ArtesonoraBlog

Paulo de carvalho “E depois do adeus”. A senha da revolução

 

NSS04338-scaled - paulo de carvalho

 

Paulo de Carvalho é um dos nomes mais importantes da história da música contemporânea portuguesa. Dois exemplos: fundou os Sheiks nos anos 60, um dos principais precursores do rock lusitano; a solo cantou “Depois do Adeus” no Festival da Canção, tema que viria a ser a 1ª senha da Revolução. 49 anos depois, Paulo de Carvalho conta a história da canção que “tinha alguns recados, mas era essencialmente uma canção de amor.”

Paulo, qual a palavra que mais define a tua carreira?
Epá!!! É complicado numa palavra só. Mas vamos dizer…. felicidade.

Fazias tudo de novo?
No modo geral, eu não gosto muito daquela gente que diz que fazia tudo da mesma maneira e que não se arrepende de nada do que fez. Havia coisas que eu logicamente faria de outra forma, não é?! Mas não tenho muita razão de queixa. Tenho tido uma vida profissional e pessoal muito boa. As coisas têm corrido bem, provavelmente porque eu também tenho algum mérito nisso. Mas o que é facto é que devo tudo isso ao público que gosta do que eu faço e que gosta de mim.

Que sentimento é que se sente ainda quando sobe ao palco? E agora até com uma orquestra por Portugal inteiro.
Tenho um gosto muito especial. Se as pessoas vêm é porque me querem ver e ouvir. Noites como a de hoje, sobretudo por causa desta maravilhosa orquestra quase de miúdos, ela toda dirigida pela maestrina Joana Costa, é muito especial. É muito bom cantar com eles, porque é gente muito mais nova que eu. Penso que todos eles com idade para serem meus filhos e alguns, se calhar até netos. Mas é muito bom. E também com os músicos que costumam tocar comigo. Portanto, trata-se de fazer música da melhor maneira, fazer música em conjunto, fazer música juntos. É para isso que a música serve para estarmos juntos e para mostrarmos aquilo que valemos. Portanto, subir ao palco é muito bom. É sempre muito bom quando nós sabemos que estão reunidas as condições para que possamos fazer bem o nosso trabalho.

Chegaste a dizer que no futuro não ias tocar tantas vezes temas como “E depois do Adeus”, “Nini Dos Meus Quinze Anos” …Porque dizes isso?
Sinceramente porque não me apetece, porque acho que já é demais. Acho que é uma espécie de, não direi vingança, porque o termo é feio, mas se eu só sirvo para a “E depois do Adeus” e para a “Nini Dos Meus Quinze Anos”, então acho que devo parar um bocado de os cantar. Tenho que dar a conhecer, mesmo contra mim, temas novos como ando a dar nos concertos. Têm sido, pelos vistos muito bem aceites, mesmo quando as pessoas não os conhecessem sequer.

O “Desculpem Qualquer Coisinha” foi um dos grandes êxitos do Paulo. Atualmente o panorama da música portuguesa precisa de discos como esse?
Eu penso que se faz muito boa música em Portugal, com uma certa ingenuidade ainda, mas faz se. Estamos à procura de caminhos. Quando eu digo estamos, estão os mais novos, eu sei qual é o meu. Faz-se muita música, existe gente a cantar maravilhosamente. Tenho alguma pena de que não leiam um bocado mais livros. Não se preocupam mais com a escrita das próprias canções que de um modo geral é muito fraquinha, mas estão a aprender o seu caminho e virão a fazer coisas muito boas, com certeza.

Onde é que estavas no dia 25 de Abril de 1974?
Estava à porta de um café que costumava frequentar, dentro de um carro que não tinha rádio. Portanto, tudo se passou e só soube no outro dia quando me bateram à porta. Os telefones tinham sido cortados, não havia telemóveis e às 13h00 bateram-me à porta a dizerem que tinha havido um golpe de Estado.

Como é que uma letra de uma música que fala de amor se torna um momento tão histórico?
Eu já contei essa história várias vezes. Foi um acaso, porque efetivamente quem estava para servir com toda a justiça era o “Venham mais Cinco” do Zeca. Só que era demais. Havia a PIDE, havia a censura. Isso podia trazer graves problemas a quem decidisse fazer isso. Portanto, decidiram que a música representante da RTP nesse ano no Festival da Eurovisão, era uma música que podia fazer sentido, para o começo dessa revolução. Foi isso que aconteceu. A história é efetivamente essa, ainda que muita gente, até em filmes, a falseiam um pouco. Isto não começou como devia ter começado, que era com o grande José Afonso. Mas não foi assim. A história não foi essa e às vezes falseiam a história. A história começou com o “E Depois do Adeus”. Mas como é que a música fez história? que. As 4 primeiras frases do poema, “Quis saber quem sou, O que faço aqui, quem me abandonou, de quem me esqueci”- Tudo isto são bocados de cartas que o José Niza, autor da letra, escrevia à mulher, quando estava na guerra do Ultramar, em Angola. A cantiga já dizia qualquer coisa. Nós protestava-mos nas entrelinhas na altura. E foi isso que aconteceu.

Naquele tempo, o Festival da Canção abriu novas maneiras de compor e de escrever em Portugal?
Eu penso, que eu faço parte de uma geração, mas não sou só eu. Somos um pouco filhos do Festival da Canção e trouxemos uma nova forma de fazer música ligeira à música portuguesa. Assim como o Zeca Afonso, e quem veio e quem estava ao lado dele, fizeram ou deram um incremento enorme à música popular portuguesa. Nós fazíamos mais uma música mais ligeira, vamos dizer assim, não tão culturalmente tão importante, mas muito importante em termos musicais. E se penso que sim… era uma música mais internacional, sendo portuguesa, era isso que fazíamos e que era a nossa linha.

Paulo obrigado por esta pequena conversa e convido-te agora a deixar uma mensagem para a nossa comunidade portuguesa no Canadá.
Olha, eu não vou para lá há muito tempo. Tenho muitas saudades. Adoro o Canadá. Não talvez o Canadá dos portugueses agora, que é muito mais difícil do que aquele Canadá que eu conheci há uns anos. Esse era mais fácil, vivia-se melhor. Mas de qualquer forma, isso não impede que eu não tenha saudades do Canadá. Deixo-vos aquilo que eu costumo deixar sempre, que façam o que quiserem e o que puderem da vossa vida, mas fundamentalmente, que tenham muita saúde. Sem isso não vale a pena. Grande abraço.

Paulo Perdiz/MS

Redes Sociais - Comentários

Artigos relacionados

Back to top button

 

O Facebook/Instagram bloqueou os orgão de comunicação social no Canadá.

Quer receber a edição semanal e as newsletters editoriais no seu e-mail?

 

Mais próximo. Mais dinâmico. Mais atual.
www.mileniostadium.com
O mesmo de sempre, mas melhor!

 

SUBSCREVER