Dina Lopes: Forma própria comunicar
Quando Dina Lopes era adolescente, como todos os jovens, a escolha de um rumo de vida estava bem definida. Queria seguir as artes. A morar num meio pequeno, numa altura em que Portugal se preparava para entrar na comunidade europeia, não havia muito acesso a materiais de pintura, livros, contato com os mestres… aulas, o que fazia Dina procurar mais e mais pelo conhecimento.
A entrada na Arca em Coimbra foi o caminho encontrado e que seria a sua “tela de vida”. Tirou o curso Profissional de Artes Gráficas, a Licenciatura em Pintura e assim a sua grande paixão pela arte foi despertando cada vez mais. Mora no campo onde construiu o seu ateliê e onde tem as suas raízes. Os seus avós e a sua mãe eram muito ligados à agricultura e dessa forma, muito sensíveis e dedicados no saber trabalhar a terra. Era tudo tão natural para a jovem Dina e isso seduzia-a. Naturalmente, foi começando a ter essa ligação do campo aos seus trabalhos.
A simplicidade e o não forçado, são ainda hoje um foco na vida de Dina. Nos dias de hoje usa-se muito o pensamento, o intelecto e isso cria por vezes barreiras. Enquanto na natureza todo o procedimento é muito natural. É esta a filosofia de Dina Lopes bem pintada nas suas telas.
Nunca teve muita preocupação de procurar galerias ou para concorrer a grandes prémios, porque assim como a natureza consegue as coisas de uma forma muito natural, o seu trabalho, a forma como o comunica tem aberto várias portas, muitas delas nunca pensadas em alcançar. E isso faz de Dina uma artista feliz. Onde cria as suas artes é quase como se fosse um espaço mágico, onde existe uma mesa de suporte das tintas e a mesa onde os seus avós comiam o borralho. Tudo que preenche o espaço de criação faz parte da história da sua família e de pessoas que amou e que ainda ama.
Nada é ao acaso.
É uma artista de camadas tal e qual como a técnica que aprendeu a aplicar. Temas históricos a nível mesmo, até político, a ligação entre a história e o Homem, a ciência e a própria natureza, é tudo pintado como uma série de viagens em simultâneo. A sua obra muitas vezes tem vários planos, várias camadas e a sensação de uma viagem ao passado, presente e futuro.
Gosta de iniciar com uma mistura de tintas para cima da tela ao acaso. De seguida começa por pintar as primeiras formas e depois outras e outras. Criar cenários sobre cenários, sentidos sobre sentidos. Ao longo do processo criativo vai naturalmente apagando aquilo que está feito. Depois de tanto trabalho, Dina desliga-se e vai-se desapegando de muitas formas já pintadas, dando lugar a outras que lhe indicam novos caminhos. Tudo é criado suavemente, numa inquietude apaixonante e dessa forma permite que surjam resultados surpreendentes que a Dina só os descobre depois. Não os idealizou. Eles surgem como magia há medida que segue o comando dos seus sentidos sem se questionar. Vai nascendo uma nova perspectiva no meio do caos. Aprende a desfocar para se conseguir ver o que é que está do outro lado. Ao conseguirmos entrar na tela, vivemos um mundo de cor e conhecemos o mundo criado pela artista, um mundo da tridimensionalidade.
Paulo Perdiz/MS
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