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Saber com quem sabe

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O primeiro alerta chegou já corria o mês de março – o Silicon Valley Bank entrou com um pedido de recuperação judicial, por ter sido obrigado a encerrar as operações, por falta de liquidez financeira que assegurasse o volume de depósitos. Rapidamente, o sistema regulador norte-americano acionou todo o processo, no sentido não só de garantir os depósitos até ao montante máximo coberto (250.000 dólares americanos), mas também de pôr “água fria” numa situação que poderia “aquecer” demasiado o sistema bancário e transformar-se numa crise mais profunda e de difícil resolução.

daniel correia - milenio stadiumA rapidez não impediu, no entanto, que outras instituições também necessitassem de recorrer a apoio do banco central, para evitarem males maiores. E com esta sequência de casos de crise em alguns bancos americanos e ainda num banco suíço (o Credit Suisse), o medo de que outra crise financeira à escala global, semelhante à que angustiou o mundo em 2007/2008, possa ocorrer ainda está no ar. Mas afinal, o efeito de contágio pode realmente acontecer? Nada melhor do que perguntar a quem sabe e Daniel Correia, Senior Investment Advisor do TD Wealth Private Investment Advise, explica-nos que tudo depende das decisões tomadas por cada instituição e fundamentalmente das medidas adotadas pelos gestores dos diversos bancos centrais – “cada instituição financeira toma as suas próprias decisões sobre a forma como utiliza os seus depósitos, cada uma delas é independente na sua tomada de decisões. A maioria dos casos de crise provém de problemas de liquidez com ativos e passivos não correspondentes, com ativos em imparidade. Com a crise financeira, os empréstimos não eram de boa qualidade. Como reserva federal, eles podem fornecer liquidez. Um banco central pode intervir num banco, quando este tem bons empréstimos, mas precisa de liquidez para lhes fazer face, e o banco central pode emprestar de forma a cobrir esses empréstimos. Há muitas coisas que estão a ser feitas pelos banqueiros centrais em todo o mundo para trazer de volta a confiança ao sistema”.

lena barreto - milenio stadiumJá Lena Barreto, experiente profissional do ramo financeiro, sublinha que “para compreender melhor se o que está a acontecer, atualmente, contribuiria para uma crise global, temos de olhar para o que aconteceu. Havia algumas razões para estas crises bancárias, mas a razão mais consistente é o contínuo aumento das taxas de juro. Tanto o Governo americano como o Governo suíço foram rápidos a assumir o controlo para minimizar as perdas potenciais para os clientes e minimizar o impacto económico. Embora o foco na redução da inflação seja ainda um objetivo primordial, tornou-se claro que os Governos devem agir com cuidado, pois têm uma dupla ameaça: estabilizar a economia e assegurar a manutenção de um sistema bancário estável. Embora seja difícil aceitar que isto aconteceu, é importante notar que o entendimento está lá para que a ameaça possa ser gerida”.

Perante a situação de crise económica que se está a viver em muitos países, ainda em consequência da pandemia que atacou o mundo e paralisou a economia e agora uma guerra que embora esteja a acontecer na Europa acaba por repercutir as suas consequências económicas à escala global, que em muitos países assume a forma de uma recessão ou pelo menos de estagnação, a pergunta que se levanta é – o que devem fazer os reguladores dos vários sistemas bancários para evitar a repetição de uma crise financeira/bancária como a de 2008? Daniel Correia realça que o quadro atual é diferente – “não nos encontramos na mesma situação que estávamos quando aconteceu essa crise financeira. Agora não se trata de uma questão de qualidade de ativos, é uma questão de liquidez. O que estamos a passar neste momento, ocorre nos bancos, não é invulgar. Pode acontecer. Não é a primeira vez, e o livro de jogo é relativamente consistente – os bancos centrais têm de intervir e fornecer liquidez, se necessário. Os EUA aprovaram Dodd Frank para evitar os mesmos problemas que ocorreram em 2008. Os depósitos para o Silicon Valley Bank foram garantidos pelo governo”. Pelo seu lado, Lena Barreto considera que “os reguladores governamentais precisam de apertar as regras sobre a forma como os bancos angariam capital e como investem e diversificam as suas carteiras de investimento. Uma das razões para a estabilidade do sistema bancário canadiano é que os bancos canadianos Chartered são altamente regulamentados com objetivos muito específicos, sendo a principal delas a proteção dos fundos dos depositantes. Igualmente importante, como mencionado anteriormente, é que os governos precisam agora de equilibrar a forma como irão baixar a inflação; e embora o aumento das taxas fosse o caminho, precisam agora de repensar a sua abordagem porque a estabilidade do sistema bancário global é extremamente importante para não termos uma repetição de 2007/2008. Tendo ouvido vários peritos que fazem referência a um mercado imobiliário arrefecido, uma queda nas taxas de desemprego, é altamente provável que uma recessão seja iminente, mas enquanto alguns peritos dizem que será suave, outros preveem algo um pouco mais severo, é difícil saber como é que desta vez em particular se vai desenrolar”.

