Temas de Capa

Orgulho de ser português

 

Jorge Mouselo é atualmente presidente da direção do Centro Cultural Português de Mississauga, mas antes de assumir esse cargo já era um empenhado membro do clube e concretamente da direção, há muitos anos. É um exemplo, entre tantos outros, de dedicação à promoção de Portugal nesta Grande Área de Toronto. Ao contrário de outros clubes que, trabalhando para todos os portugueses, se dedicam mais à promoção de uma região (Beiras, Açores, Madeira, Minho, Alentejo…) o clube de Mississauga representa Portugal e é responsável por vários momentos altos do calendário anual de atividades comunitárias – Gala de Fado em homenagem a Amália Rodrigues, Carassauga, Community Spirit Award, só para referir alguns.

Nesta edição do jornal Milénio, em que tentamos perceber que cultura portuguesa estamos a promover e para quem, pareceu-nos da maior importância ouvir quem todos os dias está empenhado em manter viva a chama das atividades comunitárias, que afinal não deixam que a lembrança de Portugal se apague. Tal como outros clubes da nossa comunidade, o PCCM para além de tudo o resto, mantém a trabalhar uma escola de português que tem também a enorme responsabilidade de garantir que um dos principais elos de ligação a Portugal não se quebra – a língua portuguesa falada pelos lusodescendentes.
Para Jorge Mouselo o orgulho de ser português é o maior alicerce de todo o trabalho desenvolvido, com empenho e dedicação. Se não fosse assim… “nada faria sentido”.

Milénio Stadium: Estes 50 anos, foram anos de muita atividade, muita luta. A pergunta que lhe quero fazer agora é porquê? Como presidente de um clube português, qual é a mensagem que quer passar? O que é que quer transmitir? Porquê tanto trabalho?
Jorge Mouselo: É uma boa pergunta. Eu acho que o principal disto não é que eu queira dar uma mensagem a ninguém, o principal disto é de nós termos orgulho. Somos portugueses a viver no Canadá um país tão distante do nosso cantinho. E conseguirmos termos uma casa destas, em que temos um pouco de calor português, onde nós nos sentimos portugueses, nós sentimos que somos realmente portugueses, eu acho que é o maior orgulho. Esta é uma das razões para querer sempre mais, é por isso que tento puxar por isto o máximo possível. Ser português é o maior orgulho. E ver a malta que me acompanha, a juventude que me dá tanto apoio, ainda ajuda mais esse sacrifício ajuda mais este cansaço que se torna a alegria que se torna um orgulho. Porque nós temos que ser francos, não havendo orgulho, não há gente fazer isto por amor à camisola, por amor a nós. Nada disto fazia sentido, nada disto seria o mesmo.

MS: Estamos no mês de junho, o mês que, aqui no Canadá, é dedicado à herança cultural portuguesa. O que é que isto significa na prática?
JM: A gente faz tanta coisa por aqui que, se calhar, podemos dizer que comemoramos mais o Dia de Portugal do que os portugueses que vivem em Portugal. Eu penso que é a saudade que nos faz fazer isto. Eu penso que é o amor que nós temos à nossa pátria, porque é como tudo, quando estamos lá a viver, queremos sair de lá para fora, mas quando saímos de lá para fora queremos voltar. E é isso que eu vejo e sinto mais e mais por parte dos portugueses que vivem aqui. Não só por mim, mas por todos que me acompanham. E muita malta que vem aqui a esta casa porque eles sentem aquele calor, sentem aquele conforto português. Penso que é isso que faz com que nós celebremos a nossa cultura talvez mais do que lá em Portugal o fazem. É que nós sentimo-nos mais portugueses. É um orgulho enorme. Para mim não há palavras que me ajudem a explicar o que sinto, o quanto alegre e feliz sou por estar aqui e estar à frente de uma casa destas e ver tanta gente a querer celebrar e a querer fazer o mesmo que eu faço.

