toda esta celebração é muito bonita e eu fico muito feliz por fazer parte dela e estar aqui este ano.

Madalena Balça/MS

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