Perante este quadro e para tranquilidade do cidadão que tem o seu dinheiro confiado a uma instituição bancária perguntámos quer a Daniel Correia, quer a Lena Barreto o que cada um de nós pode e deve fazer para se precaver. Daniel Correia respondeu-nos que “o cidadão médio canadiano deve estar ciente de algumas coisas. Em primeiro lugar, com que tipo de instituição estão a trabalhar. Os indivíduos devem saber mais pormenores sobre a qualidade, tamanho e força da sua instituição de crédito, ou selecionar 1, 2, ou 3 bancos. Em segundo lugar, precisam de compreender o seguro do depositante correspondente para a sua instituição financeira, para que estejam plenamente cientes da cobertura. Por último, a compreensão de que a poupança em geral deve ser vista como algo a curto prazo. A poupança a longo prazo deve ser classificada como investimento. Isto abre a oportunidade para uma nova diversificação dos ativos, mas também pode ser uma abertura a novos riscos. Recomendaria sempre a consulta de um profissional”.

Lena Barreto defende também que é fundamental recorrer a apoio profissional e lembra que “todos os canadianos que possam estar a enfrentar alguns receios, devem falar com a sua instituição financeira e descobrir que opções estão disponíveis para proteger as suas poupanças. Os bancos canadianos podem oferecer aos seus clientes uma variedade de opções e podem garantir depósitos detidos na instituição ao máximo como membro da Canada Deposit Insurance Corporation”. E reforça uma ideia fundamental “o sistema bancário canadiano é um dos mais seguros do mundo, se bem se lembra na crise bancária de 2008, os bancos no Canadá não exigiram nenhuma ajuda governamental. Os bancos canadianos Chartered são membros da Canadian Deposit Insurance Corporation (CDIC), uma agência governamental que assegura a proteção dos saldos de depósitos, todos os canadianos estão cobertos, e os detalhes desta cobertura podem ser obtidos contactando a sua agência local ou o CDIC. É importante notar que alguns investimentos não estão cobertos pelo CDIC e outros têm uma cobertura máxima. Falar com a sua instituição bancária ou contactar o CDIC é altamente recomendável”. Ainda a este respeito Daniel Correia reforça que “o seguro do depositante protege os depósitos canadianos até um montante específico. Se o canadiano coloca num banco uma quantia superior ao montante coberto, isto deve ser visto como um risco. Quando coloca dinheiro numa instituição financeira, está a emprestar dinheiro a uma empresa quando o deposita, e se o perder, isso deveria ter sido entendido como um risco. Esta não é uma relação única instituição financeira/cliente canadiano, a maioria das instituições financeiras globais operam da mesma forma. Se uma instituição falhar, e os ativos tiverem sido perdidos para além do montante coberto, eu procuraria consultar um profissional jurídico para aconselhar os próximos passos, caso existam”.

Conclusão – nestas questões, como em tantas outras na vida, o melhor mesmo é procurar saber com quem sabe. Perguntar não ofende e nada melhor do que perguntar tudo, esclarecer todas as dúvidas para não ser surpreendido. É que por mais sistema de controle e prevenção que existam, não há melhor guardião do nosso dinheiro do que nós próprios.

Madalena Balça/MS

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