Encontrado o primeiro “retrato” de uma família Neandertal através de ADN
Uma equipa de cientistas europeus descobriu aquele que pode ser considerado o retrato mais antigo de uma família. O perfil genético de 13 Neandertais foi encontrado em duas grutas na Sibéria: dois deles eram um pai e a sua filha adolescente, provando que estes nómadas viveram em grupos pequenos e consanguíneos, tal como os humanos atuais.
A investigação, publicada na semana passada na revista científica Nature, utilizou o sequenciamento de ADN para analisar a vida social de uma comunidade de Neandertal, que viveu naquela região há 54 mil anos. O material genético extraído dos ossos dos 13 indivíduos (sete machos e seis fêmeas) confirmou que pelo menos dois deles eram pai e a filha. E outros dois eram seus parentes, uma criança pequena e uma mulher adulta que podia ser prima ou avó. Esta é a primeira vez que uma família de Neandertal é localizada.
A equipa de cientistas liderada pelo biólogo Svante Pääbo, do Instituto Max Planck de Biologia Evolutiva, na Alemanha, recentemente distinguido com o Prémio Nobel da Medicina, conseguiu recuperar grande parte do genoma dos Neandertais de Chagyrskaya e Okladnikov, duas grutas no sul da Sibéria, e compará-lo com o de outros 18 Neandertais anteriormente descobertos.
“O estudo fornece um quadro concreto de como pode ter sido uma comunidade Neandertal”, afirmou Benjamin Peter, que supervisionou a investigação juntamente com Pääbo, citado pela France-Presse. “Isto faz os Neandertais parecerem-me muito mais humanos”, acrescentou.
Os resultados mostram que vários dos 11 indivíduos encontrados em Chagyrskaya viveram ao mesmo tempo e no mesmo local, algo pouco comum na antiguidade. Já os dois vizinhos em Okladnikov, a cerca de 100 quilómetros da outra gruta, não estavam diretamente relacionados. No entanto, a variabilidade genética dos ossos sugere que os grupos de Neandertais eram pequenos, com cerca de 10 a 20 pessoas.
Estes dados apoiam a teoria de que o isolamento e a consanguinidade contribuíram para a extinção destes primatas, que desapareceram misteriosamente da Terra há cerca de 40 mil anos.
O estudo revelou ainda as mulheres eram mais suscetíveis a afastarem-se da caverna do que os homens, isto porque genoma mitocondrial passado de mãe para filho variava mais do que o do cromossoma Y passado pelos pais. Ou seja, as mulheres deixavam as suas famílias para viver noutro sítio, enquanto os homens permaneciam dentro do clã.
Os Neandertais viveram na Europa e na Ásia antes do Homo Sapiens e partilharam o continente europeu durante 14 mil anos, no mínimo. Com um cérebro maior do que o do homem moderno, diversos indícios mostraram que eram mais sofisticados do que se pensava. Enterravam os seus mortos e tinham ainda a habilidade de produzir ferramentas próprias para caçar, sendo as suas presas habituais: bisontes, cavalos e cabras de montanha. A pesquisa de Pääbo revelou também que quase todos os humanos modernos têm um pouco de ADN neandertal.
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