MS: A Parada de Portugal é um dos grandes eventos destas celebrações do mês de Portugal? Como português que sente tanto orgulho nas suas origens, pode dizer-me o que acha da Parada de Portugal, tal e qual ela se apresenta nas ruas de Toronto? Acha que é uma justa e digna celebração de Portugal?
JM: Podia ser muito melhor. Podia haver muito mais do que aquilo que há, infelizmente, são coisas que não estão no meu poder. Mas, infelizmente, acho que o que está a acontecer na Parada, de ano após ano, após ano, é que, infelizmente, cada vez está a morrer mais. E a gente vê bem, este ano foi uma coisa tão mais curta, começou muito mais cedo. Penso que para a comunidade que nós temos, para a força que nós temos, podia haver uma coisa muito mais forte, muito mais portuguesa do que aquilo que está.

MS: E em relação à promoção de Portugal – que Portugal e que nós estamos a promover aqui no Canadá? É o Portugal de há 60 anos atrás ou de há 70 anos atrás? Ou é o Portugal moderno, o Portugal de hoje? O que é que acha?
JM: Eu penso que é o Portugal de hoje. Eu tento celebrar o Portugal de hoje, porque é esse Portugal que nós temos que puxar, porque a verdade é uma, todos nós estamos a ficar mais, velhinhos ou com mais idade e se nós vamos nos concentrar muito no Portugal antigo, no Portugal dos 50, 60 e 70, a gente vai acabar por perder muito mais juventude do que estamos a perder hoje. Por isso, nós temos que nos concentrar um pouco, temos que nos juntar um pouco mais e celebrar esse Portugal nosso, esse Portugal de hoje, que é o Portugal que todo o mundo, não só portugueses, procuram. E se nós, portugueses, não o procuramos, se nós, portugueses, não o apoiamos, como vai ser? Não vamos deixar que sejam os estrangeiros a fazerem isso. É por isso que eu puxo muito por esse Portugal. Puxo muito este ano, e de agora para a frente, porque temos que apoiar os nossos jovens. Eles são o futuro, o nosso futuro, são o futuro deste clube, desta casa, da nossa cultura aqui no Canadá.

MS: Neste momento em Portugal têm sido registados casos de racismo ou intolerância relativamente aos imigrantes. Como imigrante a viver e trabalhar num país fora de Portugal, acha que o facto de nós nos juntarmos em grupo, de fazermos a nossa própria festa, de festejarmos a nossa cultura, podemos estar a criar ou poderíamos criar alguns problemas com outras etnias?
JM: Eu acho que o facto de nos juntarmos e nos sentirmos bem com os nossos é uma defesa nossa. Temos que ser honestos, Portugal é um país muito pequenino. Portugal é um país onde nós estamos habituados às nossas tradições. E estes imigrantes novos, estes imigrantes que estão a vir, estes imigrantes que estão lá hoje, infelizmente não só em Portugal, mas também no Canadá, chegam a estes países e querem mudar as coisas à sua maneira. Não é correto porque nós, imigrantes aqui no Canadá, chegámos aqui e tivemos que nos adaptar a este país. Tivemos que deixar as nossas tradições ou aquilo que estávamos habituados e tivemos que adaptar nós a este país. Eu acho que eles têm que fazer igual. O direito é para todos. Eu não sou contra a imigração, mas sim contra o eles quererem mudar as coisas, à maneira deles. E hoje em Portugal está-se a ver uma miséria, não só lá, por exemplo aqui no Canadá estamos a atravessar a mesma crise e veja o que aconteceu na França e outros países na Europa. Portugal tem que por os pés um bocadinho mais firmes, Portugal tem que se fazer um bocadinho mais forte sobre a situação. Penso que é isso que eles têm que fazer. E a imigração? Precisamos da imigração, precisamos todos, mas precisamos de uma imigração que venha para trabalhar, uma imigração que faça força para que o país cresça e se desenvolva. É caso para dizer, se vão para um país diferente, adaptem-se ao país que vos acolhe e não queiram obrigar o país a adaptar-se a eles.
MB/MS

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